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Bancos centrais centram atenções. Ao contrário dos EUA, Reino Unido deverá subir juros

Quatro bancos centrais reúnem-se esta semana e centram as atenções dos investidores. A Fed não deverá fazer mudanças nos juros de referência, mas a expetativa é elevada já que será o primeiro encontro desde as duras críticas de Donald Trump.
31 Julho 2018, 07h30

A política monetária de quatro grandes potências globais está esta semana em foco, graças às reuniões de bancos centrais. Numa altura de ação conjunta de redução dos estímulos monetários por várias regiões do mundo, a expetativa dos mercados é de subidas nas taxas de juro de referência no Reino Unido e Índia, enquanto os EUA e o Japão não deverão fazer alterações.

“Os bancos centrais dos países desenvolvidos estão na luz da ribalta esta semana com a Reserva Federal dos EUA, o Banco de Inglaterra e o Banco do Japão com reuniões de política monetária marcadas. Espera-se que a Fed reitere a visão otimista sobre a economia e dê uma pista sobre um aumento da taxa de juros em setembro”, afirmou Richard Turnill, estrategista-chefe de investimento global da BlackRock, numa nota.

A reunião de dois dias da Fed começa esta terça-feira e a expetativa do mercado é que mantenha a federal funds rate nos níveis atuais e reafirmar o plano de subir mais duas vezes este ano (em setembro e em dezembro) para um intervalo entre 2,25% e 2,50%. Em 2019, poderão haver mais três subidas, para 3% a 3,25%.

Powell pressionado por Trump

O presidente da Fed, Jerome Powell, deverá, assim, manter o discurso confiante em relação à economia norte-americana, tal como no recente discurso no Congresso. “Parece claro que Powell considera que um aumento gradual nos juros é a melhor maneira de manter a inflação próxima da meta da Fed”, afirmou Franck Dixmier, global head of fixed income da AllianzGI.

Há, no entanto, fatores de incerteza, com o crescente protecionismo e a ameaça das guerras comerciais à cabeça. Dixmier considera que estes são riscos de médio-prazo (mais que preocupações de curto prazo), pelo que “quanto mais tentar antever o futuro, mais o famoso gráfico de pontos (dot plot) da Fed vai divergir das expetativas do mercado”.

Esta será a primeira reunião da Fed depois de o presidente dos EUA, Donald Trump, ter tecido duras críticas ao banco central. Em entrevista à CNBC, o republicado afirmou estar preocupado com as subidas da federal funds rate “porque de cada vez que [a economia] cresce, querem subir” os juros. “Não estou feliz com isso”, acrescentou.

“Alguém me vai dizer: «Oh, talvez não devesse ter dito isso enquanto presidente». Não podia importar-me menos porque a minha visão não mudou”, acrescentou Trump. Após a publicação da entrevista, a Casa Branca viu-se obrigada a emitir um comunicado a afirmar que o “presidente respeita a independência da Fed”.

Novas pistas do Japão

Tal como os EUA, os mercados antecipam que o Banco do Japão mantenha a política monetária expansionista e os juros em mínimos históricos. As taxas de juro no país – pioneiro na adoção de medidas de política monetária não convencionais ainda nos anos 1990 e que se mantêm em curso – encontram-se em 0,1% negativos.

Reunião após reunião, o BoJ mantém a garantia de que irá continuar a comprar dívida japonesa para a controlar a yield das Obrigações do Japão a 10 anos próximas de 0%. Desta vez, poderá, no entanto, haver novidades já que o governador Haruhiko Kuroda afirmou, em març, no Parlamento japonês que há um debate dentro do banco central para reduzir os estímulos monetários.

“O Japão não vai subir as taxas, contudo a sua mensagem será determinante. Provavelmente irá mostrar-se mais hawkish, abrindo a porta a uma possível retirada ligeira dos estímulos monetários algures nos próximos trimestres”, referiu a equipa de research do Bankinter.

Subida quase certa no Reino Unido

Ao contrário dos EUA e do Japão, são esperadas novidades do Reino Unido. “O Banco da Inglaterra deverá, quase certamente, subir as taxas, com a inflação a antecipar-se à meta e a economia interna a manter-se firme”, afirmou Turnill, da BlackRock.

O Bankinter acrescenta que o mercado atribui uma probabilidade de 90% a uma subida das taxas de juro para 0,75%, dos atuais 0,50%. Poderá fazê-lo devido ao aumento dos preços, com a inflação a acelerar 2,4% e os salários a crescerem 3,1%.

“Não é claro para nós que esta seja a melhor estratégia a seguir, dado que o crescimento económico é anémico, não há avanços em relação ao Brexit e não tem necessidade de suportar a libra”, acrescentaram os analistas de mercados do banco espanhol, referindo que a economia britânica cresceu 1,2% no primeiro trimestre de 2018.

O quarto banco central com uma reunião de política monetária marcada é o da Índia, em que é também esperada uma subida das taxas em 0,25 pontos base para 6,50%. A confirmar-se, será o segundo aumento este ano e poderá ser justificado pelo Comité de Política Monetária, de seis membros liderado pelo governador Urjit Patel, pelo aumento dos preços do petróleo e inflação próxima de 5%.

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