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Brexit: sair ou não sair continua a ser a questão

Ainda há quem acredite que os britânicos vão organizar novo referendo sobre o Btrexit e acabar por manter-se no agregado. Verdade ou não, ao Reino Unido abrem-se cinco cenários diferentes que vale a pena tomar em consideração, até março de 2019.
  • Luke MacGregor/Reuters
22 Setembro 2018, 09h00

O mínimo que se pode dizer sobre o Brexit é que está encalhado. É essa pelo menos a opinião dos analistas mais otimistas que, como alguns políticos, ainda acreditam que as duas partes vão conseguir entender-se. Os pessimistas – agregado também conhecido por otimistas informados – acham, ao contrário, que Londres e Bruxelas não vão entender-se – sendo que a última oportunidade para alterarem o atual estado de coisas será no decorrer da cimeira extraordinária que está para ser marcada pera outubro próximo.

Seja como for, são cinco os cenários por que pode passar o Brexit, e que vale a pena ter presente até 29 de março de 2019.

1º cenário: Brexit suave

Fundamentalmente, o acordo suave é o plano de Theresa May, a primeira-ministra que tem, dentro de casa (o Partido Conservador britânico) o terreno cada vez mais minado e já terá perdido qualquer esperança de sobreviver politicamente ao dia 29 de março de 2019.

O plano configurava regras comuns entre o Reino Unido e a União Europeia para o comércio de bens, reconhecia a existência de um quadro institucional conjunto e a criação de um território aduaneiro combinado. Parecia ser um bom princípio de conversa: o país não se afastava totalmente do agregado que vai deixar, o que queria dizer que os cidadãos europeus podiam estar descansados.

Mas, depois de um primeiro momento em que Bruxelas parecia decidida, por via deste plano, a suavizar a má vontade com que havia chegado às conversações – natural, dado que é a parte ‘abandonada’ do divórcio – os negociadores da União Europeia optaram por muscular a posição comum.

O resultado foi de algum modo inesperado: os ultras britânicos, apoiantes do Brexit, decidiram rasgar o plano de May e considerar que, se era para aquilo, mais valia não saírem da União Europeia. Foi nessa altura que se deram as baixas no governo de May (Boris Johnson e David Davis foram as mais sonantes) e que a primeira-ministra terá compreendido que, politicamente, tem os dias contados.

Para tornar a sua posição aceitável aos olhos dos europeus, Bruxelas escudou-se na parte do plano de May que contemplava a intenção de acabar com a liberdade de circulação e com o fluxo de imigrantes. Michel Barnier, responsável pelas negociações do lado de Bruxelas, acusou o Reino Unido de pôr em risco “a integridade do mercado único” e de regressar ao antigo costume britânico de ‘escolher cereja que quer colocar em cima do bolo’

Entre os restantes 27 há também uma divisão de opiniões sobre a pretensão de Londres de aceder aos privilégios da União e resolver à sua maneira a espinhosa questão da fronteira irlandesa.

 

2º cenário: Brexit duro

“Um não acordo não é preferível a um mau acordo”, diziam algumas fontes. Nem todos os britânicos concordaram com esta opção, pelo menos num primeiro momento, e a opinião pública parecia estar decidida a que as ligações umbilicais – nomeadamente económicas – à União Europeia fossem cortadas cerces. Depois do primeiro impacto, o Reino Unido saberia como encontrar uma alternativa ao Brexit e ao afastamento da União. Tinha – apesar do enorme envolvimento da economia britânica com as dos países continentais – duas alternativas: a Commonwealth e os Estados Unidos, tradicional parceiro dos britânicos.

Os menos saudosos do antigo império britânico sabiam que a história da Commonwealth era só para entreter: não há forma de, tanto do ponto de vista do cliente como do fornecimento, o agregado de países que dela fazem parte substituírem a União Europeia.

Restavam os Estados Unidos e o seu imponderado novo presidente, Donald Trump. May apressou-se a ser a primeira estadista estrangeira a ser recebida na Casa Branca depois da eleição de Trump, mas veio de lá desanimada. Mas desanimada ficou depois da recente visita de Trump ao Reino Unido: no quadro de uma na altura já evidente guerra comercial com o resto do mundo, os Estados Unidos não tinham nada para oferecer aos britânicos em termos de segurança económica de futuro.

Era mais um caminho que se fechava – e que Bruxelas aproveitou para endurecer a sua própria posição.

 

3º cenário: Brexit sem acordo

Nos últimos meses, o governo britânico – tardiamente, segundo alguns, tem-se dedicado a colocar os britânicos perante o mais negro dos cenários, uma coisa quase apocalíptica, inconcebível: supermercados vazios, hospitais sem medicamentos, filas de centenas de camiões a sitiarem o porto de Dover, principal meio de entrada e saída de mercadorias no Reino Unido, a City à deriva, as filas do Eurotúnel a chegarem às portas de Londres, a polícia e o exército a implementarem planos de contingência para acorram aos distúrbios sociais. Um filme em que, no século XXI, não é fácil acreditar.

Na prática, o ‘não acordo’ significa a saída automática da União Europeia e a subordinação às regras da Organização Mundial do Comércio. É só. Liam Fox, o secretário de Comércio Internacional, é um acérrimo defensor desta opção, a única que confere ao Reino Unido mãos livres para fazer o que quiser do seu destino.

 

4º cenário: ‘Saída Canadá’

O ex-ministro do Brexit, David Davis, continua a favor da opção que ele próprio batizou como ‘saída Canadá’: não uma rutura total, mas a negociação de um novo tratado de acordo económico e comercial, ao jeito do que foi assinado em 2016 entre o Canadá e a União Europeia.

Grosso modo, este acordo (chamado CETA) remove 99% dos direitos alfandegários sobre bens que circulam entre os dois blocos comerciais, mas não é construído em torno do mercado único. O Canadá tem quase completamente livre comércio de mercadorias com a UE, mas enfrenta mais barreiras regulatórias, sendo muito mais limitado do que é para os países do mercado único.

Bruxelas parece estar pouco interessada no esquema, mas alguns analistas consideram que pode ser a saída airosa para uma situação que está extremada e sem qualquer margem para evoluir. Seria também, por outro lado, uma forma de os europeus não se questionarem sobre a posição de algum modo ‘vingativa’ dos negociadores de Bruxelas.

 

5º cenário: Um novo referendo

Mas o que a Comissão Europeia prefere, mesmo não o podendo afirmar, é que os britânicos organizem um novo referendo – partindo Jean-Claude Juncker do princípio (aparentemente inquestionável) de que, desta vez, o Brexit perderia. Talvez até por parla margem.

Esta hipótese – que nunca chegou a sair de cima da mesa, por muito que o governo britânico se esforce em dizer o contrário – voltou a ganhar novo alento pela mão de Saqiq Khan, ‘mayor’ de Londres e membro do Partido Trabalhista, que recentemente pediu uma nova auscultação pública ao povo britânico.

Não por acaso, alguns chefes de governo que estiveram esta semana na cimeira informal de Salzburgo, na Áustria, decidiram voltar a folar na hipótese – como se estivessem interessados em reavivar os movimentos britânicos que são favoráveis à manutenção do país na União. E, como até ao dia 29 de março de 2019 há sempre uma réstia de esperança, Bruxelas vai continuar a acreditar que ‘tudo está bem quando acaba bem’.

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