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Brasil: Bolsonaro confiante, Haddad em missão impossível

Os resultados da primeira volta das presidenciais brasileiras foram mais desequilibrados que o esperado. Bolsonaro tem tudo para ganhar a segunda volta e Haddad tem tudo para perder.
  • REUTERS/Diego Vara
8 Outubro 2018, 19h06

Mais percentagem, mais votos, mais território, melhor votação em territórios ‘inimigos’, melhor prestação dos apoiantes que concorreram ao outros cargos públicos são aquilo com que Jair Bolsonaro conta para se apresenta à segunda volta das eleições presidenciais brasileiras, depois de ter atingido mais de 46% dos votos.

Do outro lado, Fernando Haddad teve menos votos (28,9%), menor implantação nas regiões que controlou nos últimos 16 anos, e alguns dos seus candidatos (a ex-presidente Dilma Rousseff incluída) tiveram prestações deprimentes.

É esta a base da partida para a segunda volta, que se prevê dura, verbalmente violenta e ainda mais extremada que a primeira. E contudo, dizem muitos analistas, o PT de Haddad deve arrepiar esse caminho e reposicionar-se ao centro. Só assim, dizem, será possível ao partido agregar, por um lado, os votantes dos candidatos derrotados – pelo menos os dos partidos de esquerda – e, por outro, tentar convencer ao menos parte dos cerca de 30% do eleitorado que não votou (apesar de a participação ser obrigatória) ou votou nulo ou em branco.

De qualquer modo, todos convergem na opinião de que os trabalhos do PT são hercúleos – e têm contra si, ainda por cima, as estatísticas: na história recente das eleições presidenciais brasileiras, nunca um candidato que tenha ganho a primeira volta saiu derrotado na segunda – isto é, a reviravolta com que Mário Soares derrotou Freitas do Amaral em 1986 nunca aconteceu do outro lado do oceano.

Logo na noite de domingo, o PSL, partido de Bolsonaro, prometeu um pulso mais forte na campanha para a segunda volta. “Agora é a sério”, diziam. Mas a verdade é que, no discurso de vitória, Bolsonaro teve a preocupação de não se exceder e pareceu ligeiramente preocupado em chamar a si o centro do espectro político.

Numa inesperada transmissão ao vivo no Facebook – alguém alegava que podia estar a preparar-se um atentado contra a sua vida se surgisse em público – ao lado do economista Paulo Guedes, disse que, se for eleito, unirá o país. “O agradecimento que faço é a todos os brasileiros”, afirmou.

“Temos tudo para sermos uma grande nação. Temos que unir o nosso povo, unir os cacos que nos fez o governo da esquerda no passado. […] Vamos unir o nosso povo. Unidos, seremos, sim, uma grande nação. Ninguém tem o potencial que nós temos”, acrescentou.

Do outro lado, Haddad também comemorou a passagem à segunda volta, mas o seu capital de confiança estava esgotado. Afirmou que já falou com alguns dos candidatos que não passaram à segunda volta – entre eles Ciro Gomes (que ultrapassou os 12%) e Marina Silva (que não foi além de 1%) – na tentativa de organizar uma espécie de plataforma de esquerda que pudesse apresentar-se à segunda volta como uma alternativa a Bolsonaro.

”Queremos unir os democratas do Brasil, queremos unir as pessoas que têm atenção aos mais pobres desse país tão desigual. Queremos um projeto amplo para o Brasil, profundamente democrático, mas também que busque de forma incansável justiça social”, disse Haddad.

A estratégia é essa e a aritmética informa que uma vitória da esquerda ainda é possível, mas nenhum comentador consegue admitir como razoável essa hipótese.

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