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“Avenida da Liberdade, N.º 1”

Marinheiro por opção e apaixonado por literatura, Luís Serpa mantém o blogue Don Vivo, onde verte tudo o que lhe vai na alma, na memória, na estante, ou passa pela garrafeira. Para ler sem pressa.
Marta Teives
1 Fevereiro 2020, 10h38

 

“Deixa-se arrefecer lentamente – se necessário, soprar com os alíseos, com a nortada, com o ‘meltem’, com um sudoeste na Gasconha, com a tramontana, com as tuas mãos nas minhas costas, com um passeio ao longo do Rift, com um ‘whisky’ ao pôr-do-sol, com o choro de uma criança que nasce ou o riso de outra que cresce, com uma evacuação de urgência debaixo de fogo, com uma festa à vida num planalto do Burundi, com uma cena de pancadaria num Porto do Mar Negro, com os cânticos de Hildegarde von Bingen, a 2.ª sinfonia de Mahler, o trompete de Miles Davis, os madrigais de Gesualdo, com os poemas de Pedro Tamen ou um romance do Thomas Pynchon, uma lagosta grelhada numa praia das Grenadines”.

Desde dezembro de 2003 que Luís Serpa (Lisboa, 1957) mantém o blogue Don Vivo, onde verte o que lhe vai na alma, na memória, na estante, ou passa pela garrafeira. Marinheiro por opção e um apaixonado por literatura, tem andado por aí, entre viagens por lazer e outras em trabalho.

Começou a praticar vela aos 11 anos em Quelimane, Moçambique. Deu a volta ao mundo num graneleiro que quase afundou no mar do Japão, andou na cabotagem num cimenteiro na costa venezuelana e nas Caraíbas, andou à pescada na Namíbia e fez a sua última viagem na marinha na última viagem do N/M LEIXÕES, Lisboa – Nacala e volta.

Em 1994 resolveu deixar o mar e os barcos e foi enviado pelo ACNUR para o Burundi. Foi durante o genocídio do Ruanda e, diz, provavelmente o ano mais intenso da sua vida. Em 2010 voltou ao mar, o único meio no qual é recebido de braços abertos. Andou pelas Caraíbas, pelo Mediterrâneo, Brasil, Panamá, atravessou o Atlântico mais quatro vezes e agora está em Palma de Maiorca desde 2018 por causa de uma embarcação de vela chamada PANDA pela qual se apaixonou, apesar de todas as promessas feitas a si próprio de que isso nunca mais voltaria a acontecer.

Espera um dia estabelecer-se simultaneamente em Mértola, em Lisboa, em Palma e em Genebra e nos intervalos ir a Jost van Dyke beber painkillers, a S. Luis do Maranhão ver os amigos que lá deixou e tanta falta lhe fazem e a Bocas del Toro porque sim. Continua maravilhado com tudo o que vê, vive, sonha e ama, coisa que um espírito mais sóbrio atribuiria sem dúvida a um excesso de ingenuidade e ele também.

“Avenida da Liberdade, N.º 1” é editado pela Bookbuilders, uma chancela da Letras Errantes, e reúne uma seleção de textos do blogue, escritos entre 2003 e 2007, sendo a sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante.

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