A discussão esteve muito focada em temas como o regresso à rentabilidade, os novos canais de distribuição e o papel da supervisão (ver páginas 14 a 17 desta edição do JE).

Por um lado, está o legado de décadas de uma gestão que, em vários bancos, não se pautou pelas melhores regras de prudência ou, como bem referiu Paulo Macedo, de honestidade. Em resultado dessa gestão, os bancos portugueses acumularam créditos malparados no valor de 30 mil milhões de euros, esbanjando o equivalente a três anos de poupanças do país. O valor é tão elevado que custa a entender. Trinta mil milhões. A maioria das guerras custa menos que isso.

Este legado tem sido lentamente digerido ao longo dos últimos sete anos, penalizando os resultados dos bancos portugueses.

O regresso de alguns bancos aos lucros, nos últimos tempos, gerou a ilusão de que o problema estaria resolvido. Mas não só não está (ainda há muitos desses créditos nos balanços da banca), como a retoma do crédito poderá estar já a criar as condições para o surgimento dos “bancos maus” do futuro.

Mais até do que estar na dianteira da inovação tecnológica e das novas formas de prestar serviços financeiros (fintech), o grande desafio da banca será empreender um regresso aos seus fundamentos, um back to basics, que lhe permita manter um modelo de negócio saudável, com uma análise de risco eficaz, que leve as instituições a não correrem mais riscos do que aqueles que decorrem da normal atividade bancária. A dificuldade está em conseguir fazê-lo sem matar o negócio. Para isso, os bancos têm de conseguir conhecer os seus clientes e o potencial dos seus projetos, indo além da frieza dos números e vendo para lá das aparências. Um bom analista de risco pode criar mais valor, a prazo, do que uma tecnologia inovadora.