Não há forma de o Brexit não deixar marcas profundas no Reino Unido. Desde logo porque os britânicos passaram três anos e meio no absoluto caos social e político, sem saberem o que seria do seu futuro imediato. E desse ponto de vista é preciso recordar que o Reino Unido não só é pouco dado a este tipo de incertezas – a história regista muito poucos momentos de indefinição – como delas costuma escarnecer quando acontecem noutros países. É como se a cintura de água que os rodeia os defendesse – por obrigação de sobrevivência e por ausência de contágio com o pior do continente europeu – de situações pouco claras e duvidosas.
De qualquer modo, os britânicos sabem que ficarão ligados para sempre a uma das páginas mais tristes da história da União Europeia: a sua saída deixará marcas na estrutura dos (agora) 27, e se a sua entrada a 1 de janeiro de 1973 também foi dramática (a França do General De Gaulle vetou a presença do Reino Unido por duas vezes), o Brexit arrisca ser muito mais.
Quanto ao resto (a economia), ninguém sabe: tudo está dependente do acordo comercial que o Reino Unido quer subscrever com os 27. Parece claro que a União Europeia não pretende facilitar a vida aos britânicos – e também é evidente que ‘eles’ precisam bem mais de ‘nós’ do que o contrário. Neste quadro, não deixará de ser importante observar-se o outro lado da questão: haverá ou não um acordo do mesmo âmbito com os Estados Unidos? Para já, Donald Trump tem bem mais em que pensar, mas o comércio está nas veias do presidente norte-americano, que por certo não desdenhará encontrar um novo parceiro privilegiado.
O que também não é certo é como é que será o funcionamento dos 27 mais o Reino Unido em matérias que não deixarão de unir os dois blocos: segurança e defesa são as áreas que sempre juntarão toda a gente. A dúvida é como se comportará o Reino Unido em termos diplomáticos: quererá ser um player internacional em palcos tão importantes como o Irão, a Síria, Israel e a Rússia? Em princípio sim, mas logo se verá.
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