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Bruno de Carvalho ouvido hoje no Barreiro pela indiciação de 56 crimes

De acordo com o mandado de detenção, Bruno de Carvalho é indiciado por dois crimes de dano com violência, 20 crimes de sequestro, um crime de terrorismo, 12 crimes de ofensa à integridade física qualificada, um crime de detenção de arma proibida e 20 crimes de ameaça agravada.
  • Cristina Bernardo
13 Novembro 2018, 09h46

Bruno de Carvalho, ex-presidente do Sporting Clube de Portugal, é ouvido esta terça-feira, a partir das 10h, no Tribunal do Barreiro, pelo juiz de instrução criminal, após a indiciação de 56 crimes, como sequestro, terrorismo, ofensas à integridade física qualificadas e até um crime de detenção de arma proibida, no âmbito do da invasão à academia do clube de Alvalade, em Alcochete, e consequente agressão a atletas. Também o líder da Juventude Leonina (Juve Leo), claque do Sporting, Nuno Mendes, vulgo Mustafá, será ouvido.

Segundo o mandado de detenção, Bruno de Carvalho é indiciado por dois crimes de dano com violência, 20 crimes de sequestro, um crime de terrorismo, 12 crimes de ofensa à integridade física qualificada, um crime de detenção de arma proibida e 20 crimes de ameaça agravada.

No caso de Mustafá, soma-se uma possível acusação de tráfico de estupefacientes, uma vez que, no decorrer de buscas na sede da Juve Leo, as autoridades encontraram 200 gramas de cocaína e uma quantidade indeterminada de haxixe.

O Jornal Económico sabe que Bruno de Carvalho e Mustafá arriscam ficar em prisão preventiva. O Ministério Público tem na sua posse testemunhos e mensagens de WhatsApp que ligam diretamente Bruno de Carvalho e “Mustafá” ao sucedido no dia 15 de maio. Bruno de Carvalho terá sido o autor moral e Mustafá terá ajudado ao sucedido.

As autoridades acreditam que foi Bruno de Carvalho a “autorizar” que cerca de cinquenta indivíduos a invadir a academia de Alcochete, em pleno treino da equipa principal de futebol do Sporting, para agredir atletas. O ex-presidente do clube verde e branco terá permitido ao antigo líder da Juve Leo, Fernando Mendes, atualmente detido preventivamente, “ir para cima dos jogadores”.

Atualmente, encontram-se detidas 38 pessoas em prisão preventiva, incluindo também o antigo Oficial de Ligação aos Adeptos (OLA), Bruno Jacinto. Todos os que se encontram em prisão preventiva estão indiciados pela prática de crimes de terrorismo, ofensa à integridade física qualificada, ameaça agravada, sequestro, dano com violência, incêndio florestal e introdução em lugar vedado ao público, segundo comunicado do Tribunal do Barreiro.

Bruno Jacinto ouvido antes de detenção de Bruno de Carvalho
O último dos alegados envolvidos nas agressões aos jogadores do Sporting no passado dia 15 de maio, no centro de estágio de Alcochete, foi Bruno Jacinto, antigo OLA do Sporting, que ficou em prisão preventiva, depois de ter sido ouvido no mês passado no Tribunal do Barreiro, no âmbito do ataque à Academia de Alcochete. O juiz justificou a medida de coação mais grave com perigo de fuga, risco de perturbação do inquérito e de continuação da atividade criminosa.

Mas, Bruno Jacinto foi ouvido recentemente uma segunda vez, antes da detenção de Bruno de Carvalho, e o seu advogado de defesa requereu a alteração da medida de coacção para prisão domiciliária. O pedido foi entregue ao Tribunal do Barreiro um dia após Bruno Jacinto ter sido ouvido, pela segunda vez, pelo juiz de instrução criminal. Em declarações ao Jornal Económico Paulo Camoesas revela que, no segundo interrogatório complementar, que durou cerca de sete horas, o antigo funcionário do Sporting “prestou todas as informações” sobre as agressões na Academia do clube que terão levado às detenções de Bruno de Carvalho e do líder da Juve Leo, as quais, diz a defesa do ex-OLA, “não surpreendem”.

“Requeri um segundo interrogatório complementar para o meu cliente que se realizou a 22 de Outubro e durou cerca de sete horas. Foram prestadas todas as informações importantes para esclarecer o que aconteceu em Alcochete, não só no que Bruno Jacinto teve intervenção directa como também o que presenciou e teve conhecimento. E a 23 de outubro requeri a alteração da medida de coacção para prisão domiciliária”, revelou ao Jornal Económico Paulo Camoesas, advogado do ex-OLA do Sporting que foi detido a 9 de outubro e presente no dia seguinte ao juiz de instrução criminal do Tribunal do Barreiro, no distrito de Setúbal, para primeiro interrogatório judicial no dia seguinte.

A 10 de outubro, após mais de três horas de interrogatório, o juiz de instrução criminal decretou a prisão preventiva de Bruno Jacinto, justificando a aplicação da medida de coação de prisão preventiva a Bruno Jacinto, que à data dos incidentes em Alcochete era oficial de ligação aos adeptos, por considerar que existe perigo de fuga, de perturbação do inquérito e de continuação da atividade criminosa.

Neste primeiro interrogatório, Paulo Camoesas, disse ao juiz, nas alegações finais, que quem devia ali estar detido, em vez do seu cliente Bruno Jacinto, eram “André Geraldes [ex-diretor do futebol e braço-direito de Bruno de Carvalho] e o presidente [Bruno de Carvalho].

Ao Jornal Económico o advogado do ex-OLA acrescenta que Bruno Jacinto apenas entregava bilhetes às claques e tinha um papel de suporte ao nível da organização dos jogos. Só quem falava com a Juve Leo era o Bruno de Carvalho”, frisa, recordando que Jacinto ocupou o lugar de André Geraldes, anterior OLA do Sporting, quando este passou para braço direito de Bruno de Carvalho, mas que os contactos com a claque do clube continuaram centralizados.

Bruno Jacinto, que na altura das ocorrências era oficial de ligação aos adeptos, está indiciado, entre outros, pela prática, em co-autoria, de mais de 20 crimes de ameaça agravada, 12 crimes de ofensa à integridade, 20 crimes de sequestro e um crime de terrorismo.

Sporting confirmou ao JE que Juve Leo queria “apertão” a jogadores
O Jornal Económico noticiou em maio que o Sporting CP confirmou que a Juve Leo queria “apertão” a jogadores e que Bruno respondeu: “Não. Não. Temos de lá ir falar todos”.

O episódio foi relatado ao “Jornal Económico” a 18 de maio, três dias depôs dos ataques em Alcochete, por fonte oficial do clube, após ter sido questionado sobre a realização de uma reunião a 7 de abril, um dia depois da derrota da equipa em Madrid, e onde, face às críticas e pressões das claques, terá dado carta branca para “pressionarem” os jogadores e o treinador.

A resposta oficial surgiu através de José Ribeiro, do gabinete de comunicação, depois de várias insistências do Jornal Económico, junto do clube para saber se Bruno de Carvalho deu carta branca para os radicais desta claque do Sporting “apertarem” com os jogadores e equipa técnica.

Ontem (segunda-feira), o Sporting, atualmente com uma nova direção, fez saber em comunicado que deposita “total confiança no sistema judicial”, em referência à detenção do ex-presidente Bruno de Carvalho e de um dos líderes da claque Juventude Leonina. “O Sporting manifesta a sua total confiança no sistema judicial”, indicou fonte, questionada pela Lusa.

 

 

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