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Banqueiros admitem atraso face às Fintechs no tratamento de dados dos clientes

Em termos do tratamento de dados dos clientes “estamos bastante mais atrasados do que as fintech, estamos cautelosos, ainda não utilizamos os processos de inteligência artificial para saber tudo o que o cliente faz”, disse Paulo Macedo. Banqueiros voltam a pedir “level playing field regulatório” aos legisladores.
  • Cristina Bernardo
7 Fevereiro 2018, 16h36

Vítor Bento, Chairman da SIBS, foi o moderador do painel “A Transformação Digital na Banca Portuguesa: Uma visão de topo”, em que participaram  os presidentes da CGD, do BCP, do Novo Banco, do Santander Totta e do BPI.

No seu resumo final do debate, sobre a importância do digital para a banca, e da forma como está a ser adoptado pela banca, disse que “a principal conclusão que se retirou é que para a banca o cliente é o principal, porque é o centro da criação de valor. Todos têm a obsessão com o cliente”, referiu Vítor Bento.

“Por outro lado também é verdade que o digital vai obrigar a alterações profundas. Ao nível da estrutura interna, com a entrada de novas tecnologias e novos canais. O digital vai implicar transformações nos próprios processos internos com a adopção das tecnologias digitais e os bancos vão ter de adaptar os skills do capital humano. Mas por outro lado o digital vai aumentar a flexibilização da oferta, no sentido de permitir fazer o fato à medida do cliente”, disse o presidente da SIBS.

O presidente da SIBS disse ainda que “o resultado vai ser premiado não só do lado da oferta, mas também do lado da procura, pois o comportamento do cliente vai influenciar a forma de procura”.

Outra conclusão do debate é que “as estratégias devem ser intrusivas” e que independentemente de toda a robotização  e automatização, o ‘human touch’ continua a ser fundamental na atividade bancária”, disse Vítor Bento.

Em termos de ameaças ou oportunidades,  “haverá perdas de partes do negócio”, mas os novos players serão também oportunidades no âmbito do desenvolvimento de parcerias e para internalizar a sua própria inovação.

“Os bancos têm um activo fundamental que é a confiança, e aí são claramente competitivos”, disse o presidente da SIBS, e foi em 2014 presidente do BES/Novo Banco.

Vítor Bento deixou um apelo às autoridades: “É fundamental haver um level playing field do ponto de vista regulatório”, e pediu que a transposição das diretivas europeias não compliquem mais do que aquilo que já é necessário”. Outro apelo deixado à autoridades é que “eliminem as discriminações que são desfavoráveis a Portugal”, pois o mercado é europeu. As condições de atuação devem ser uniformes, defendeu.

No debate o presidente da Caixa Geral de Depósitos anuncioi que o banco público está a trabalhar numa caderneta digital para não deixar ninguém para trás no processo de digitalização.

Disse que a meta é a CGD ter dois milhões de clientes a utilizar a internet banking, mas é preciso “ter a certeza que não deixamos para trás uma parte significativa dos clientes”, referindo-se aos clientes menos ‘internetizados’. Um décimo dos clientes do banco público ainda tem caderneta.

Paulo Macedo admitiu que a banca tradicional está muito atrasada, em relação às fintech, no que se refere ao tratamento de dados dos clientes. “Estamos bastante mais atrasados do que as fintech, estamos cautelosos, ainda não utilizamos os processos de inteligência artificial para saber tudo o que o cliente faz”, disse.

“Queremos ter uma oferta que seja muito mais digital nos diversos produtos e serviços, o que hoje ainda não conseguimos ter da mesma maneira que no canal físico”, referiu o banqueiro.

António Ramalho, do Novo Banco, disse que “o digital ainda é um mundo relativamente desconhecido”. Mas falou de quatro áreas. A flexibilidade da oferta, que vai “reorientar o modelo de negócios para uma nova estrutura”, em que o cliente está no centro de tudo. A democratização enorme do ponto de vista do acesso à tecnologia por parte dos clientes. A digitalização não é só para a procura, é substancialmente uma mudança de comportamento dos clientes. Depois disse que “a banca universal morreu e a banca digital ainda não nasceu”

Por fim falou da internacionalização e globalização do modelo de negócio bancário, com a chegada do digital.

Ramalho disse ainda que no Novo Banco 40% dos clientes digitais já só usa mobile banking, e isso obriga a uma “reflexão”.

Nuno Amado respondeu a António Ramalho, dizendo que a banca universal não morreu. “A banca universal está a evoluir para o digital, está a haver uma adaptação da espécie ao novo enquadramento”, disse.

O presidente do BCP disse que “a banca vai ter novos competidores e que vai ter dificuldades em algumas áreas. Os bancos vão perder uma parte do mercado, na área dos serviços de pagamentos. Mas vamos reagir de firma muito clara através de melhores processos e melhores sistemas de pagamento”, respondeu. “Espero que uma parte destes clientes que vamos perder possamos recuperar com os nossos parceiros e com um quadro regulatório adequado”, acrescentou

O banqueiro pediu regras iguais para que os bancos possam competir com as fintech. “Não é razoável podermos competir com concorrentes que, muitas vezes, não estão no espaço europeu, que normalmente não dão crédito, que normalmente não têm os mesmos riscos que nós”.
“Acho é que tem de haver uma lógica nacional para transformar uma parte do cash em digital”, disse Nuno Amado.
O presidente do BCP quer saber quem vai ser supervisionado e quem vai supervisionar esta área dos pagamentos? E quem vai pagar os custos da supervisão? Isto é quer saber se os novos players também vão contribuir para a supervisão e para resolução.
E os riscos de roubo e fraude? Quem fica responsável? Eu sei que o blockchain é uma tecnologia fantástica e segura, mas ainda noutro dia, no Japão, desapareceram 400 milhões de dólares e ainda estão à procura deles, disse Nuno Amado.
O sistema corre o risco de perder uma fatia significativa dos seus proveitos, disse depois Paulo Macedo. Pois “os clientes não estão disponíveis para pagar comissões”, disse o Presidente da Caixa  que admitiu ser muito dificil refletir a estrutura de custos no preço  dos serviços bancários.
Paulo Macedo é relativamente crítico à atual situação  de mercado onde coabitam bancos e Fintechs. Está-se a “deixar os custos para os bancos e passar os proveitos para outros”, disse.
Vítor Bento interveio para dizer que os clientes podem não estar disponíveis para pagar comissões mas “acabam por pagar, e da pior forma: indiretamente, de forma agregada, sem terem a possibilidade de fazer escolhas”. Isto é, os bancos se não podem cobrar por transação, cobram por agregado. Por exemplo, as comissões de conta passaram a agregar os custos com o uso dos ATM, “só que desta forma os clientes não sentem, e não podem escolher”, disse Vítor Bento.
Depois Pablo Forero, presidente executivo do BPI, disse que “se a regulação for neutral os bancos vão saber utilizar aas tecnologias em benefício dos clientes”. O BPI tem um milhão de clientes digitais, disse Forero.
António Vieira Monteiro do Santander Totta disse que a banca “deve aproveitar o momento de entrada de novos players no mercado para desenvolver a atividade, não apenas numa perspetiva de defesa, mas aproveitar todas as novas tecnologias para que os bancos possam atuar cada vez melhor no mercado português e para que sejam um elemento de defesa da nossa soberania”.
 Já hoje de manhã, na abertura, o ministro Pedro Siza Vieira, salientou que o Estado “não deve desinteressar-se da situação do sistema bancário”, se quiser “prolongar o crescimento económico, incentivar o investimento e reduzir a dívida pública”.

(Atualizada)

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