A análise à gestão da Caixa Geral de Depósitos (CGD) pela comissão parlamentar de inquérito – que tem estado a decorrer – deu-nos mais algumas atoardas com a nova audiência ao ex-governador do Banco de Portugal (BdP), Vítor Constâncio. Precisamos de saber onde ficamos pois Berardo desmente Constâncio e este desmente Berardo.

E quando se levanta o véu para perceber quem fez o quê num processo em que a CGD (e que é o mesmo que dizer o contribuinte) está a ver por um canudo a “queima” de centenas de milhões de euros, concluímos que o BdP nada teve a ver com a escolha dos administradores para o BCP, não colocou “prego nem estopa” na escolha de Vítor Fernandes, Vara e Santos Ferreira. Também vamos acreditar que o ex-governador nada teve a ver com a escolha dos substitutos para a Caixa à época, a saber: Faria de Oliveira e Francisco Bandeira.

Mas se o governador não interferiu, não podemos acreditar que sendo o Tesouro acionista da Caixa, representado pelo ministro das Finanças, não tivesse este de aprovar a saída de uns e a entrada de outros. E claro que as Finanças não iriam fazer nada sem o conhecimento do primeiro-ministro da altura, José Sócrates.

A conclusão que tiramos das palavras ditas no Parlamento é que Vítor Constâncio apenas chamou os acionistas para pôr ordem no BCP e nada teve a ver com a Caixa. Em contraste, o ministro das Finanças e o PM fizeram a outra metade do trabalho. E “se é branco, galinha o põe”. Ou seja, estaremos claramente perante um triunvirato.

E se as contradições e os esquecimentos são avassaladores e deixam os deputados irritados, o que dizer dos enxovalhos. A imagem que ficou foi imprópria e o remate final foi dado pelo PCP, quando colocou a questão final, no sentido de perceber o que fazia o BdP nestes casos, já que o regulador não podia intervir nem antes, nem depois da operação Berardo/Caixa.

Aliás, também impróprio será tentar perceber algumas datas de agosto de 2007 e as consequências jurídicas. Não estamos a afirmar mas a tentar perceber se a autorização do BdP para Berardo passar os 5% de ações do BCP tem data interna de 21 de agosto, quando a AG foi a 27 e a carta do BdP só terá sido recebida na fundação Berardo a 28, data em que souberam da autorização. Que votos foram atribuídos a Berardo e grupo na AG de dia 27? Esta foi uma AG agendada para 6, que continuou a 27 de agosto de 2007.

Outro tema quente ainda a explorar é perceber quantas ações do BCP terá a Caixa como garantia, e isto porque utilizou uma técnica (que alguns consideram nociva) que foi vender ações do BCP para pagar juros e dessa forma o crédito ao grupo Berardo não entraria em mora. Ora, com juros da ordem dos 7% a 8% anuais num crédito de 350 milhões de euros, rapidamente se esgotam as ações que em determinado momento não teriam um valor acima dos 40 milhões de euros. É possível que em pouco mais de um ano tenha desaparecido a garantia da Caixa. Esta foi uma opção que revela desnorte para não falar em incompetência.