1. José Berardo emitiu ontem à noite um comunicado onde tenta retractar-se de algumas declarações que fez na sua polémica audição parlamentar. Mas a nota enviada por Berardo às redações é relevante sobretudo devido à forma como termina: “Tenho servido de bode expiatório de todos os males do sistema financeiro português, desde 2007. Não vou aceitar passivamente”.

Esta frase tem um significado que vai além da vontade de defender o nome na praça pública: Berardo não aceita ficar com as culpas pelo que sucedeu na Caixa e no BCP durante o Governo de José Sócrates e dá a entender que poderá contar tudo o que sabe. Pedindo emprestada uma descrição que em tempos foi utilizada pelo jornalista Miguel Pinheiro para se referir a outra figura célebre da nossa praça, Berardo é o novo ‘homem bomba’ do regime. Fala muito, sabe ainda mais e, para além das comendas e de uma garagem no Funchal, parece ter pouco a perder.

2. Não é o mafarrico, mas não deixa de ser má notícia. Refiro-me ao défice da balança corrente e de capital, que no primeiro trimestre disparou para 1,2 mil milhões de euros, 15 vezes mais do que há um ano. Isto significa que o nosso défice externo crónico está a regressar em força, devido ao abrandamento das exportações e ao aumento das importações, num contexto em que, segundo a OCDE, o consumo privado será o principal responsável pelo crescimento da nossa economia. O valor está longe dos 10 mil milhões de euros de défice externo que tínhamos nas vésperas da vinda da troika. E as contas públicas estão hoje sob controlo. Mas não deixa de ser um sinal de alerta.