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Brexit: ‘alternativa Estados Unidos’ “é uma ilusão”

Sir Peter Westmacott, antigo embaixador do Reino Unido em Washington, desmistifica aquilo que os adeptos da saída da União Europeia consideram ser uma oportunidade.
7 Março 2018, 07h20

Sir Peter Westmacott, antigo embaixador do Reino Unido nos Estados Unidos, descreveu a perspetiva de um acordo de comércio livre “generoso” com Donald Trump após o Brexit como uma “ilusão” – indo contra a opinião generalizada de que a saída da União Europeia seria a porta aberta para o regresso do histórico bom entendimento (político e comercial) entre os dois países.

O antigo embaixador disse acreditar que o Brexit é mau para o país, não só em termos económicos, mas também prejudica a sua posição globalmente, em termos do equilíbrio político e diplomático internacional.

“Termos um acordo fácil de livre comércio com os Estados Unidos, acho difícil, não vai ser melhor do que o que temos no momento [com a União Europeia]”, disse Westmacott, que serviu em Washington entre 2007 e 2011, com Barack Obama como presidente norte-americano.

Referindo-se na generalidade, mas também ao novo enquadramento da crescente ameaça de uma guerra comercial transatlântica com a UE – com o presidente Donald Trump a pretender impor tarifas aduaneiras adicionais à importação de aço e alumínio e de automóveis europeus, Westmacott descreveu as negociações comerciais com os Estados Unidos como “extraordinariamente difíceis”, independentemente de Trump estar no poder ou não.

“É francamente uma ilusão pensar que, no dia seguinte ao Brexit, haveria um acordo de comércio livre muito generoso para o Reino Unido com os Estados Unidos porque Donald Trump disse ‘Adoro o Brexit, é maravilhoso’”, afirmou, citado pelo jornal “The Guardian”.

Aquele responsável disse ainda que as recentes decisões sobre as tarifas da Bombardier, os direitos das companhias aéreas dos Estados Unidos para continuarem a voar para a União após o Brexit, e os ‘tweets’ “do fim-de-semana sobre o aço são indicativos do quão difícil seria” um acordo comercial entre os dois países.

Westmacott, que se dirigia a uma audiência de advogados da área comercial, disse também que está preocupado com o facto de a Grã-Bretanha estar a perder “a sua voz no mundo” por causa do Brexit. “Infelizmente, o nosso governo está tão absorvido pelo Brexit, tão absorvido com as diferentes posições dos membros do gabinete ou pela importância de ter o Brexit certo, que não parecemos ter liberdade ou capacidade para fazer outras coisas”.

“Como resultado disso, não nos estamos a empenhar no nosso peso diplomático, como já fizemos no passado”, afirmou, citando a situação no Iêmen e noutros conflitos internacionais – onde o Reino Unido tem estado particularmente omisso.

Sir Peter Westmacott acabou a sua intervenção desassombradamente: revelou com vários ex-colegas da carreira diplomática o tinham aconselhado a não expressar as suas opiniões sobre o desastre que será, na sua ótica, o Brexit. “Mas como já não estou na folha de pagamentos do governo…”

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