Nos últimos anos, Portugal tem assistido à saída em série de jovens quadros altamente qualificados e em cuja formação o país investiu e muito. No período da troika – e mesmo depois – foram milhares os que optaram pela emigração, uns porque perderam os seus postos de trabalho, outros porque não conseguiram encontrar as oportunidades de emprego com a qualidade pretendida ou nas suas áreas de formação.

Foram tempo difíceis para estes emigrantes forçados, mas também para o país que assistiu, impotente, a esta debandada de talento. Infelizmente, ainda hoje sofremos o impacto desta saída, porque na verdade muitos ainda não regressaram e muitos continuam a querer partir. Razão mais do que suficiente para olhar e refletir, de forma racional e transversal, sobre os investimentos necessários na formação e educação.

O ponto de partida terá que ser necessariamente identificar os motivos pelos quais aconteceu esta fuga de cérebros. E eles estão à vista de todos: estes portugueses emigraram por manifesta falta de emprego e de salário suficiente. Foram em busca de melhores oportunidades profissionais, rendimentos mais elevados, posições menos precárias. E estarão agora reunidas estas condições para que aconteça um regresso destes portugueses?

Todos temos noção de que o PIB português, ou melhor, o crescimento económico é fortemente penalizado no seu desempenho pela permissividade com que encarámos a exportação de talento. Sobram exemplos de cidadãos portugueses que venceram lá fora por falta de oportunidades cá dentro. Muitos homens e mulheres da economia, das finanças, das artes plásticas, da arquitetura, da literatura, do desporto e da moda romperam fronteiras e são hoje nomes reconhecidos em todo o mundo pelo seu talento.

Apesar da (tímida) tendência decrescente, nos últimos quatro anos emigraram cerca de 360 mil portugueses (dados da Pordata: 101.2013 em 2015, 97.151 em 2016, 81.051 em 2017 e 81.754 em 2018), números que contrastam com os cerca de 260 mil que emigraram entre 2008 e 2014, sete anos que incluíram o difícil período da troika.

Por que razão os jovens continuam a emigrar e a não querer voltar? A evolução e segurança profissional, as condições de retribuição remuneratória, a estabilidade política e a possibilidade de poupança estão seguramente entre os principais fatores que motivam a decisão, bem como o desejo de seguir um sonho e sentir-se valorizado e recompensado.

Este é um problema que afeta o nosso crescimento, e que, com a baixa natalidade e o envelhecimento da população, se torna explosivo. É preciso não esquecer que Portugal tem a segunda taxa de natalidade mais baixa entre os 28 Estados-membro da UE e é o sexto país mais envelhecido do mundo, encontrando-se num retrocesso populacional que só encontra paralelo na década de 60.

Com a emigração e os problemas demográficos (o número de idosos já ultrapassa o número de crianças!), a renovação de gerações está comprometida. Se nada for feito e este tema não for enfrentado de forma eficaz, nos próximos 50 anos Portugal terá uma redução de cerca de 30% da sua população, sensivelmente acima dos sete milhões de habitantes.

Falta-nos ativos, falta-nos talento, falta-nos coragem política para combater este problema. No imediato, o impacto da redução da população sobre o crescimento económico tem, forçosamente, de ser compensado com um aumento da produtividade e do emprego. E é também claro que, para corrigir estes défices demográficos e emigratórios, Portugal necessita de lançar um plano verdadeiramente ambicioso de criação de incentivos, do ponto de fiscal e de capitalização económica, para obter o crescimento necessário que assegure o futuro das próximas gerações. O futuro de Portugal.