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Brexit: Johnson pode estar prestes a deixar Downing Street

Trabalhistas, nacionalistas, liberais e conservadores moderados estão a preparar uma ofensiva contra Boris Johnson. O facto de o primeiro-ministro insistir num Brexit sem acordo está a deixar os britânicos à beira de um ataque de nervos.
7 Outubro 2019, 08h35

Uma aliança circunstancial entre trabalhistas, nacionalistas, liberais e conservadores moderados estão a preparar uma ofensiva contra o primeiro-ministro, depois de Boris Johnson ter enviado a Bruxelas aquilo que consideram ser um simulacro de acordo: um conjunto de notas sobre o Brexit que não apresenta qualquer alternativa às linhas vermelhas traçadas por Bruxelas, nomeadamente no que tem a ver com o ‘backstop’ (a questão das Irlandas).

Ainda não é claro como é que esta aliança vai avançar – mas isso é o menos importante: o que conta é a matemática. Se aos trabalhistas, nacionalistas e liberais se juntar um número de conservadores suficiente para levar de vencida uma moção de censura, Johnson poderá em pouco tempo ser recambiado para casa.

A semana que agora começa será crucial – mais uma – e a aliança está, segundo os jornais britânico, tem como principal objetivo que em nenhuma circunstância o Brexit se processado sem acordo.

Um dos conservadores que estará por certo alinhado com esta iniciativa é o antigo primeiro-ministro David Cameron. De facto, em entrevista este fim-de-semana a uma cadeia de televisão norte-americana, Cameron afirmou que é fundamental que uma de duas coisas suceda o mais depressa possível; eleições antecipadas ou um novo referendo.

Dizendo que não se arrepende de ter solicitado o referendo de 2016 – no qual era sem qualquer dúvida favorável à permanência – o antigo primeiro-ministro afirmou que as circunstâncias da altura não lhe permitiram outra opção que não fosse o referendo.

A proposta de um novo acordo sobre o Brexit que Boris Johnson enviou a Bruxelas na quarta-feira passada teve desde logo fortes sinais de rejeição por parte da União, com o presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker, a afirmar que não via ali qualquer alteração significativa ao ‘backstop’.

A própria Irlanda independente fez de imediato saber que não se revia na proposta, pelo que Boris Johnson e o seu executivo continuam sozinhos na sua defesa. As próximas horas serão decisivas para perceber se a nova proposta de Johnson sobrevive . “Quero ser muito claro: um Brexit sem acordo nunca seria a opção da União Europeia. Seria sempre – e tomem nota de que estou a usar o condicional, porque ainda tenho esperança – uma decisão do Reino Unido. Estamos preparados para enfrentá-lo e temos adotado medidas para proteger os nossos cidadãos e as nossas empresas, mas não queremos isso”, disse o Michel Barnier em Paris.

O próprio presidente francês, Emmanuel Macron, telefonou a Boris Johnson para lhe pedir pressa nas negociações e clareza nas opções.

Alguns meios de comunicação britânicos dizem que pesos pesados da política conservadora, como o ministro dos Negócios Estrangeiros Dominic Raab e o secretário de Estado para o Brexit Stephen Barclay, estão a alertar os seus colegas europeus de que não estão cientes da realidade britânica: se eles não aceitarem o pacto proposto por Johnson, o resultado serão novas eleições gerais e nesse quadro já não haverá nada para negociar.

Antes de usar o último truque, a moção de censura, a oposição trabalhará em estratégias de curto prazo para continuar a fechar as saídas a Johnson. Os trabalhistas querem forçar o governo a tornar públicos os documentos enviados a Bruxelas, uma vez que suspeitam que a nova proposta envolve novos controlos de fronteira entre as duas Irlandas, mesmo que o primeiro-ministro insista em negá-lo. “O texto jurídico é muito importante, porque suspeitamos que confirmará que a nova proposta implica a inevitável construção de nova infraestrutura física [para controlo aduaneiro] na Irlanda do Norte, ao contrário do que Johnson disse na Câmara na quinta-feira passada”, disse Keir Starmer, porta-voz trabalhista do Brexit.

Uma das possibilidades é a Aliança aceitar fazer um executivo de unidade nacional com um primeiro-ministro provisório e com um mandato único e limitado de garantir a extensão do Brexit e a marcação de eleições gerais ou um novo referendo. E até já há um nome: Margaret Beckett, trabalhista respeitada pelos dois blocos, está no topo da lista. Kenneth Clark e o próprio John Bercow, o ‘speaker’ do parlamento, também fazem parte da lista.

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