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Barcelona reduz salários dos jogadores devido aos efeitos da pandemia da Covid-19

Barcelona é o último clube de grande dimensão mundial a avançar com uma redução salarial, embora não sejam conhecidos os valores do corte. Mas o clube não é caso único no mundo do futebol. Em Itália, Alemanha, França e Bélgica existem mais casos.
27 Março 2020, 10h56

Com as principais competições de futebol paradas por todo o mundo, devido às medidas de restrição aplicadas no combate à pandemia da Covid-19, os clubes têm equacionado planos de reduções salariais temporárias aos jogadores de futebol. Na Europa, depois do caso dos clubes italianos, alemães e belgas, também o Barcelona anunciou, na quinta-feira, que vai reduzir o salário dos seus atletas.

“Perante o estado de emergência decretado a 14 de março [em Espanha], devido à crise de saúde pública originada pelo coronavírus, suspendemos toda a nossa atividade, desportiva e administrativa. Por isso, a direção decidiu implementar uma série de medidas para reduzir os efeitos económicos desta crise”, lê-se no comunicado do clube blaugrana. Entre essas medidas encontra-se a redução salarial dos trabalhadores, incluindo os atletas.

Em causa está uma “adaptação das obrigações contratuais dos trabalhadores, tendo em conta as novas e temporárias circunstâncias”, assim descreve o Barcelona.

“Trata-se de uma redução do valor da compensação diária atribuída aos trabalhadores e, por conseguinte, a redução proporcional da remuneração prevista nos respetivos contratos de trabalho”, esclarece o clube. Contudo, o clube catalão garantiu que vai “obedecer escrupulosamente às normas vigentes na lei do trabalho”.

O Barcelona não é caso único no mundo do futebol. Um pouco por toda a Europa, com os campeonatos nacionais suspensos, os clubes têm negociado reduções salariais com os atletas. Itália, Alemanha, França e Bélgica são os casos mais clarividentes.

Alemanha
Na Alemanha, os jogadores do Bayern Munique, do Borussia Dortmund e também do Borussia Monchengladbach, Schalke 04 e Werder Bremen aceitaram ou estão a negociar baixar os seus salários para ajudar os clubes a fazer frente à crise na indústria do futebol.

O acordo no Bayern Munique foi anunciado através do jornal alemão Bild, que avançou que foi acordado um corte de 20% nos salários dos jogadores e dos dirigentes. O clube bávaro, ‘heptacampeão’ em título na Alemanha, tinha na época 2018/2019 despesas salariais de 336,2 milhões de euros e uma receita total de 750,5 milhões de euros.

“Os jogadores de futebol têm uma profissão particularmente privilegiada, portanto é evidente que estamos dispostos a um corte nos salários em caso de necessidade. […] O Bayern tem cerca de mil funcionários e muitas outras pessoas em redor do clube que têm tarefas importantes. Quisemos ajudar para que o clube tenha condições de lhes oferecer alguma segurança nesta altura”, destacou o capitão do Bayern de Munique, em declarações à imprensa germânica.

Em comunicado, também o Borussia de Dortmund avançou que os seus jogadores renunciaram “voluntariamente a uma parte dos seus salários, por solidariedade com os 850 empregados do clube e as suas famílias”.

Em 19 de março já os futebolistas do Borussia Monchengladbach tinham acordado com a direção do clube a redução dos ordenados. Na Alemanha vários outros clubes já informaram que idêntica medida está a ser aceite pelos seus atletas, casos do Werder Bremen e do Schalke 04.

Bélgica
Na Béliga, Vários clubes de futebol da Bélgica, entre os quais o Anderlecht e o Standard Liège, estão a aplicar regras de desemprego temporário a jogadores e treinadores, face à ausência de receitas. O Anderlecht, equipa com mais títulos na história do futebol belga, informou no dia 23 de março que pôs em marcha o “desemprego técnico” para boa parte dos seus empregados, devido a um impacto económico “sem precedentes”.

O clube adiantou que tanto jogadores, como treinadores, “aceitaram o esforço proporcional, e considerável”. Além desta redução de salários, o clube de Bruxelas anunciou no sábado (dia 21) o despedimento do treinador adjunto Pär Zetteberg, por “razões financeiras.”

Também o Standard Liège, do português Orlando Sá, avançou no fim de semana, com a medida de “desemprego técnico” para um grupo de treinadores do clube. Outros clubes, da primeira e segundas divisões belgas, como o Zulte Waregem ou o Excelsior, estão a aplicar a “regulação temporal” de emprego a jogadores e treinadores.

Itália
Em 16 de março, quando Itália já fazia as parangonas da imprensa à conta do surto epidemiológico do novo coronavírus, os principais clubes de Itália começaram a equacionar cortes nos salários dos jogadores. Este tipo de acordos não estão totalmente fechados, mas há atletas em Itália que aceitam a medida. É o caso do português Bruno Alvez, que milita no Parma.

Em declarações à TSF, o atleta disse aceitar que ocorram ajustes, desde que o campeonato italiano não chegue ao fim, mas defende que deverá haver contrapartidas como uma redução nos preços dos bens essenciais em Itália. “Essas questões da redução salarial são assuntos muito sensíveis. Se não terminar o campeonato concordo com um ajuste. Mas penso que se houver reduções salariais por não podermos jogar terão de haver regras para tudo o que está à nossa volta. Não podem reduzir os salários aos jogadores e continuarem na mesma os alimentos, as rendas, os impostos. Temos que implementar as regras no geral. Tem que haver justiça”, disse.

Os clubes da Serie A estarão já a perceber se existe a possibilidade de fazerem cortes nos salários dos jogadores devido à pandemia do coronavírus, que levou à suspensão do campeonato por tempo indeterminado. Mas o processo está ainda numa fase embrionária e terá de passar pela Federação italiana de futebol.

O cenário de cortes salariais parece agora alastrar na Europa. Também em França, depois de Amiens, Montpellier e Nimes terem decido fazer cortes, o Lyon avançou com uma imposição de corte parcial no total de 85% no salário dos jogadores. Na Suíça, o Sion, liderado pelo português Ricardo Dionísio, despediu nove jogadores por recusarem a proposta de emprego parcial imposta pelo clube.

O caso do Brasil
Esta questão também já chegou ao Brasil. Mas, de acordo com a Veja, a Federação Nacional dos Atletas de Futebol Profissional (Fenapaf), que representa jogadores de diversas divisões, rejeitou a proposta de redução salarial em carta enviada, em 25 de março, à Comissão Nacional de Clubes (CNC), que é quem está à frente das negociações.

A revista brasileira indicou que a CNC propôs a clubes e jogadores que fossem acionadas férias coletivas de 20 dias a partir de abril, mais dez dias de folga no fim do ano e redução de 25% nos salários dos jogadores

Mas, representados pela Fenapaf, os jogadores rejeitaram a proposta e anunciaram o contraproposta: aceitam a antecipação de férias remuneradas, de 30 dias, durante todo o mês de abril; querem uma licença de dez dias entre o Natal e o Ano Novo; e exigem o pagamento dos salários relativos a março. Os jogadores querem também que a Confederação Brasileira de Futebol intervenha e se responsabilize por qualquer pagamento que os clubes não sejam capazes de realizar.

 

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