[weglot_switcher]

Ataques pessoais, insultos e constantes interrupções marcam primeiro debate entre Trump e Biden

Naquele que foi provavelmente o pior debate presidencial de todos os tempos, Biden chamou “palhaço” a Trump, que por seu lado alegou que o filho do candidato democrata foi expulso do exército por consumir cocaína além de receber “dezenas de milhões de dólares” de estrangeiros.
  • Debate Donald Trump e Joe Biden
30 Setembro 2020, 04h55

O primeiro debate entre os candidatos presidenciais norte-americanos Donald Trump e Joe Biden ficou marcado por uma sucessão de ataques pessoais, insultos e interrupções – quase sempre do lado do presidente em busca de reeleição, que a certos momentos exasperou o opositor democrata e o moderador, Chris Wallace – que deixaram para segundo plano os temas em discussão num debate em que foi admitido que, devido ao número de boletins de voto enviados por via postal, o vencedor das eleições de 3 de novembro poderá demorar “dias, semanas ou meses” até ser conhecido.

A esse propósito, Biden disse que irá aceitar o resultado “quando todos os votos forem contados”, esperando tornar-se o 46.º presidente dos Estados Unidos, enquanto Trump apelou aos seus apoiantes que “vão aos locais de escrutínio e estejam atentos”, dizendo esperar “que seja uma eleição justa” ao mesmo tempo que alertava que não poderia aceitar o resultado “se houver dezenas de milhar de boletins de votos a ser manipulados” e admitiu recorrer ao Supremo.

O debate transmitido pela Fox News teve um nível de animosidade que superou as piores expectativas, sendo provavelmente a primeira vez que um candidato presidencial norte-americano comparou o rival a um profissional de artes circenses, o que sucedeu quando Biden comentou a Chris Wallace que “era impossível dizer seja o que for com este palhaço”. Mais tarde, num momento em que o ex-vice-presidente de Barack Obama tentava falar do seu filho Beau, já falecido, que prestou serviço militar no Iraque, Trump referiu-se ao outro filho de Biden, Hunter, alegando que foi expulso do exército por consumir cocaína e repetindo que recebeu “dezenas de milhões de dólares” por motivos indecifráveis, nomeadamente da mulher do presidente da câmara de Moscovo.

Realizado em Cleveland, no estado do Ohio, o debate arrancou com a nomeação da juíza Amy Coney Barrett para o Supremo Tribunal dos Estados Unidos, tendo o presidente em busca de reeleição dito que “as eleições têm consequências”, pelo que quem controla a Casa Branca e o Senado tem direito a fazer a nomeação, enquanto Biden retorquiu que “estamos a meio de uma eleição” e “deveríamos esperar pelo resultado”.

A partir daí a discórdia no primeiro dos três debates presidenciais previstos entrou em crescendo, com acusações cruzadas quanto ao sistema de saúde, à gestão da pandemia de Covid-19 – “se estivesses aqui teriam morrido dois milhões de pessoas”, disse Trump a Biden, que também demorou pouco tempo até dizer que “toda a gente sabe que ele é um mentiroso” e “o pior presidente da História dos Estados Unidos”.

“Apanhaste o tipo errado na noite errada”, disse também o antigo vice-presidente, que suportou melhor do que alguns dos seus apoiantes esperavam os constantes ataques do atual presidente. “Fiz mais em 47 meses do que tu em 47 anos”, repetiu várias vezes Trump, procurando repetidamente colá-lo à ala mais à esquerda do Partido Democrata em questões de segurança e ambiente.

A reabertura da economia foi um dos pontos mais fortes do presidente norte-americano, acusando o rival democrata de “querer destruir o país” ao impedir uma recuperação que está a ser mais rápida do que se antecipava, enquanto Biden apontou a Trump o ónus de “ser o primeiro presidente dos Estados Unidos que vai sair da Casa Branca com menos empregos do que encontrou”.

No que toca aos protestos raciais e à violência policial, Trump desafiou Biden, dizendo que “as pessoas querem lei e ordem e tu tens medo de falar nisso” para não perder apoios de radicais de esquerda. O candidato democrata referiu-se à “injustiça sistémica” existente nos Estados Unidos e acabou por dizer que a “violência nunca é apropriada” e que “a vasta maioria dos polícia são bons homens e boas mulheres”, mas ficou em silêncio ao ser desafiado pelo presidente a apontar um único grupo ligado à polícia que apoie a sua candidatura.

Muito criticada foi a expressão “afastem-se e fiquem por perto” [“stand back and stand by”] que Donald Trump utilizou para um grupo de extrema-direita quando foi desafiado a condenar os supremacistas brancos, preferindo referir-se à ameaça de extrema-esquerda dos Antifas e à inação do presidente de câmara e governador democratas de Portland e do Oregon perante os motins que se prolongam desde há vários meses.

Dirigindo-se várias vezes aos telespectadores, Joe Biden disse que os norte-americanos deverão votar nele porque ao longo do mandato de Trump “ficámos mais fracos, mais doentes, mais pobres, mais divididos e mais violentos”, enquanto o atual presidente destacou “a melhor economia de sempre, com os números mais baixos de desemprego”, interrompidos pela pandemia a que voltou a chamar “praga da China”.

Para o final ficaram as alterações climáticas, com Biden a garantir que os Estados Unidos voltarão a subscrever o Acordo de Paris se for eleito, enquanto Trump colocou ênfase na conciliação entre “ar e água puros” e “não destruir as nossas empresas”. E, depois de responsabilizar a má gestão florestal pelos incêndios que têm consumido enormes partes de estados como a Califórnia, acusou o candidato democrata de ser um apoiante do New Green Deal, ao qual o atual presidente atribuiu um custo de 100 biliões de dólares, levando Biden a negar três vezes seguidas que apoie o plano defendido pela ala esquerda do Partido Democrata, mesmo que isso tenha sido imediatamente disputado.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.