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Capital de risco vai colaborar com o Ministério da Economia na capitalização de empresas

A nova direção da APCRI disponibilizou-se ao ministro da Economia para colaborar com o Banco de Fomento na afinação de instrumentos que, através do capital de risco, mobilizem o investimento privado nas empresas.
18 Novembro 2021, 17h50

A associação de capital de risco diz que vai colaborar com o Ministério da Economia na capitalização de empresas e na aplicação do Plano de Recuperação e Resiliência.

A Associação Portuguesa de Capital de Risco (APCRI) disponibilizou-se, esta semana, ao ministro da Economia para colaborar com o Banco de Fomento na afinação de instrumentos que, através do capital de risco, mobilizem o investimento privado nas empresas. “A resposta foi a melhor: a APCRI irá colaborar no desenvolvimento de soluções para capitalizar as empresas portuguesas”, afirma Stephan Morais da direção da APCRI e líder do Indico Capital Partners.

A reunião ocorreu esta quarta-feira e a APCRI mostrou ao Governo a oportunidade de avançar com instrumentos que, através do Banco de Fomento português, mobilizem a aplicação de mais capital privado na economia portuguesa, lado a lado com as verbas europeias do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Em reunião com o ministro da Economia, a APCRI entregou a Pedro Siza Vieira o estudo “Análise da Indústria do Capital de Risco em Portugal concluído pelo ISCTE em outubro, o qual mostra a capacidade que o setor tem de mobilizar capital privado para investir em empresas, atingindo notáveis taxas de rentabilidade e um alto nível de pagamento de impostos”.

O estudo do ISCTE “mostra porque é que a indústria do capital de risco é o instrumento ideal para levar o dinheiro do PRR ao tecido empresarial português. A razão principal é que o capital de risco angaria a participação de investidores privados, os quais aplicam o seu próprio dinheiro com objetivos de rentabilidade, garantindo por norma resultados empresariais muito superiores aos da média da economia”, lê-se na nota.

Da reunião com Pedro Siza Vieira com a direção da APCRI recentemente eleita, presidida por Luís Santos Carvalho, um dos sócios fundadores da Vallis Capital Partners, saiu um compromisso de “cooperação estreita” com o Ministério da Economia. “Essa cooperação incluirá a participação da APCRI em grupos de trabalho que irão desenvolver soluções para aumentar a capitalização das empresas portuguesas através das verbas do PRR”, afirma ainda Stephan Morais.

A associação que representa os setores de “private equity” e “venture capital”, capital de risco e capital semente em Portugal defendeu perante o ministro da Economia a aplicação rápida e eficiente do dinheiro do PRR e congratulou o Governo pelo alargamento dos atuais fundos de fundos em parceria com o Fundo Europeu de Investimento.

Os novos dirigentes da APCRI defenderam também a criação de novos fundos de fundos destinados à recapitalização e ao crescimento de empresas através da indústria de capital risco, nomeadamente nas indústrias mais afetadas pela crise da Covid-19 e pela pressão inflacionista da retoma.

Co-Investimento garantirá rentabilidades para o Banco de Fomento

“O Banco Português de Fomento quer lançar instrumentos que façam chegar, de forma eficiente e produtiva, os fundos europeus – nomeadamente do PRR – às empresas com potencial de crescimento, juntamente com capital privado e gestão profissional”, disse Martim Avillez Figueiredo, sócio fundador da Core Capital, outro dirigente da APCRI que participou na reunião, segundo o comunicado enviado pela associação.

“O ministro Pedro Siza Vieira conhece bem estas necessidades e há sinais muito positivos dados pelo Banco de Fomento na ambição de criar outros instrumentos focados na regeneração e na consolidação das PME portuguesas, que precisam de capital e melhor gestão para ganharem escala”, referiu Martim Avillez Figueiredo.

“Os fundos de fundos atraem investidores privados e, por regra, conseguem mobilizar o triplo do seu valor – é o caso do Portugal Tech I, por exemplo: foi lançado com 100 milhões, já mobilizou mais de 270 milhões no total através da entrada de capital privado, sendo expectável que ultrapasse os 300 milhões”, disse por sua vez Stephan Morais.

Capital de risco criou emprego e pagou 364 milhões de IRC

Em Portugal “existe uma notável contribuição do capital de risco para o volume de negócios das respetivas participadas, que neste aspeto revelam uma evolução significativamente mais favorável comparativamente à da respetiva média nacional por empresa”. Esta é uma das principais conclusões do estudo do ISCTE que a APCRI entregou ao Governo. A “Análise da Indústria do Capital de Risco em Portugal”, que ficou concluída no mês passado,  é da autoria dos professores Paulo Viegas de Carvalho e João Pedro Nunes.

O estudo revela que “o recurso ao capital de risco proporciona uma via bastante eficaz para a redução do peso do endividamento das empresas nacionais”. Para além disso, “com a entrada do capital de risco, as participadas melhoram a sua eficiência operacional” e “criam mais emprego em termos percentuais do que o observado na média nacional”.

“Os números apurados pelo estudo confirmam estas conclusões”, diz a APCRI.

“As empresas participadas pelas sociedades de capital de risco – que são responsáveis por mais de 60 mil empregos e geraram um volume de negócios de 6,57 mil milhões de euros – apresentam EBITDA duas vezes superior à média nacional. O ISCTE confirmou também que “o IRC acumulado pago por estas empresas durante o período de intervenção do capital de risco ascendeu a 364 milhões de euros, ou seja, 5,4 milhões de euros por participada”  segundo o estudo do ISCTE.

“O problema é que, apesar destes resultados, Portugal continua a ocupar uma posição dececionante na Europa quanto ao peso do capital privado no PIB: na Espanha, o país vizinho, a utilização de capital privado no PIB é 13 vezes superior à portuguesa. A média dos países europeus é 19 vezes superior a Portugal (ver gráfico em anexo da Invest Europe, a associação que representa os setores de “private equity”, capital de risco e capital semente na Europa)”, refere a análise.

“O crescimento da economia portuguesa está a ser muito prejudicado por não ter uma aplicação de capitais privados nas empresas por via do Capital de Risco suficiente para promover o crescimento de empresas sólidas ou para lhes dar condições para aumentarem as suas exportações e os contratos internacionais, para a reestruturação de pequenas e médias empresas (PME) ou para desenvolver “startups” inovadoras, afirma Luís Santos Carvalho, presidente da APCRI.

“É esta realidade que torna crítica a aplicação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), uma vez que, sem o capital privado (private equity) ao lado, o país e as empresas terão de continuar a recorrer a mais dívida. Isso desequilibrará ainda mais o seu balanço, estando muitas empresas atualmente a passar dificuldades devido às chamadas de capital que a crise da Covid-19 as obrigou a fazer: em média, dois terços dos balanços das empresas portuguesas são compostos por dívida e só um terço por capitais próprios”, alerta o responsável pela associação lembrando que na Europa a autonomia financeira das empresas é maior, porque a proporção é dois terços de capital privado, e só um terço é dívida. Nos Estados Unidos os capitais próprios constituem, em média, três quartos do balanço.

Recentemente o Governo anunciou o Portugal Tech II que será um fundo de 100 milhões de euros, dividido em partes iguais entre o Fundo Europeu de Investimento(FEI) e o Banco Português de Fomento e que irá investir em fundos de capital de risco, os quais, por sua vez, os irão aplicar em startups ligadas à tecnologia.

 

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