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Banca apertou critérios de concessão de crédito a empresas e ao consumo no primeiro trimestre

Os critérios de concessão de crédito foram ligeiramente mais restritivos no crédito a empresas, designadamente a PME, e no crédito ao consumo e outros fins. Tendo ficado praticamente inalterados no crédito à habitação. As razões prendem-se com a maior perceção de riscos associados à situação e perspetivas de sectores ou empresas específicos e, em menor grau, de riscos associados à situação e perspetivas económicas e às garantias exigidas.
20 Abril 2021, 13h17

O Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito prevê, neste segundo trimestre, uma maior procura de crédito por parte dos particulares, mas menor por parte das empresas.

O Banco de Portugal (BdP) divulgou os resultados do inquérito, referente a abril e que foi enviado aos bancos no dia 11 de março de 2021, tendo recebido as respostas até 26 de março. A avaliação da oferta e da procura refere-se ao primeiro trimestre de 2021 por comparação com o trimestre anterior.

Segundo esse questionário, os critérios de concessão de crédito foram ligeiramente mais restritivos no crédito a empresas, designadamente a PME, e no crédito ao consumo e outros fins. Tendo ficado praticamente inalterados no crédito à habitação.

As razões prendem-se, no crédito a empresas, à maior perceção de riscos associados à situação e perspetivas de sectores ou empresas específicos e, em menor grau, de riscos associados à situação e perspetivas económicas gerais e às garantias exigidas. Notou-se uma ligeira menor tolerância de riscos da parte da banca.

No crédito ao consumo, contribuiu para o agravamento dos critérios de concessão por parte dos bancos a perceção de riscos associados à situação e perspetivas económicas gerais.

No que toca aos termos e condições dos empréstimos, verificaram-se condições mais restritivas no que respeita a garantias exigidas no crédito a empresas, em particular a PME e, em menor grau, ao montante do empréstimo no caso de grandes empresas.

Já no crédito a particulares, os termos e condições ficaram praticamente inalterados.

A explicar isto está a maior perceção de riscos na concessão de crédito a empresas e ao consumo e a menor tolerância aos riscos na concessão de novos empréstimos a empresas.

Não houve uma grande alteração na proporção de pedidos de empréstimo rejeitados no crédito a empresas e para aquisição de habitação; e houve um ligeiro aumento no crédito ao consumo e outros fins.

Para o segundo trimestre do ano, as expetativas vão no sentido de os critérios de concessão de crédito serem ligeiramente mais restritivos no crédito a empresas e a particulares.

Além da oferta de crédito, o inquérito aborda também o lado da procura de crédito. Os resultados revelam uma “avaliação muito heterogénea por parte dos bancos resultando num ligeiro aumento da procura, no caso das PME e em empréstimos de longo prazo, e numa ligeira diminuição no caso das grandes empresas”, diz o comunicado do BdP.

Os fatores que explicam estes resultados (aumento da procura por parte das PME) são um ligeiro aumento das necessidades de financiamento de existências e de fundo de maneio e das necessidades de financiamento para substituir a geração interna de fundos. Em sentido contrário, a diminuição da procura de crédito por parte das grandes empresas é explicado pela redução das necessidades de financiamento de investimento e de financiamento de fusões/aquisições e restruturação empresarial.

No que toca à procura de empréstimos por parte de particulares, deu-se um ligeiro aumento. O que é explicado pelo baixo nível das taxas de juro, sobretudo no segmento da habitação.

As expetativas para o segundo trimestre é que no crédito a empresas, uma avaliação muito heterogénea por parte dos bancos resulta numa ligeira diminuição da procura. Ao passo que se espera um ligeiro aumento da procura de crédito por parte dos particulares.

Financiamento dos bancos através de depósitos sobe

Sobre o financiamento a retalho e por grosso dos bancos, o inquérito revela que nos últimos três meses se verificou uma melhoria da capacidade de financiamento no retalho através de depósitos de curto prazo e, em menor grau, de financiamento através de títulos de dívida de médio a longo prazo.

O acesso às restantes fontes habituais de financiamento e capacidade de transferência do risco de crédito para fora do balanço ficaram globalmente inalterados, conclui a análise.

Para os próximos três meses, os bancos esperam uma ligeira melhoria da capacidade de financiamento no retalho através de depósitos de curto prazo.

Impacto dos programas do BCE de compra de ativos nos bancos

Ao nível do balanço e da situação financeira dos bancos, nos últimos seis meses, houve um ligeiro aumento do total dos ativos dos bancos, designadamente obrigações soberanas da área do euro. O inquérito realça ainda a melhoria da posição de liquidez global e das condições globais de financiamento no mercado dos bancos. Houve também uma ligeira deterioração da rendibilidade global dos bancos por via do impacto sobre a margem financeira, atenuada por ganhos de capital.

No que toca à política e volume de crédito concedido, nos últimos seis meses, praticamente não houve impacto dos programas do BCE de compra de ativos.

Para os próximos seis meses são esperados impactos sobre a situação financeira dos bancos e sobre a política e
volume de crédito a empresas e a particulares, de um modo geral, semelhantes aos reportados nos últimos seis meses.

Impacto da taxa de juro negativa aplicada pelo BCE à facilidade permanente de depósito nos bancos

O impacto da taxa de juro negativa nos últimos seis meses traduziu-se numa “redução considerável da rendibilidade global dos bancos, decorrente do impacto negativo na margem financeira”; e numa “diminuição das taxas de juro aplicadas no crédito concedido a empresas e a particulares”.

Sobre o sistema de dois níveis aplicado pelo BCE para a remuneração das reservas excedentárias de liquidez, nos últimos seis meses registou-se um aumento da rendibilidade global dos bancos, decorrente do impacto positivo na margem financeira e, em menor grau, na posição de liquidez.

A expectativa dos bancos é que nos próximos seis meses os impactos sejam semelhantes aos reportados para os seis meses anteriores.

O Banco de Portugal faz ainda uma comparação dos impactos desta crise com as crises anteriores. “As medidas extraordinárias de política monetária, de supervisão e de política orçamental terão contribuído para a diferença nas respostas dos bancos entre a atual crise e as anteriores e para a manutenção do financiamento adequado da economia”, diz o relatório.

“Em particular, é de destacar a ação coordenada das autoridades monetárias que providenciaram à economia ampla liquidez em condições favoráveis e contribuíram para a estabilidade nos mercados financeiros”, adianta o BdP.

No contexto nacional, as moratórias permitiram mitigar a materialização do risco de crédito durante a pandemia, enquanto as linhas de crédito com garantia pública permitiram que os bancos continuassem a financiar as empresas, em particular as mais afetadas pela pandemia sem terem o risco de suportar a totalidade das perdas em caso de incumprimento, refere o relatório do inquérito aos bancos.

Por último, o aumento da robustez do sector bancário português nos últimos anos, traduzido, entre outros aspetos, no reforço dos rácios de capital e melhoria da posição de liquidez dos bancos, terá contribuído igualmente para tornar as restrições de oferta menos significativas, conclui o BdP.

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