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BCP apresenta hoje resultados com expectativa de forte queda dos lucros

À semelhança dos seus pares que já apresentaram os números, a CGD, BPI e Santander Totta, e se tudo correr como o esperado, prevêem-se no BCP provisões para riscos genéricos por antecipação dos efeitos da pandemia, e um trimestre afectado pelas contribuições anuais regulatórias.
  • Cristina Bernardo
19 Maio 2020, 08h10

O Millennium bcp apresenta hoje os resultados do primeiro trimestre, o primeiro em que a pandemia já mostra os seus efeitos. Depois do maior lucro em 12 anos no final do ano passado (302 milhões de euros), é a vez da maior quebra dos últimos trimestres.

À semelhança dos seus pares que já apresentaram os números, a CGD, BPI e Santander Totta, e se tudo correr como o esperado, prevêem-se no BCP provisões para riscos genéricos por antecipação dos efeitos da pandemia, e um trimestre afectado pelas contribuições anuais para o Fundo de Resolução nacional (incluindo a contribuição extraordinária), para o Fundo de Resolução europeu, para o Fundo de Garantia de Depósitos e para as taxas de supervisão. Tudo itens que diminuem o resultado líquido.

Miguel Maya, CEO do BCP, tem falado muitas vezes da contribuição “injusta” para o Fundo de Resolução nacional (não apenas o europeu) que subtraiu ao banco 16 milhões de euros em 2019. Esse efeito, aliado aos cerca de 32 milhões de euros da contribuição extraordinária sobre o setor bancário, custaram aos lucros do ano passado 47 milhões.

Os bancos estão a refletir nas contas do trimestre este custo regulatório. A CGD, por exemplo, revelou que pagou este trimestre 60 milhões de euros em contribuições para o Fundo de Resolução nacional, para o Fundo de Resolução europeu, para o Fundo de Garantia de Depósitos em taxas de supervisão e contribuições extraordinárias. Este pagamento já foi contabilizado nas contas deste trimestre. Os custos regulatórios em 2020 foram divididos entre 20 milhões de euros para o Fundo de Resolução Europeu; 35 milhões para o Fundo de Resolução nacional (o que inclui a contribuição extraordinária do sector bancário); 3,5 milhões de euros em taxas de supervisão e o pagamento das despesas do fundo único de resolução; e ainda 1,6 milhões para o Fundo de Garantia de Depósitos, explicou a administração o banco público.“São dois terços dos nossos resultados”, vincou o CEO da CGD, na apresentação dos resultados do banco do Estado, na semana passada.

O resultado consolidado BCP deverá ser afectado pelo mesmo fardo.

Já quanto à subida de provisões genéricas que no conjunto dos três bancos que já apresentaram lucros (CGD, Santander Totta e BPI) já tiram quase 101 milhões aos lucros do primeiro trimestre, não se sabe ainda a dimensão, mas o CEO do BCP tem dito que “não duvida que o malparado vai crescer com significado em função da duração da crise”.

Os banqueiros esperam um “tsunami” (metáfora introduzida pelo CEO do Santander Totta, Pedro Castro e Almeida e adoptada por outros, nomeadamente pelo Governador do Banco de Portugal) pós-moratórias, pelo que as provisões genéricas vão ser uma tema até ao último trimestre, que será a “hora da verdade” sobre a viabilidade dos mutuários que aderiram às moratórias.

O maior banco privado português tem estado a sofrer na bolsa a expectativa de queda dos lucros que os analistas antevêem.

O BPI aponta para uma queda de 85% no lucro do BCP para os 23 milhões de euros entre janeiro e março deste ano.

Só na operação em Portugal, segundo o BPI, essa queda deverá ser de 91% para os 9 milhões de euros.

Os resultados do Millennium Bank na Polónia, no qual o BCP detém 50,1%, também não auguram nada de bom. O Banco do BCP na Polónia viu os lucros caírem 89% graças a um “aumento de 55,3 milhões de zlótis (12,7 milhões de euros) das provisões relacionadas com riscos legais associados a empréstimos concedidos em moeda estrangeira”, mas também “60 milhões de zlótis para riscos relacionados com a pandemia de Covid-19”.

Os analistas dizem que, excluindo o elevado nível de provisões, o lucro geral do banco seria de 103 milhões de euros, 20 milhões abaixo dos 123 milhões registados no mesmo período do ano passado.

Mas nem tudo é mau, os analistas esperam também evoluções positivas na qualidade dos ativos durante o primeiro trimestre de 2020. Com os NPE – non performing exposures (exposições a crédito em risco de crédito) a cair 6% em termos trimestrais.

No entanto o BPI diz que esses ganhos serão absorvidos pelas provisões cautelares provocadas pela Covid-19.

Segundo o research do BPI, citado pelo Jornal de Negócios, os analistas dizem: “cortamos os EPS [earnings per share – resultados por ação] no período entre 2020-24 numa média de 53% devido: a menores NII [margem financeira] na compressão das margens, menor lucro com portfólio de obrigações em Portugal e menores taxas de juro na Polónia; menores comissões, penalizadas pela volatilidade do mercado e níveis de atividade menores; e provisões mais elevadas, particularmente entre 2020-21”.

Outro tema que marcou por exemplo os resultados do Santander Totta no trimestre, foi o recurso a venda de dívida para gerar resultados. O banco liderado por Pedro Castro e Almeida viu os resultados de operações financeiras crescerem 31,6% em março contra o período homólogo, para 66 milhões, o que ajudou a mitigar a queda do produto bancário que no final acabou por ficar mais ou menos idêntico ao ano anterior (-0,2%). Isto é, a subida do trading compensou a queda da margem financeira (-6,3%) e a queda da atividade dos seguros (-38,6%). Serve isto para dizer, que é possível que o BCP tenha cedido à mesma tentação.

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