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BAE Systems contra a Navantia: e se, afinal, o Brexit ajudar a ganhar contratos?

A empresa britânica BAE Systems impôs-se à espanhola Navantia na corrida a um megacontrato com a Marinha australiana, no valor de 22 mil milhões de euros. O Brexit ajudou à decisão.
2 Julho 2018, 07h35

As ligações entre o Reino Unido e a Austrália são antigas e sólidas, mas quando o negócio é números, os decisores costumam optar pela crueza dos números, em detrimento das melhoras páginas da História – por muito significativas que elas sejam.

Ou então não, se se observar este caso, que pode vir a ser exemplar: a Marinha australiana abriu um concurso internacional para a construção de nove fragatas antisubmarinos e o grupo escolhido foi o britânico BAE Systems, que assim venceu a apertada concorrência dos espanhóis da Navantia.

Qual a razão da vitória? O Brexit, segundo Michael Shoebridge, analista do Instituto de Política Estratégica, um organismo australiano de pesquisa e análise. Para aquela entidade e para além do facto de a cooperação entre o Reino Unido e a Austrália na áreas da defesa ser antiga, “há também muitas emoções em torno do Brexit, o que pode ter desempenhado um papel importante“ no desfecho do negócio.

Para aquele organismo australiano, o facto de o Brexit ser apontado como uma espécie de guerra entre Bruxelas e Londres – com a capital da União Europeia a tentar ser o mais eficiente possível em termos de convencer os britânicos de que estão a fazer um enorme disparate – fez com que a Austrália assumisse uma solidariedade que está para além dos números.

É um fator a levar em consideração: com o Brexit, o Reino Unido está como que sozinho num mundo onde se habituou à cómoda vizinhança de mais 27 parceiros. E essa solidão – que todos dizem vir a ser desastrosa para a economia britânica, para os empregos britânicos e para o crescimento britânico – pode ser a chave da solidariedade internacional.

Claro que os países da Commonwealth têm todo o interesse em apoiarem o Reino Unido neste tempo de divórcio litigioso, mas, para o analista australiano, estas movimentações em torno da solidariedade para com os britânicos podem acabar por favorecer a sua economia. Se isso é ou não verdade ainda é muito cedo para se saber, mas o negócio da Marinha australiana pode ser a primeira pista para algo que talvez não estivesse na agenda dos negociadores da União Europeia.

Ou, dito de outra forma: em muitos aspetos da economia global, nomeadamente no que tem a ver com os concursos internacionais nas mais diversas áreas, a União Europeia ganhou um concorrente de peso: o Reino Unido.

A construção das nove fragatas vai custar aos cofres do erário australiano 35 mil milhões de dólares australianos (cerca de 22 mil milhões de euros) e irá criar no Reino Unidos cera de quatro mil postos de trabalho.

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