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BMW vai investir 30 mil milhões de euros até 2025 no combate à pegada de carbono

Estratégia da empresa passa por lançar 25 modelos de carros elétricos no mercado até 2023, numa altura em que os impactos da pandemia do coronavírus, provocaram até ao momento, na BMW e MINI uma quebra nas vendas de 26% e 33%, respetivamente.
  • Cristina Bernardo
25 Novembro 2020, 08h10

A BMW pretende investir até ao ano de 2025 mais de 30 mil milhões de euros em investigação e desenvolvimento tecnológico para combater a pegada de carbono. Esta é uma das estratégias que a empresa tem vindo a criar para se tornar cada vez mais sustentável e ecológica.

Em entrevista ao Jornal Económico (JE), Massimo Senatore, Diretor geral da BMW Portugal, aborda os desafios que a pandemia veio colocar ao setor automóvel e do impacto que a Covid-19 tem tido nas suas vendas, bem como o papel da tecnologia no combate às alterações climáticas.

Que soluções e medidas tem vindo implementar a BMW Portugal para reduzir a pegada de carbono?

A sustentabilidade e o futuro do meio ambiente são temas que estão na ordem do dia e pelo qual somos todos responsáveis, e a BMW quer fazer parte do caminho de mudança, promovendo uma escolha de mobilidade mais sustentável e ecológica, de forma a reduzir a pegada de carbono no planeta.

Para assegurarmos a nossa posição enquanto empresa líder no segmento da inovação tecnológica automóvel vamos, até 2025, investir mais de 30 mil milhões de euros em investigação e desenvolvimento nessa área. Isso irá materializar-se no lançamento de 25 modelos eletrificados no mercado até 2023. Os motores de combustão também serão alvo deste investimento no sentido de aumentar a sua eficiência. Este é um ponto importante porque acreditamos que os motores de combustão irão permanecer no mercado por mais alguns anos.

Portugal tem sido um ‘hub’ chave para a BMW nesse sentido. Dois anos depois do lançamento da nossa joint-venture nacional, a Critical TechWorks, cerca de mil pessoas estão a desenhar a tecnologia e o software dos veículos do amanhã, a partir de Lisboa e do Porto, e a trabalhar numa conciliação entre condução autónoma, mobilidade elétrica e conectividade.

Para a BMW, uma mobilidade mais verde tem de passar por sermos capazes de oferecer aos nossos Clientes o poder de escolherem – “The Power of Choice”. Neste momento, estamos a trabalhar na disponibilização de uma ampla oferta de motorizações que permita ao nosso Cliente optar por aquela que melhor se ajuste às suas necessidades – seja movido a gasolina, gasóleo, eletricidade ou num modelo híbrido. Um exemplo perfeito daquilo a que chamamos “The Power of Choice”, é a entrada no mercado, ainda este ano, do primeiro SAV BMW 100% elétrico, o novo BMW iX3, que concretiza a disponibilização simultânea de um modelo em 4 motorizações distintas.

Outro plano para o futuro da mobilidade elétrica é a introdução de uma tecnologia inovadora para os nossos híbridos Plug-in: o BMW eDrive Zones, um sistema automático que permite que os automóveis passem automaticamente para o modo elétrico assim que entram numa zona de zero emissões nas cidades. O objetivo é claro: diminuir os níveis de emissões poluentes nas áreas urbanas e potenciar a utilização de veículos eletrificados nos principais polos urbanos.

Retomando o exemplo português, a BMW assinou o Pacto de Mobilidade para a Cidade de Lisboa, com o intuito de apoiar a Câmara Municipal de Lisboa nos seus objetivos de tornar a capital portuguesa numa cidade neutra em carbono até 2050.

Pretendemos, através da implementação destas medidas, contribuir para um planeta cada vez mais livre de emissões de dióxido de carbono, tornando-o mais sustentável e “limpo”.

Qual o impacto que a pandemia teve na BWM Portugal ao nível das vendas?

O impacto desta pandemia foi, naturalmente, forte para o setor automóvel. No início deste ano, contávamos com um mercado ao nível do ano de 2019. Contudo, hoje assistimos a uma quebra nacional na ordem dos 37%. No caso da BMW e da MINI estamos a registar uma quebra de 26% e 33%, respetivamente, valores, ainda assim, melhores em comparação com a quebra do mercado.

Desde o início desta crise, temos criado medidas de contenção para assegurar a rentabilidade e consequente sustentabilidade do negócio. Lançámos um conjunto de campanhas de financiamento por forma a dinamizarmos o mercado, mais concretamente, uma campanha em que as 3 primeiras prestações foram reduzidas para não sobrecarregar os clientes. Esta foi também uma oportunidade para acelerarmos o nosso processo de digitalização, com o lançamento das plataformas digitais BMW Digital Showroom e do MINI Digital Showroom que, embora já estivessem planeados para 2020, foram antecipados para fazer face à crise provocada pela pandemia.

Estamos economicamente fortes e confiantes, sendo a nossa prioridade, neste momento, assegurar os postos de trabalho dos colaboradores e salvaguardar a liquidez da empresa. Sabemos que estamos a atravessar um período de vendas globalmente desafiantes, mas estamos confiantes de que o iremos superar através da criação de medidas de contenção, de modo a assegurar a rentabilidade do negócio.

Quais os principais desafios que esta matéria nos reserva para futuro?

A atual situação pandémica é um momento marcante em múltiplas áreas e o setor automóvel não é exceção. Estamos a atravessar um período de vendas globalmente difícil, o que constitui um verdadeiro desafio para a rentabilidade do nosso negócio. Ainda assim, continuamos focados nos nossos objetivos da construção da Mobilidade do Futuro, e apesar do processo de recuperação económica no pós-pandemia ser ainda incerto, estamos convictos que a resposta terá de passar por um investimento a longo-prazo em sustentabilidade, inovação e, não menos importante, design.

No entanto, para que possamos dar um passo em frente na mobilidade elétrica terá de haver uma resposta clara por parte dos governos. Torna-se necessário desenvolver uma rede mais alargada de postos de carregamento, pois para existir um verdadeiro incentivo à mobilidade elétrica, não basta criar imposições e restrições às emissões; é fundamental garantir o acesso a uma rede tecnologicamente avançada e a preços acessíveis para todas as pessoas. Não obstante as orientações políticas ou a existência de incentivos, acelerar a mobilidade elétrica ou a transição energética das cidades vai depender, também da decisão dos cidadãos.

É necessário investir nesse campo: na informação, na disponibilização de conteúdos para que as pessoas possam avaliar e tomar decisões informadas. Isso obriga-as a serem corresponsáveis e, assim, saberem para onde vão e o que querem fazer, e isso muda o paradigma. A nosso favor, temos uma sociedade cada vez mais orientada para o tema da sustentabilidade e uma nova geração que pensa de forma diferente.

Qual a melhor forma para combater a pegada de carbono e que alternativas e soluções existem?

Apesar de o nível de emissões ter abrandando, alcançar o objetivo da neutralidade carbónica não vai ser fácil. Diversos setores têm reduzido as emissões desde 1990 mas, à medida que a mobilidade aumenta, as emissões de dióxido de carbono provenientes de transportes estão também a aumentar.

Existem duas formas de reduzir as emissões de dióxido de carbono nos veículos: produzir viaturas mais eficientes e alterar o combustível utilizado. Hoje em dia, a maioria dos veículos na Europa usam combustíveis fósseis. No entanto, os veículos elétricos têm vindo a ganhar terreno.

Exemplo disso é que, apesar do contexto globalmente desafiante que atravessamos, as vendas de veículos eletrificados continuam a aumentar consecutivamente, à semelhança do ano anterior. Nos primeiros 10 meses de 2020 a BMW vendeu, em Portugal, 8.331 veículos. Destes, 2.815 automóveis são elétricos ou eletrificados, o que corresponde a uma quota de 30% do total de vendas da BMW em Portugal.

Mas a produção de um veículo deve ter em consideração não apenas as emissões de CO2 durante a utilização do automóvel, mas também as emissões causadas na sua produção. A produção de um veículo elétrico é menos amiga do ambiente do que um veículo com motor de combustão interna e os níveis de emissões nos veículos elétricos também variam dependendo da forma como a eletricidade é produzida.

Ainda assim, tendo em consideração a média de energia mista na Europa, os veículos elétricos estão já a provar ser bastante mais “limpos” do que os carros com motores de combustão. Como se prevê que no futuro a eletricidade proveniente de energias renováveis vá aumentar, os carros elétricos tendencialmente irão tornar-se cada vez menos prejudicais para o ambiente.

Qual o papel da tecnologia no combate às alterações climáticas?

É primordial conseguirmos utilizar a tecnologia a nosso favor. Quando falamos do que temos vindo a desenvolver para construir a Mobilidade do Futuro, falamos obviamente de mobilidade eletrificada, mas também da tecnologia e conectividade. A tecnologia facilita significativamente a utilização do veículo elétrico, informando sobre os níveis de bateria, os postos de carregamento mais próximos, os serviços de informação sobre estacionamento que evitam perdas de tempo, os serviços de conectividade que ligam a vida familiar, à vida profissional de forma simplificada e não evasiva, a conectividade que liga o veículo elétrico à rede de abastecimento urbana, a condução autónoma, etc… Um sem número de oportunidades que, no fundo, vão facilitar a nossa vida, evitando desperdício e oferecendo-nos um recurso muito valioso: o tempo.

Nesse sentido, a tecnologia aliada à sustentabilidade, traz-nos oportunidades incríveis com um impacto enorme não só na qualidade de vida das pessoas nas cidades, como na sua relação e no respeito pelo meio ambiente.

Para a BMW, a tecnologia é chave para suportar toda a estratégia da mobilidade do futuro e, concretamente, para a capacidade de os veículos serem mais ecológicos. Esta estratégia materializa-se no facto de fazermos apostas concretas de investimento em tecnologia, como é o caso da nossa joint-venture nacional, a Critical TechWorks que está a desenv​olver – em exclusivo para a BMW – tecnologia e software com foco na mobilidade, condução autónoma, software de bordo, tecnologia para veículos conectados, análise de dados, eletrificação, produção e logística.

Que medidas gostariam de ver implementadas pelos responsáveis políticos?

Apesar de em Portugal a quota de mercado de veículos eletrificados ter vindo a aumentar de modo exponencial, graças ao chamado “incentivo verde”, é  importante criar mais incentivos para que a população possa aderir de forma massiva à mobilidade elétrica.

Em Portugal, a maior parte das medidas de incentivo à utilização de veículos elétricos é dirigido às empresas. Acreditamos que essas medidas têm de ser alargadas aos Clientes particulares, que estão atentos e disponíveis para esta mudança de paradigma, pelo que devem ser objeto de um eventual reforço de incentivos à compra de veículos eletrificados. O custo de produção de automóveis eletrificados é muito superior ao das motorizações ‘clássicas’, pelo que os apoios governamentais podem ser decisivos para que os fabricantes consigam suportar a sua potencial massificação.

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