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Bernardo Trindade: “Governo Regional está resignado”

O socialista acusa o Executivo de um regresso ao passado e acredita que os madeirenses vão escolher um novo modelo de autonomia.
  • Cristina Bernardo
2 Fevereiro 2018, 07h20

Têm surgido casos de conflito entre, por um lado, o Governo Regional e, por outro, a Câmara Municipal do Funchal, por vezes apoiada pelo Governo central. Como vê a estratégia do Governo de Miguel Albuquerque? Que erros tem cometido?
Depois de mais de 30 anos de um estilo de governação, era enorme a expetativa sobre o novo Governo Regional saído das eleições. E se no início do mandato houve coisas que melhoraram, lembro-me aqui do elementar respeito pelo parlamento como órgão fiscalizador da ação do Governo e da presença do presidente do Governo de forma assídua, isso foi positivo. Mas o tempo veio a mostrar um Governo Regional resignado, desmotivado, tendo sido aliás objeto de uma remodelação recente para inverter uma tendência de resignação.
Mais que julgar as pessoas, questiono as políticas e a estratégia seguida. Não consigo aceitar, depois do que passámos recentemente, que a prioridade seja financiar obras inacabadas quando em domínios tão importantes para a nossa vida coletiva, seja o reforço de verbas para a agência de promoção não seja feito, que a agência que é responsável por promover a atividade económica mais importante seja cortada de uma grande parte dos recursos quando faltam necessidades, ou quando há debilidades estruturais no nosso serviço regional de saúde. Essas deviam ser prioridades que este Governo devia seguir e verifico que há um dirigir de prioridades para outros domínios que a história recente veio a mostrar-se problemática, designadamente as obras públicas.

Pedro Calado, vice-presidente do Governo Regional afirmou que o Governo central poderá ter uma agenda para suportar a posição da Câmara do Funchal, dado que não estamos longe das eleições e há um movimento de apoio a uma candidatura de Paulo Cafôfo…
Gostaria de sublinhar que o desafio colocado à Madeira é sobretudo de uma visão renovada da autonomia. A autonomia foi dada aos madeirenses para serem donos do seu destino, com capacidade legislativa e tributária própria, definindo num caminho, acreditando nos homens e mulheres madeirenses, aproveitando a experiência dos concidadãos na diáspora, acreditando na dinâmica que o próprio turismo traz na lógica de que não-residentes e residentes possam, em conjunto, e sobretudo ter uma nova forma de relacionamento com o Estado central, dando lealdade e requerendo solidariedade. Não é como foram 30 anos de Governo e parece que estamos a reeditar um modelo em que se zurzia em público e em privado de mão estendida se pediam ajudas. Penso que estamos num outro tempo. É precisamente isso que os próprios madeirenses vão poder julgar no próximo ano. É um modelo de autonomia diverso daquele que temos tido nos últimos 40 anos. Temos de ter uma autonomia adulta, liderar um processo em que nos foi dado um poder e devemos exercê-lo, com capacidade de definir boas prioridades. Esse é claramente o desafio pela frente.

Mas foi isso que o vice-presidente do Governo Regional disse que não está planeado do lado socialista. Que há decisões tomadas pelo Governo central em função das necessidades da Câmara do Funchal, atrasando projetos…
Não vou fazer apreciações sobre esses pontos de vista. Prefiro centrar-me naquela que tem sido a ação governativa dos últimos anos, da expetativa inicial que foi criada relativamente ao novo modelo de governação, à circunstância de uma remodelação ter trazido prioridades que são antigas, que vieram a mostrar-se importantes num determinado tempo mas que hoje, em função do quadro global, estão manifestamente desajustadas, e é por isso que é essencial trazer um novo modelo de autonomia, um modelo maduro em que cumpramos as nossas obrigações e os poderes que podemos exercer.
Por exemplo, no subsídio de mobilidade, que é uma responsabilidade do Estado central, mas que deve permitir uma participação dos madeirenses enquanto destinatários. Falamos do co-financiamento do hospital, que como primeira iniciativa deve ser uma iniciativa do Governo Regional, assumido que está pelo Governo da República o cofinanciamento de 50%. Portanto é tempo de avançar em matérias absolutamente essenciais e devem merecer a melhor atenção do Governo da Madeira.

Qual é a expetativa para o Congresso do PS-Madeira?
Vou estar no Congresso e se for eleito pelos meus camaradas, presidirei ao Congresso. O que espero que saia do evento é aquilo que já fui dizendo, fundamentalmente um novo compromisso com os madeirenses, assente num novo modelo de autonomia, que acredite nos madeirenses.

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