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“Baixas remunerações afastam jovens da carreira militar”, admite Almirante Silva Ribeiro

Forças Armadas precisam de 30 mil a 32 mil militares, mas só têm cerca de 27 mil porque as condições de entrada não atraem os jovens, comentou o Almirante António Silva Ribeiro. Nos três ramos das Forças Armadas, o desgaste dos efetivos é notório porque são mobilizados permanentemente devido à falta de militares, alertou o Almirante ontem à tarde em Lisboa, na sede da SEDES, durante a apresentação do tema “As Forças Armadas no século XXI: Perspetiva Estratégica”.
  • Cristina Bernardo
14 Maio 2019, 07h44

Há falta de militares em Portugal. A afirmação foi ontem feita em Lisboa, na sede da SEDES pelo Almirante Silva Ribeiro, explicando que as baixas remunerações estão entre as razões que dificultam a renovação das carreiras militares. Contudo, essa “limitação” das Forças Armadas não afetou a qualidade das missões militares portuguesas. Silva Ribeiro citou o exemplo da intervenção dos 200 militares portugueses na República Centro-Africana – para onde foram mobilizados 11 mil militares de diversos países -, para evidenciar a qualidade do exército português, pois “as chefias que acompanham as operações militares locais admitem que foram precisamente estes 200 portugueses que fizeram a diferença e permitiram alcançar uma trégua na guerra” que afectava este país deste 2012.

Esta situação concreta foi ontem referida na sede da SEDES em Lisboa, durante a apresentação que o Almirante Silva Ribeiro – que é Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas – fez no âmbito dos eventos “Fim-de-tarde com quem sabe na SEDES”, para ilustrar a elevada qualidade das Forças Armadas portuguesas. Mesmo assim, a alta qualidade da formação dos militares portugueses e o seu mérito operacional, por si só, “não atraem os jovens para a vida militar porque há outros factores que os afastam das carreiras no Exército, na Marinha e da Força Aérea, entre as quais estão as baixas remunerações e as desconfortáveis condições de habitabilidade das instalações militares”, reconheceu o Almirante.

Atualmente, os três ramos das Forças Armadas têm cerca de 27.087 militares, o que constitui um número francamente inferior às necessidades exigidas pela atividade militar e pelas operações em que os portugueses participam no âmbito das responsabilidades internacionais assumidas pelos três ramos das Forças Armadas. O Exército tem 13.122 militares, a Marinha 8.011 e a Força Aérea tem 5.954 militares, segundo dados divulgados este semana pelo Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA). Para o Almirante Silva Ribeiro, este universo de efetivos militares provoca um excesso de mobilização em todas as unidades militares, causando um grande desgaste em qualquer dos três ramos das Forças Armadas. “São precisos entre 30 mil e 32 mil militares, mas a vida militar não tem atraído os jovens, sobretudo pelas baixas remunerações praticadas”, reconhece o Almirante.

A questão do reduzido número de efetivos militares é tanto mais relevante quanto as solicitações propostas às Forças Armadas portuguesas tem vindo a aumentar a nível internacional, atendendo a que Portugal está envolvido em operações “de natureza diversa no mar, em terra, no ar e no ciberespaço”, como refere o EMGFA. Para as situações de forças nacionais destacadas em missão no estrangeiro em 2019, há a previsão de mobilização “de 2375 militares empenhados em operações da União Europeia, da Nato, da ONU e de acordos bilaterais e multilaterais na Colômbia, no Golfo da Guiné, em São Tomé e Príncipe, no Mali, na República Centro-Africana, na Somália, na Jordânia, no Iraque, no Afeganistão, no Mar Mediterrâneo, em Espanha (Rota), no Kosovo, na Roménia, na Polónia, na Lituânia, no Mar Báltico e no Mar do Norte”, referiu o Almirante Silva Ribeiro.

Depois da apresentação feita ontem pelo Almirante António Silva Ribeiro – que é Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas – sobre o tema “As Forças Armadas no século XXI: Perspetiva Estratégica” na sede da SEDES, em Lisboa, e que teve o Jornal Económico como media partner, os responsáveis da SEDES, Gustavo Guimarães e João Duque colocaram questões a Silva Ribeiro, juntamente com o político centrista José Ribeiro e Castro, o ex-ministro da Indústria e Energia, Luís Mira Amaral, o economista João Salgueiro, o gestor Alexandre Patrício Gouveia e o ex-presidente da Autoridade da Concorrência, Manuel Sebastião, entre outras pessoas que foram ao evento. O Jornal Económico publica na próxima edição semanal a entrevista ao Almirante Silva Ribeiro. Seguir-se-á, a 27 de maio, o debate do tema “Economia Portuguesa” na sede da SEDES, em que será orador o economista Vítor Bento.

Presidida pelo professor universitário João Duque, a SEDES é a mais antiga associação cívica portuguesa, fundada em 1970 por elementos com formações académicas e atividades profissionais muito diversas. Além de João Duque, integram a direção da SEDES, Alexandre Patrício Gouveia, Álvaro Beleza, Carlos Alves, Gustavo Guimarães, José Ribeiro e Castro, Maria João Louro e Rui Paiva.

Recorda-se que na génese da SEDES esteve a vontade de mudança que os fundadores acalentaram para a sociedade dos anos 70, a participação em organizações cristãs, o humanismo, o desenvolvimento sócio-cultural e a democracia. Ao longo do tempo, a SEDES tem mantido a orientação dos fundadores, realizando encontros, estruturando grupos de trabalho e promovendo debates em diversos pontos do país. Foi, aliás, uma das primeiras organizações portuguesas a defender a aproximação do país à Comunidade Europeia, destacando-se pelo pluralismo cívico. Esta associação refere frequentemente que “talvez não tenha havido um único Governo, desde o 25 de Abril, que não contasse entre os seus membros com associados da SEDES”.

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