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Bruno de Carvalho e Mustafá deverão ser ouvidos amanhã em tribunal, diz MP

Ex-presidente do Sporting e líder da Juve Leo deverão ser presentes amanhã ao Juiz de Instrução Criminal para aplicação das medidas de coação. Arriscam prisão preventiva por crimes de terrorismo, sequestro e ofensas à integridade física qualificadas, bem como de autoria moral do ataque na Academia do SCP em Alcochete.
  • Cristina Bernardo
12 Novembro 2018, 11h37

Bruno de CarvalhoBruno de Carvalho, ex-presidente do Sporting Clube de Portugal, e o líder da claque Juventude Leonina (Juve Leo), Nuno Mendes “Mustafá”, deverão serão ouvidos nesta terça-feira, 13 de Novembro,o pelo Juiz de Instrução Criminal, no Tribunal do Barreiro, na sequência do caso das agressões a atletas do clube de Alvalade, na academia de Alcochete, em maio, onde poderão receber ordem de prisão preventiva por crimes como terrorismo, sequestro e ofensas à integridade física qualificadas.

“Os detidos deverão ser presentes ao Juiz de Instrução Criminal no decurso do dia de amanhã”, avançou ao Jornal Económico, nesta segunda-feira, 12 de Novembro, fonte oficial da Procuradoria Geral da República (PGR).

A PGR confirmou a detenção neste domingo 11 de novembro, às 17h45, de Bruno de Carvalho e do líder da Juve Leo, Nuno Mendes, conhecido por Mustafá.

“(…) confirma-se que foram efetuadas duas detenções no âmbito do inquérito relacionado com as agressões na Academia do SCP em Alcochete”, diz a PGR, adiantando, na primeira informação, que “os detidos serão oportunamente presentes ao Juiz de Instrução Criminal para aplicação das medidas de coação”.

O Jornal Económico sabe que Bruno de Carvalho e Mustafá arriscam ficar em prisão preventiva. Em causa estão suspeitas de terrorismo, sequestro e ofensas à integridade física qualificadas, bem como a suspeita de autoria moral do ataque.

De acordo com os jornais “Correio da Manhã” e “Jornal de Notícias” (JN) desta segunda-feira,  o Ministério Público tem na sua posse testemunhos e mensagens de WhatsApp que ligam diretamente Bruno de Carvalho e “Mustafá” ao sucedido no dia 15 de maio. Bruno de Carvalho terá sido o autor moral e Mustafá terá ajudado ao sucedido.

As autoridades acreditam que foi Bruno de Carvalho a autorizar cerca de cinquenta indivíduos a invadir a academia de Alcochete, em pleno treino da equipa principal de futebol do Sporting, para agredir atletas. O ex-presidente do clube verde e branco terá mandado o antigo líder da Juve Leo, Fernando Mendes, atualmente detido preventivamente, a “ir para cima dos jogadores”.

No domingo, pelas 17h45, Bruno de Carvalho foi detido pela GNR na sua residência, em Lisboa, a pedido do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa, assim como”Mustafá”. Bruno de Carvalho passou, assim, a noite detido no posto da GNR de Alcochete, enquanto Mustafá passou a noite no posto da GNR da Pontinha, em Lisboa.

Na sequência das agressões na Academia de Alcochete, mais de 40 dos cerca de 50 invasores foram já identificados, segundo o JN. Até agora, excluindo Bruno de Carvalho e “Mustafá”, apenas 38 encontram-se detidos em prisão preventiva – todos eles estão indiciados pela prática de crimes de terrorismo, ofensa à integridade física qualificada, ameaça agravada, sequestro, dano com violência, incêndio florestal e introdução em lugar vedado ao público, segundo comunicado do Tribunal do Barreiro.

O último dos alegados envolvidos nas agressões aos jogadores do Sporting no passado dia 15 de maio, no centro de estágio de Alcochete, foi Bruno Jacinto, antigo Oficial de Ligação aos Adeptos (OLA) do Sporting, que ficou em prisão preventiva, depois de ter sido ouvido no mês passado no Tribunal do Barreiro, no âmbito do ataque à Academia de Alcochete. O juiz justificou a medida de coação mais grave com perigo de fuga, risco de perturbação do inquérito e de continuação da atividade criminosa.

Bruno Jacinto, que na altura das ocorrências era oficial de ligação aos adeptos, está indiciado, entre outros, pela prática, em co-autoria, de mais de 20 crimes de ameaça agravada, 12 crimes de ofensa à integridade, 20 crimes de sequestro e um crime de terrorismo.

Sporting confirmou ao JE que Juve Leo queria “apertão” a jogadores

O Jornal Económico noticiou em maio que o Sporting CP confirmou que a Juve Leo queria “apertão” a jogadores e que Bruno respondeu: “Não. Não. Temos de lá ir falar todos”.

O episódio foi relatado ao “Jornal Económico” a 18 de maio, três dias depôs dos ataques em Alcochete, por fonte oficial do clube, após ter sido questionado sobre a realização de uma reunião a 7 de abril, um dia depois da derrota da equipa em Madrid, e onde, face às críticas e pressões das claques, terá dado carta branca para “pressionarem” os jogadores e o treinador.

A resposta oficial surgiu através de José Ribeiro, do gabinete de comunicação, depois de várias insistências do Jornal Económico, junto do clube para saber se Bruno de Carvalho deu carta branca para os radicais desta claque do Sporting “apertarem” com os jogadores e equipa técnica.

De acordo com a notícia de maio do Jornal Económico, o presidente do Sporting reuniu com os núcleos da juventude leonina a 7 de abril, dois dias após a derrota com o Atlético de Madrid (2-0).

“Teve uma reunião no dia 7 de abril, por volta das 23 horas. Bruno de Carvalho foi acompanhado por um grupo de seguranças à sede da Juve Leo, onde se realizava uma festa dos núcleos da juventude leonina”, avançou na altura José Ribeiro.

A mesma fonte avançou que, nessa reunião “o presidente esteve meia hora” e “foi criticado pelo facto de na festa de Natal [de 2017] não ter aceite a proposta de se fazer uma festa de homenagem a Fernando Mendes, [ex-líder da Juve Leo]”. E realçou que “o assunto voltou à carga quatro meses depois “ e “o presidente voltou a dizer: «não contem comigo para fazer qualquer festa de homenagem a Fernando Mendes»”.

É aqui que Bruno Jacinto assegura que o “ambiente azedou”, tendo a tensão “aumentado” com outros assuntos que Bruno de Carvalho foi confrontado, nomeadamente um pedido de explicações por ter “destratado os três irmãos Rocha [filhos de João Rocha, antigo presidente do Sporting que dá nome ao pavilhão, e fundadores da Juve Leo”]”.

Questionado sobre se o ambiente azedou por terem sido colocados apenas esses temas e se a derrota do Sporting em Madrid não foi tema de discussão, dado que tinha ocorrido dois dias antes, José Ribeiro prossegue: “sim, foi abordado. Disseram que os jogadores não jogaram nada e que era uma vergonha o que aconteceu em Madrid”.

Foi neste ponto da conversa com Bruno de Carvalho, que, diz, os elementos da Juve Leo lançaram o repto: “Presidente, temos de lá ir dar-lhes um apertão. Bruno de Carvalho respondeu: Não. Não. Temos de lá ir falar todos”.

Segundo esta fonte, “o Sporting costuma realizar não mais de uma vez por ano, encontros para desanuviar o ambiente de tensão”. Estes encontros, explica, “passam por levar representantes de cada claque à Academia de Alcochete, acompanhados por Bruno de Carvalho e segurança,  para falar com os jogadores e treinador”.

Questionado sobre se este encontro já se realizou alguma vez com o treinador Jorge Jesus, a mesma fonte afirma que foram feitos com os treinadores Leonardo Jardim e Marco Silva. “Esta situação foi falada dia 7 de abril [reunião entre Bruno de Carvalho e os responsáveis da Juve Leo], mas nunca se proporcionou devido ao calendário das competições oficiais do Sporting na Liga Europa“, explicou.

José Ribeiro acrescentou ainda que “o ambiente estava de cortar à faca e isto tudo aconteceu depois de uma reunião com o plantel, nessa mesma tarde, onde os jogadores acusaram Bruno de Carvalho de ter mandado Mustafá [líder da Juve Leo] agredir os jogadores”.

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