As últimas semanas trouxeram uma série de correções nos mercados internacionais, tendo o apetite pelo risco sido afetado na época da Páscoa pelas notícias provenientes dos EUA, onde a atual administração continua a colocar na agenda maior protecionismo e o espetro de uma guerra comercial contra a China, com potenciais impactos significativos no crescimento da economia global.

Agora que nos encaminhamos para o segundo trimestre do ano, as apreensões face às relações internacionais e ao formato geopolítico global aparentam ser as principais preocupações dos investidores. No entanto, as primeiras impressões na economia e nos mercados financeiros podem, por vezes, dar uma visão distorcida da realidade. Sobretudo porque mais tarde ou mais cedo os fundamentais superam o chamado ruído das expectativas e, neste campo, há razões para manter uma posição construtiva relativamente aos ativos de risco.

Em primeiro lugar, importa afirmar que o mundo continua economicamente a crescer de forma robusta e sincronizada. Apesar de algumas leituras mais suaves relativamente ao momento da atividade global, os principais observadores internacionais continuam a apontar para um registo de crescimento do PIB mundial em torno de níveis sólidos em 2018 (entre 3,5% a 4%). Isto numa conjuntura suportada por maior investimento e num ciclo muito positivo para a Europa e EUA.

Adicionalmente, os Bancos Centrais continuam a providenciar um ecossistema muito favorável em termos de custo do dinheiro. Existe claramente uma narrativa a favor de uma normalização da política monetária e, portanto, de taxas de juro mais elevadas (sobretudo nos EUA), mas esta narrativa é acompanhada pela manutenção de um ritmo muito gradual de subida das mesmas, o que providencia um conforto assinalável para as empresas e, consequentemente, para os investidores.

Por último, e isto também encaixa na menor impetuosidade da subida das taxas diretoras, temos as ainda frágeis pressões inflacionistas no mundo desenvolvido – efeito que poderá alterar-se nos próximos trimestres, mas que, para já, vai permitindo uma maior contenção nos processos de decisão dos bancos centrais, sobretudo na zona euro.

Há contudo evidências que dão conta que a consolidação da retoma não será um mar de rosas, e alguns riscos encerram em si riscos a médio prazo nada negligenciáveis. No curto prazo, as principais fontes de volatilidade e incerteza estão associados à essência protecionista, e a uma potencial escalada de uma guerra comercial entre EUA e China, que poderia minar significativamente a confiança internacional e destruir a cadeia de criação de valor mundial.

Por outro lado, na Europa, os eurocéticos registaram uma vitória em Itália no princípio de março, mitigando os efeitos positivos da manutenção da agenda das reformas estruturais, cujo processo o eixo franco-germânico pretende apoiar e incentivar na União Europeia. Contudo,  são razões que devem manter os investidores alerta, mas para se manterem firmes no leme e não para abandonarem o barco dos ativos de risco. Atualmente, os riscos de uma recessão são baixos e os factos fundamentais continuam a favorecer a apetência pelo risco, embora em condições menos atrativas que no passado.

O próximo trimestre pode deixar antecipar um caminho atribulado, mas não seria a primeira vez – longe disso – que, sobre os riscos geopolíticos, acabam por prevalecer os racionais económicos e a força dos bancos centrais.