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Brexit: Estratégia de Boris Johnson complicada por maioria parlamentar reduzida

O que mantém Boris Johnson no poder é o apoio dos 10 parlamentares do partido norte-irlandês, que firmou um acordo com o partido Conservador após as eleições legislativas de 2017, então liderado por Theresa May.
4 Agosto 2019, 10h47

A estratégia do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, para um Brexit “em quaisquer circunstâncias” a 31 de outubro complicou-se após a derrota eleitoral do partido Conservador em Brecon and Radnorshire, reduzindo a maioria parlamentar a apenas um deputado.

A eleição de Jane Dodds reforçou o grupo parlamentar dos Liberais Democratas e também a oposição, que atualmente soma 319 lugares, contra 320 do partido Conservador e dos aliados do Partido Democrata Unionista (DUP).

O que mantém Boris Johnson no poder é o apoio dos 10 parlamentares do partido norte-irlandês, que firmou um acordo com o partido Conservador após as eleições legislativas de 2017, então liderado por Theresa May.

Sem poder contar com o presidente da Câmara dos Comuns, John Bercow, que é por inerência neutro, e a vice-presidente Eleanor Laing, que também não vota, os tories resumem-se a apenas 310 deputados.

O grupo parlamentar do partido do governo foi reduzido recentemente devido à exclusão de Charlie Elphicke por alegado assédio sexual, que se mantém em funções como independente.

Na oposição estão os 247 deputados do partido Trabalhista (mas as duas vice-presidentes, Lindsay Hoyle e Rosie Winterton, também não votam), 35 do partido Nacionalista Escocês (SNP), 13 Liberais Democratas, cinco do Grupo Independente para a Mudança, quatro do partido nacionalista galês Plaid Cymru e um do partido Verde.

Na Câmara dos Comuns sentam-se ainda 16 independentes, muitos dissidentes ou excluídos do partido Trabalhista, mas também um liberal democrata que se desvinculou para poder votar a favor do Brexit e uma antiga unionista norte-irlandesa que se opõe a uma saída sem acordo.

Os restantes sete lugares, que permanecem vazios devido à posição abstencionista do Sinn Féin, o partido que concorre nas eleições na República da Irlanda e na Irlanda do Norte e defende a unificação da ilha num só país, completam os 650 da Câmara dos Comuns do parlamento britânico.

Esta aritmética parlamentar é complexa e foi responsável pelo impasse no processo de saída do Reino Unido da União Europeia (UE), porque uniu eurocéticos e pró-europeus no chumbo por três vezes do Acordo de Saída negociado por Theresa May com Bruxelas por margens históricas e aliou “rebeldes” conservadores à oposição para bloquear uma saída sem acordo e forçar um adiamento do Brexit.

O contingente de “rebeldes” conservadores pode ser significativo se o novo primeiro-ministro tentar suspender o parlamento para avançar com o Brexit, ou se for preciso um novo adiamento, pois muitos dos moderados, como os ex-ministros Philip Hammond ou David Gauke, estão agora de volta às bancadas parlamentares.

Se conseguir negociar alterações ao Acordo de Saída e remover a controversa solução para a Irlanda do Norte, Boris Johnson poderá ganhar o apoio da ala pró-europeia, mas enfrentar a resistência de alguns eurocéticos mais radicais do seu partido que querem um divórcio drástico.

Mas o verdadeiro teste será quando o líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn, apresentar uma nova moção de censura ao governo depois das férias parlamentares, que acabam a 03 de setembro, deixando apenas 58 dias até prazo para resolver o Brexit, a 31 de outubro.

Em janeiro, o tribalismo partidário protegeu Theresa May da moção de censura apresentada pelo partido Trabalhista, a qual os conservadores e DUP derrotaram ao votar em bloco, evitando eleições antecipadas.

Desta vez, deputados conservadores, como Dominic Grieve e Ken Clarke, críticos de Boris Johnson, poderão votar ao lado da oposição se acreditarem que esta é a única forma de evitar uma saída sem acordo.

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