A estratégia de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) foi inicialmente aprovada em 1998 e revista em 2003. Com bastante atraso, sublinhe-se, este banco central concluiu agora uma nova revisão desta política, muitos anos depois de terem surgido desafios importantes, nomeadamente o risco de deflação e a dificuldade em ter políticas expansionistas, caracterizadas, agora, não apenas por taxas de juro nulas ou mesmo negativas, como por programas muito extensos de compras maciças de dívida pública.

Grande parte dos novos problemas surgiram, em primeiro lugar, com a crise financeira excepcional, iniciada em 2008, e, em segundo lugar, com a crise do euro, desencadeada em 2010, e só mais de uma década depois é que o BCE apresenta esta revisão.

Há um outro aspecto em que esta forma atrasada de reacção se evidencia: com as novas regras, o BCE passa – finalmente – a ser mais parecido com os mais importantes e melhores bancos centrais do mundo, como o dos EUA, Reino Unido e Japão.

Das várias novidades, algumas mais teóricas do que práticas, centremo-nos em três: i) alteração (ligeira) da meta de inflação, que passou de “abaixo, mas próximo de 2%” para 2%; ii) passar a ter preocupação simétrica com a meta de inflação; iii) consideração das alterações climáticas.

A primeira alteração seria pouco importante, se não viesse acompanhada da segunda. Até agora, por mais declarações que tentem convencer-nos do contrário, o BCE tinha uma visão claramente assimétrica sobre a inflação: enquanto esta estivesse positiva e abaixo dos 2%, tudo estava bem; quando ultrapassava, ou ameaçava ultrapassar aquela marca, soavam todas as campainhas de alarme.

Foi isso, aliás, o que conduziu aos dois maiores erros de subida de taxas de juro, em 2008 e 2011. Se o primeiro ainda pode ter alguma justificação (mas um enorme azar, poucas semanas antes da falência do Lehman Brothers), o segundo, em plena crise do euro, foi de bradar aos céus.

Uma coisa é certa: a Reserva Federal dos EUA, tendo dois objectivos, inflação e emprego, teria, em princípio, uma tarefa mais difícil do que o BCE, apenas com o objectivo sobre os preços. No entanto, o seu congénere americano, pela rapidez e intensidade das medidas adoptadas (para além de actuar sobre uma economia mais flexível), tem tido muito mais sucesso do que o banco central da zona euro.

A passagem a uma preocupação simétrica com a inflação é um passo na direcção correcta, mas deveria ser acentuado por uma maior preocupação com o pleno emprego.

A novidade da preocupação com as alterações climáticas tem alguma justificação, pelas suas implicações sobre a estabilidade de preços e financeira, mas será ainda prematuro de avaliar, porque a sua concretização futura é que será decisiva.

Para Portugal, a nova estratégia do BCE, com taxas de juro baixas durante mais tempo e compras maiores de dívida pública, significará alívio sobre os encargos da nossa muito elevada dívida.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.