[weglot_switcher]

Brexit: Johnson altera postura sobre a Irlanda e coloca acordo em risco

As duas partes tiveram sempre um problema quando a questão é a relação entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte. O primeiro-ministro britânico parece estar decidido a não esperar mais pelos 27.
8 Setembro 2020, 07h45

O primeiro-ministro Boris Johnson está a elaborar legislação que anulará o acordo do Brexit sobre a Irlanda do Norte – um dos dossiers mais polémicos desde o início, com as duas partes a acordarem a possibilidade da não existência de fronteiras físicas – uma medida que ameaça fazer colapsar as negociações, que já de si correm bastante mal.

O plano faz parte do projeto de lei do mercado interno (britânico), que tentará desfazer uma parte do acordo de retirada assinado em janeiro e evidencia que o governo britânico joga tudo numa saída sem acordo com os 27. Seguno a imprensa britânica, Boris Johnson está ciente de que qualquer mexida na questão das duas Irlandas irá ferir de morte o acordo com a União, que também está ‘encalhado’ nas pescas e na questão dos financiamentos do Estado ao setor privado.

Uma fonte do governo do Reino Unido disse ao jornal The Guardian que o plano era parte da preparação para o Brexit sem acordo, que, a suceder, abrirá caminho para a criação de barreiras ao comércio da Irlanda do Norte.

O Partido Trabalhista, na oposição, disse que o primeiro-ministro está “ameaçar renegar as obrigações legais do Reino Unido”, o que considerou “um ato de imensa má-fé: algo que será visto de forma obscura por futuros parceiros comerciais e aliados em todo o mundo”.

A possibilidade de os britânicos mexerem no quadro previsto para as Irlandas mereceu também a recusa do ministro das Relações Exteriores da Irlanda, Simon Coveney, que ajudou a intermediar o acordo original do Brexit .Qualquer mudança será “muito imprudente”.

O governo do Reino Unido acredita que o protocolo original foi redigido de forma suficientemente ambígua para permitir uma mudança de interpretação – uma visão que provavelmente será contestada ferozmente por Bruxelas. Mas o facto é que o acordo sobre as Irlandas nunca chegou a qualquer consenso, com as duas partes a empurrarem uma solução eficaz para um futuro que os críticos disseram sempre que nunca chegaria a acontecer. Pelos vistos, tinham razão.

“Como governo responsável, estamos a considerar opções alternativas, caso um acordo não seja alcançado, para garantir que as comunidades da Irlanda do Norte sejam protegidas”, disse um porta-voz do governo citado pelo The Guardian.

Downing Street aparenta estar numa fase de ‘musculatura’ das suas posições. Para além da questão das Irlandas, Boris Johnson anunciou também que 15 de outubro – a data do Conselho Europeu – será o prazo para a assinatura de um acordo com os 27. A União prefere o final de outubro.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.