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SL Benfica pode descolar do FC Porto já a partir desta época

O clube da Luz vendeu João Félix por 120 milhões de euros e prepara-se para angariar mais receitas com a entrada direta na Liga dos Campeões. Cenário de domínio do emblema ‘encarnado’ na Liga nos próximos anos é bem real.
  • Lusa
20 Julho 2019, 17h00

O SL Benfica poderá estar prestes a iniciar um período de hegemonia no futebol português, marcada por uma maior capacidade de angariar receitas, derivadas do sucesso desportivo e consequente entrada direta na Liga dos Campeões, montra que pode levar os principais clubes europeus a contratar – a peso de ouro – os seus melhores jogadores. O último caso foi a venda mediática de João Félix, que aos 19 anos se tornou na transferência mais cara do futebol português e a quarta mundialmente, ao mudar-se para os espanhóis do Atlético de Madrid, por 126 milhões de euros e um contrato válido para as próximas sete épocas.

A transferência foi confirmada na quinta-feira pelos encarnados, num comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), com os ‘colchoneros’, a pagarem a pronto um valor de 30 milhões de euros e a Benfica SAD a efetuar uma operação de desconto sem recurso dos restantes 96 milhões de euros, sendo que os custos desta operação estão orçados em seis milhões de euros.

João Félix bate assim a transferência de Cristiano Ronaldo que, em 2009, trocou o Manchester United pelo Real Madrid por 94 milhões de euros e, no ano passado, a troco de 117 milhões, deixou capital espanhola para rumar aos italianos da Juventus. Além disso, esta é a transferência cujo valor é o mais elevado protagonizada por um clube português, superando a do ano de 2012, quando o brasileiro Hulk foi vendido pelo FC Porto aos russos do Zenit por 60 milhões de euros.

O jovem de 19 anos realizou 43 jogos ao serviço do Benfica, tendo marcado 20 golos e será o quarto português a sair dos encarnados para o emblema madrileno, depois de Hugo Leal (1999), Dani (2000) e Simão Sabrosa (2007).

Na última edição do programa Jogo Económico, o advogado Luís Miguel Henrique defendeu que a transferência do jovem poderá começar a criar desequilíbrios não no campeonato espanhol, mas sim entre as equipas da liga portuguesa. O advogado foi ainda mais longe ao referir que a saída de João Félix pode abrir as portas para uma hegemonia do SL Benfica em Portugal, à semelhança do que acontece neste momento, por exemplo em Itália, com a Juventus ou em França, com o Paris Saint-Germain.

Em declarações ao Jornal Económico, Luís Miguel Henrique começa por explicar esta análise afirmando que “toda a gente percebe que o Benfica já descolou do Sporting, o problema é que nunca houve nos últimos dez anos essa grande diferença para o FC Porto, e pode começar a existir”, isto porque “a partir do momento em que temos por exemplo, 40 a 50 milhões de euros de diferença todos os anos, se forem quatro ou cinco anos são 200 milhões, o que representa entre 80% a 90% do passivo acumulado que se tem”, logo ”estamos a falar de uma capacidade de reinvestir muito grande”.

O advogado salienta que “se Benfica tiver esse diferencial nos próximos dois a três anos, com o que já tem dos últimos 24 meses, começa a sistematizar uma diferença muito substancial”. Contudo, “é lógico que isto não ganha campeonatos, mas [o Benfica] está muito mais próximo de ganhar e pode descolar do Porto, como já descolou do Sporting”, defende.
Face a esta possibilidade, Luís Miguel Henrique sublinha que “o próximo campeonato em particular vai ter muita importância para FC Porto e Sporting”, porque “se deixam o Benfica ganhar outra vez, e se porventura tudo isto se começa a sistematizar essa hegemonia já não é só desportiva, mas também financeira e com isso o descolar de vez”.

O comentador do programa Jogo Económico, perspetiva também o futuro de ‘águias’ e ‘dragões’ e utiliza uma analogia industrial para explicar as atuais diferenças entre os três principais emblemas do futebol português.

“Se olharmos para o Benfica e FC Porto como uma fábrica vemos que a linha de produção se mantém. Se olharmos para o stock de ‘armazém’ do Benfica percebe-se que há lá mais produtos em stock para vender”, acrescentando que “se olharmos para os stocks de FC Porto e Sporting percebemos que não valem a mesma coisa. Já não é só o que se fatura, mas aquilo que se tem em ‘armazém’ para vender”, refere o advogado.

Com todo este cenário pela frente, qual poderá ser então a melhor estratégia para os azuis e brancos e ‘leões’ não deixarem arrancar esta possível hegemonia benfiquista?

Luís Miguel Henrique acredita que “a única forma de competir com isto é ser extremamente assertivo no scouting e voltar a apostar na formação no lado do Sporting”, algo que “o FC Porto começou a fazer há pouco tempo”, e que o advogado considera ser a escolha mais indicada. “O FC Porto está no caminho certo: assertivo no scouting, com jogadores como Filipe e Militão e tem alguns valores na formação, mas a formação é um ciclo de oito a dez anos que demora a crescer”, refere.

Para que esta opção tenha resultados práticos, Luís Miguel salienta que é preciso “comprar barato e vender caro”, sendo que mais importante ainda “é ter sucessivo desportivo na Liga dos Campeões, porque foi assim que o FC Porto, não tendo sido campeão, conseguiu fazer as vendas este ano”, afirma o advogado reforçando esta ideia, com o facto de que “quando se chega longe na Liga dos Campeões ganha-se muito dinheiro”, perspetivando um cenário menos favorável para os portistas já nesta temporada. “Imaginemos que o Porto este ano não entra na fase de grupos. Não vai conseguir vender nenhum jogador como o Filipe ou o Militão por 50 milhões de euros”, então “não só não faz os 70 ou 80 milhões da ‘Champions’, como não faz 100 milhões em vendas”.

Já no caso do Benfica, o advogado destaca que caso as ‘águias’ venham a fazer “uma boa ‘Champions’ e voltem a fazer vendas acima dos 100 milhões, são logo mais 200 milhões de euros no próximo ano a mais, do que aquilo que o FC Porto possa vir a fazer”, refere Luís Miguel Henrique.

Artigo publicado na edição nº 1996, de 5 de julho, do Jornal Económico

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