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Baixa de Lisboa vai ganhar espaço pedonal do tamanho do Jardim da Estrela

Menos carros, mais transportes públicos e mais pessoas. Assim vai ser o centro de Lisboa a partir de agosto.
31 Janeiro 2020, 15h13

A imagem para muitos é de tempos antigos mas outros não chegaram a conhecer vários carros estacionados no que é hoje a rotunda dos Restauradores e a praça central do Terreiro do Paço. Hoje, com algumas ruas interditas a veículos motorizados, a imagem vai ficar cada vez mais longe da mente.

Em 2020 vão ser criadas mais avenidas encerradas ao trânsito de veículos, dando prioridade ao acesso pedonal. As Zonas de Emissões Reduzidas (ZER) foram apresentadas em 2011 e 2012 na cidade de Lisboa, mas vão agora ser alargadas para a zona da Baixa-Chiado, Avenida da Liberdade e do Martim Moniz, bem como algumas áreas envolventes aos principais centros.

“Este é um dos projetos mais importantes deste mandato da Câmara Municipal de Lisboa (CML)”, apontou o presidente da CML, Fernando Medina. Esta, adiantou Medina, é uma proposta de mudança de como a cidade de Lisboa vai passar a ser vivida e usufruída por quem é da cidade e de quem a visita.

Com as alterações que a autarquia lisboeta quer implementar no centro da cidade, vão ser reduzidos 40 mil lugares de estacionamento, o equivalente a 40% dos lugares que existem atualmente na zona que vai ser remodelada. Estes mesmos lugares que vão desaparecer significam uma redução de 60 mil toneladas de CO2, um passo significativo na redução da poluição.

A autarquia quer zonas mais pedonais para os cidadãos, e a zona central da cidade vai ganhar o equivalente a 4,6 hectares (46 mil metros quadrados) de espaço totalmente pedonal, sendo este valor o mesmo que o Jardim da Estrela. Baixa-Chiado, Avenida da Liberdade e Avenida Almirante Reis vão ser totalmente reformuladas.

Somente do Marquês de Pombal do rio, na Avenida da Liberdade e Restauradores, vão ser criados 7,5 quilómetros de rede ciclável e toda a avenida vai ser transformada ao trânsito. Se agora a circulação ocorre no meio da via e os peões ficam na periferia, o mesmo vai mudar e os peões vão passar a andar pelo meio da avenida.

O transporte público, segundo Fernando Medina, vai ser o grande aliado da autarquia que o detém. “Diariamente entram 100 mil veículos nesta zona, que é a área bem mais servida por transportes públicos”, destaca o presidente. Atualmente, 80% dos transportes que circulam na cidade têm ligação à zona da baixa, sendo a zona abastecida por duas linhas de comboio, duas linhas de metro, duas ligações fluviais, 15 autocarros da Carris, dez praças de táxis e mais de cinco mil lugares de estacionamento.

Ao sublinhar o exemplo de Londres, que aplica uma taxa à entrada de veículos no centro da cidade, Fernando Medina explica que “os exemplos internacionais são bons para inspiração mas maus para cópias” porque cada centro urbano é diferente. A Avenida da República, que muitos consideravam uma má transformação, “tem sido um sucesso”.

“Todas as intervenções estão pensadas em articulação”

São três zonas centrais a ser alvo de intervenção e vão estar todas articuladas entre si para um melhor funcionamento.

Rua Nova do Almada, Rua Garrett e Largo do Chiado vão passar a ser unicamente de circulação pedonal. A Avenida da Liberdade e o Marquês de Pombal vão ver o número de carros diminuídos, os sentidos de trânsito alterados e o nascimento de ciclovias unidirecionais.

Apesar de ter mostrado o antes e depois do projeto, Fernando Medina esclarece que “o projeto final não é este. Esta é apenas uma ideia”. Só no mês de fevereiro é que vão começar a decorrer as reuniões entre juntas de freguesia, moradores, comerciantes bem como na Assembleia Municipal.

“Nós precisamos mesmo destas alterações. Precisamos de uma cidade mais amiga das pessoas, dos lisboetas e dos turistas”, disse Medina, acrescentando que a cidade deve ser mais humana e com mais qualidade de vida.

Segundo o presidente autárquico, o plano vai ser enviado para consulta pública em março, sendo que a Polícia vai proceder às mudanças ainda no mês de maio para que em agosto o plano entre em ação.

Condicionamento ao trânsito

Carros só elétricos, esclareceu Medina, e para residentes. O acesso à baixa lisboeta será reservado a veículos autorizados (que terão um dístico especial), entre as 6h30 e meia-noite, sendo o mesmo garantido apenas a moradores, comerciantes, cuidadores, veículos elétricos, táxis e motociclos.

As plataformas TVDE que pretendam circular nesta zona terão de ser unicamente elétricos. A CML estima que estas regras restritas eliminem perto de 250 lugares de estacionamento, que serão distribuídos pelos moradores. Uma novidade é que a CML vai disponibilizar dez lugares de visitantes aos moradores por mês, que deverão ser requisitados através de uma plataforma.

Nesta zona vai ser ainda proibida a circulação a veículos com datas anteriores ao ano de 2000 devido às emissões de partículas finas.

Qual a delimitação das zonas?

A ZER abrange as freguesias de Santa Maria Maior, Misericórdia e Santo António, e vão ser delimitadas pela Calçada da Glória, Praça dos Restauradores e Praça do Martim Moniz na parte norte e pelo Cais do Sodré, Rua Ribeira das Naus, Praça do Comércio e Rua da Alfândega na parte sul.

A zona é ainda delimitada na parte nascente pela Rua do Arco do Marquês de Alegrete, Rua da Madalena e Campo das Cebolas. A poente, por sua vez, vão ser delimitadas pela Rua do Alecrim, Rua da Misericórdia, Rua Nova da Trindade e pela Rua de São Pedro de Alcântara, onde só vão passar os elétricos da Carris e peões.

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