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Bolsas recuam com impasse na “guerra comercial”

Apesar de as quedas desta semana não terem sido muito pronunciadas, vai-se notando algum desgaste na confiança do mercado.
31 Maio 2019, 08h05

Até há algumas semanas, olhava-se para a “guerra comercial” entre os EUA e a China como um tema importante, mas passageiro. O próprio Donald Trump deu várias indicações de estar muito perto de finalizar um acordo comercial que seria satisfatório para ambas as partes, o que não veio a acontecer, e hoje ainda não se sabe quem teve mais responsabilidades no rompimento das negociações.

O que é certo é que o mercado, e porque não dizê-lo, os agentes económicos à escala global, estão mais preocupados com o assunto. Numa primeira fase, as decisões de Washington de subir tarifas e banir a Huawei e outras tecnológicas chinesas de fazerem negócios nos EUA para proteger as redes norte-americanas não causaram grande mossa nos mercados, mas nota-se alguma impaciência. O S&P 500 está em mínimos de mais de dois meses, transaciona em cima da média móvel de 200 dias e já acumula uma perda de quase 6% desde os máximos. Os índices mundiais ainda registam ganhos interessantes em 2019 – o bull market ainda persiste, mas está perante um teste importante.

Numa semana em que o mercado preferiu olhar para “o copo meio vazio”, destacaram-se outros fatores de preocupação além das tensões comerciais. O desemprego na Alemanha subiu pela primeira vez em dois anos, mas que levanta ainda mais receios quanto à saúde da maior economia europeia. O espetacular crescimento do emprego registado na Alemanha nos últimos anos pode estar em risco até porque assentou muito do comportamento da indústria, que é bastante dependente das exportações para os EUA, China e Reino Unido. A situação em Itália também não é das mais confortáveis. Apesar de estarmos a um universo de distância dos acontecimentos de 2012 a forma como Itália se vem comportando em relação aos temas do défice e dívida pública, levanta preocupações. É provável que Itália volte a enfrentar um procedimento por défice excessivo.

A nível empresarial, a grande notícia foi a proposta de fusão apresentada pela Fiat Chrysler à Renault. O processo de fusão, que se planeia seja de 50-50, ainda terá um longo caminho a percorrer e aparece num contexto de alguma tensão entre a construtura francesa e a sua parceira Nissan. O setor automóvel vive um momento historicamente relevante, com alterações tecnológicas rápidas, mas profundas, que podem resultar numa recomposição da paisagem competitiva. A forma como os construtores e consumidores se irão posicionar perante os temas do carro elétrico e da condução automática poderão ter impacto durante décadas. As ações da Renault subiram mais de 10% em reação à proposta, mas desde então estão a lateralizar e a aguardar mais desenvolvimentos.

Em Portugal, destaca-se a evolução negativa das ações ligadas à pasta de papel. As ações da Altri anularam todos os ganhos do ano e recuam mais de 25% desde março. A Navigator já regista perdas de 10% em 2019 e cai 28% desde os máximos do ano. A explicação está na evolução dos preços da pasta de papel nos mercados internacionais. O preço da pasta atingiu máximos históricos em meados de junho do ano passado e desde então já recuou quase 30%, sem dar indicações de inversão no curto prazo.

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