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‘Best-seller’ Carmen Mola ganha prémio mas quem o recebe são três homens por trás do pseudónimo

“Não nos escondemos atrás de uma mulher, escondemo-nos atrás de um nome”, evidenciaram Agustín Martínez, Jorge Días e Antonio Mercero.
18 Outubro 2021, 16h20

Uma professora de 48 anos com três filhos é também autora de best-sellers. Até aqui estava tudo bem, não fosse Carmen Mola revelar-se ser três homens.

Os guionistas de televisão Agustín Martínez, Jorge Días e Antonio Mercero apanharam os convidados dos prémios Planeta em choque ao receberem subirem ao palco para receber o galardão em nome de Carmen Mola, revelando que são, na verdade, eles por trás do pseudónimo.

Os três autores receberam assim um prémio de um milhão de euros pela obra “La Bestia”. Carmen Mola foi, desde cedo, comparada à italiana Elena Ferrante por querer preservar a privacidade, sabendo-se apenas o essencial: professora universitária em Madrid, casada, 48 anos e três filhos. No entanto, desde cedo se sabia que o nome era um pseudónimo, acreditando-se tratar de uma mulher, ainda assim.

Mola surgiu no panorama literário há quatro anos com “A Noiva Cigana”, seguindo-se três outras histórias. A autora best-seller escreveu então policiais violentos – daí a alcunha de Ferrante espanhola -, vendeu mais de 400 mil exemplares. Atualmente, os livros de Mola estão traduzidos em onze idiomas e os direitos das obras foram vendidos para que as histórias fossem adaptados para conteúdos televisivos.

“Estávamos fartos de mentir. Por isso pensámos sair do armário em grande”, disse Díaz ao “El Mundo” depois de receberem o prémio por “La Bestia”.


“Não sei se um pseudónimo feminino venderia mais do que um masculino, não tenho a mínima ideia mas duvido”, apontou Mercero no palco. “Não nos escondemos atrás de uma mulher, escondemo-nos atrás de um nome”, evidenciaram os três argumentistas.

No entanto, a explicação dos guionistas não colou com o povo feminista, que escolhiam o livro escrito por uma mulher sobre outra mulher para vender. A livraria Mujeres y Compañia retirou os livros assinados por Carmen Mola das estantes, num protesto pelos três homens se terem revelado. O livro fazia também parte das recomendações de leitura feminista do Instituto da Mulher de Espanha, ao lado de Margaret Atwook e de Irene Vallejo.

“Além de usarem um pseudónimo feminino, estes homens passaram anos a dar entrevistas. Não é apenas o nome, é um perfil falso que usaram para enganar leitores e jornalistas”, escreveu Beatriz Gimeno, antiga diretora do Instituto, acrescentando que estes são “vigaristas”.

Em Portugal, apenas “A Noiva Cigana” está editada. O best-seller foi editado este ano pela Suma de Letras, integrada no grupo Penguin Random House.

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