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Aviões no Montijo aceleram venda da Lusoponte pela Teixeira Duarte

Construtora colocou à venda 7,5% na concessionária das pontes, esperando a valorização do ativo após decisão do Governo sobre o novo aeroporto.
10 Março 2017, 07h32

A Teixeira Duarte (TD) colocou à venda a posição de 7,5% que detém na estrutura acionista da Lusoponte, concessionária das duas pontes sobre o Tejo na área metropolitana de Lisboa, soube o Jornal Económico junto de fontes ligadas ao processo. A decisão do Governo em escolher o Montijo para o futuro aeroporto de apoio à Portela fez acelerar a decisão da construtora nesta altura, soube o Jornal Económico, uma vez que a transformação da base aérea do Montijo em aeroporto com fins civis irá aumentar de forma significativa o tráfego na ponte Vasco da Gama e, dessa forma, valorizar as posições acionistas detidas na concessionária.

Num momento em que o mercado nacional de concessões rodoviárias tem estado muito dinâmico, com sucessivas mudanças de donos, poderá haver diversos interessados neste ativo, mas os restantes accionistas da Lusoponte terão sempre a prerrogativa de exercer o direito de preferência. O maior acionista da Lusoponte é a Mota-Engil, com 38% do capital, mas o Jornal Económico sabe que o grupo liderado por Gonçalo Moura Martins e por António Mota não está comprador desta posição da TD, embora pretenda manter a sua posição na concessionária das pontes 25 de Abril e Vasco da Gama, que vai até 2030.

O outro grande acionista da Lusoponte é o grupo francês Vinci, com uma posição de 37%. Se for a jogo, a Mota-Engil deixará de ser o maior acionista da Lusoponte. Além do grupo francês, que também é o concessionário dos aeroportos nacionais geridos pela ANA, o outro acionista da Lusoponte é a Atlantia, grupo italiano que descende da antiga Autostrade. Este parece ser o único ativo do grupo transalpino em Portugal, que nunca foi considerado um mercado estratégico para a Atlantia, pelo que são mais remotas as hipóteses de ser este o grupo comprador da posição da TD na concessionária das duas pontes.

Se não vender a sua posição dentro do círculo de membros da atual estrutura acionista da Lusoponte, a construtora liderada por Pedro Maria Teixeira Duarte terá de negociar esta alienação fora deste grupo, sabendo-se que neste momento, a nível internacional, existe muita liquidez e apetência por este tipo de participações acionistas, mesmo que se trate de uma posição acionista minoritária. Além de ‘private equities’, têm demonstrado grande dinamismo neste mercado, os fundos: de investimento,  de pensões e soberanos.

A decisão de venda da posição da TD na Lusoponte não surpreendeu o mercado. Além de ter vendido recentemente ativos noutras áreas, como a  energia, já em 2008, a empresa havia destacado no relatório e contas relativo ao primeiro semestre desse exercício, a intenção de alienar esta participação. Seria uma forma de minorar as perdas que a construtora começava na altura  a avolumar devido às imparidades registadas no BCP. E desde aí, a TD, nos relatórios e contas dos vários exercício até 2015, sempre registou contabilisticamente este ativo na rubrica de ‘Outros Investimentos’, ‘Ativos financeiros para venda’, tendo sido contabilizado entre 5,456 e 5,606 milhões de euros. Nesses relatórios, a TD explica que “esta rubrica inclui, essencialmente, investimentos em instrumentos de capital próprios que não têm um preço de mercado cotado e cujo justo valor não pode ser fiavelmente mensurado”, acrescentando que estes ativos estão avaliados “pelo seu custo de aquisições”.
Embora em rota descendente, o Jornal Económico apurou que a TD tem encaixado dividendos da concessionária das pontes todos os anos, de 2010 a 2015, único período de que existem relatórios e contas disponíveis no site oficial da construtora. Um total de 3,172 milhões de euros em seis anos.

Em 2008, quando ocorreu a última mudança acionista na Lusoponte, a Mota-Engil pagou 88 milhões de euros para adquirir aos australianos da MacQuarie uma posição de 24,19% no capital da Lusoponte. Se aplicássemos esse valor à posição da TD na concessionária, estaríamos a falar de cerca de 27,3 milhões de euros. Mas já passaram 10 anos, com a inerente inflação, além da decisão do aeroporto do Montijo ter valorizado de forma significativa este ativo.

Em 2015, último ano de que existem dados disponíveis, segundo a APCAP – Associação Portuguesa das Sociedades Concessionárias de Autoestradas ou Pontes com Portagens, a Lusoponte teve um tráfego médio diário de 76.374 veículos, gerando uma receita de 76,4 milhões de euros.

Até ao fecho da edição não foi possível obter um comentário da TD.

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