Prever a rota do preço do petróleo é sempre um exercício arriscado. As oscilações na economia global e na procura, as estratégias dos produtores e as relações entre eles, todos estes fatores podem desviar a cotação de forma rápida e significativa, deitando por terra todas as antevisões.
O impacto económico de decisões tomadas com base nessas previsões pode, portanto, ser pesado.
Numa altura de tensões comerciais e geopolíticas a nível global, o Governo inscreveu no Orçamento do Estado (OE)_para 2019 a hipótese de um preço do barril de Brent nos 72,2 dólares, um valor visto pelos economistas consultados pelo Jornal Económico como provavelmente insuficiente.
No relatório do OE_entregue esta segunda-feira ao Parlamento, o Ministério das Finanças reconhece os riscos que o contexto no mercado petrolífero apresenta.
Segundo a equipa de Mário Centeno, existem riscos de “pressões sobre o preço do petróleo causadas, nomeadamente, pela persistência das tensões no Médio Oriente, agravadas pela aplicação de sanções dos EUA ao Irão e, pela deterioração da situação económica e social da Venezuela, com efeitos numa possível redução da oferta de petróleo”.
O preço que o Governo toma como hipótese era inferior, no entanto, à cotação do barril de Brent no dia da apresentação do OE2019, que fechou a sessão nos 80,78 dólares.
“Neste momento, os futuros sobre o Brent já estão acima da projeção, próximo de 80 dólares por barril.”, explicou João Duque, economista e presidente do ISEG. “O governo está a arriscar”, disse.
Para Daniel Bessa, que foi ministro da Economia no Governo de António Guterres, os riscos de uma subida no preço são elevados e estão relacionados com o presidente norte-americano. “Há muito más notícias nessa matéria, nomeadamente esta confusão que envolve o Irão e a Arábia Saudita”, explicou. “O senhor Trump diz que não gosta do petróleo caro, mas não me parece que tenha o poder de o impedir”.
Por enquanto, a maioria dos analistas prevê que o barril de Brent fique num intervalo entre 75 e 80 dólares. No entanto, variações repentinas como a de 24 de setembro, quando a produção nos EUA, uma decisão da OPEP_de manter a produção e as sanções ao Irão fizeram disparar o preço e levaram alguns analistas a apontar para os 100 dólares por barril já no início de 2019.
A economia portuguesa importa todo o petróleo que consome e, portanto, qualquer subida do Brent tem um impacto alargado.
“Daqui para cima [dos 80 dólares], tudo o que sejam subidas tem impacto direto no consumo, porque afeta logo o preço dos bens e, consequentemente, o consumo e os impostos indirectos”, frisou João Duque.
No Orçamento do Estado, o Governo simula o impacto de uma subida de 20% no preço acima do do cenário central.
“Estima-se que o crescimento real do PIB seria inferior ao do cenário central em 0,1 pontos percentuais, situando-se em 2,1%”, refere, destacando também a diminuição do consumo privado.
Acrescenta que em termos do crescimento nominal do PIB, o impacto seria mais acentuado por via do efeito do aumento do preço do petróleo nos deflatores das componentes da procura global, em especial do consumo privado e das importações. Neste cenário, a capacidade de financiamento da economia deteriorar-se-ia por via de um agravamento da balança energética. Já o impacto sobre as variáveis orçamentais seria marginal, destacando-se o aumento no rácio de dívida pública, por via do menor crescimento nominal do PIB.
João Duque explicou que mesmo que o barril de Brent entre numa tendência descendente e que os futuros caiam para 79 dólares, “já está 10% acima da base, ou seja, 0,05 pontos percentuais do PIB”.
O histórico das estimativas nos últimos anos não é positivo. Nos 12 orçamentos apresentados desde 2006, apenas por três vezes a previsão ficou acima do preço médio do barril Brent realizado no ano de execução.
Mais alarmante ainda é o facto de que em três dos anos em que um governo falhou em baixa a previsão, o preço realizado acabou por ficar mais de 20% acima da hipótese.
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