Boris Johnson bloqueia negociações com a União Europeia sobre o Brexit

Depois da cimeira de presidentes e chefes de Estado da passada semana, a ‘ordem’ emanada do Conselho Europeu para o líder da União Europeia às negociações do Brexit, o francês Michel Barnier, era a de ‘amaciar’ os encontros com o Reino Unido e promover a aproximação de pontos de vista entre as duas partes – mas nada disso resultou junto do primeiro-ministro britânico. Um porta-voz do executivo britânico disse oficialmente que “ainda não estão reunidas as condições” para a retoma das negociações.

Na prática, esta declaração quer dizer que Boris Johnson não está interessado nesta altura – não se sabendo se voltará a estar – interessado em fazer avançar as negociações com vista a um acordo de saída, preferindo, aparentemente, a chamada saída ‘desordenada’.

Johnson não tem tentado dissimular a sua postura: a cimeira do Conselho Europeu tinha como principal ponto da agenda as mais recentes declarações do primeiro-ministro britânico, segundo as quais não permitirá nunca que os legisladores da União imponham qualquer regra que seja, mesmo que a mais ínfima, ao edifício legislativo do Reino Unido. Nem regras da mercado único, nem das pescas, nem dos subsídios à iniciativa privada, nem da fronteira entre as duas Irlandas – nada: quem faz as leis no Reino Unido são os britânicos.

E é neste pé que estão as negociações. Barnier solicitou ao seu homólogo britânico David Frost que lhe endereçasse o novo ‘caderno de encargos’ do governo de Johnson para o reatar das negociações depois da cimeira, mas a caixa do correio manteve-se vazia até agora.

Aparentemente, Michel Barnier concordou com todas as exigências do governo britânico para a retoma das negociações do Brexit. Mas não aconteceu nada. O porta-voz do governo britânico disse que “o Reino Unido tomou nota da proposta da União de intensificar as negociações, o que seria de esperar nesta fase. No entanto, o Reino Unido continua a acreditar que não há base para retomar as negociações, a menos que haja uma mudança fundamental de abordagem da União”.

“Isso significa uma abordagem consistente com a tentativa de encontrar um acordo entre países soberanos e com a aceitação de que esse movimento precisa de vir do lado da União, bem como do Reino Unido. As duas equipes concordaram em permanecer em contato próximo”, disse ainda.

A declaração significa que o impasse do Brexit continua, faltando apenas quatro semanas para as negociações estarem concluídas, pelo menos segundo o calendário proposto para a partir de 31 de janeiro deste ano, dia em que o Reino Unido deixou formalmente a União.