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Carlos Barroca: “Se calhar, Michael Jordan é responsável por hoje trabalhar na NBA”

Carlos Barroca, vice-presidente de Operações da NBA Ásia, conta em entrevista ao “Jornal Económico” como acompanhou os dez episódios da aclamada série da ESPN e como viu o outro lado das conquistas que relatou quando ainda era comentador da NBA na RTP.
1 Junho 2020, 07h15

A série da ESPN e transmitida pela Netflix conta a história do último ano em que os Chicago Bulls, liderados por Michael Jordan e Scottie Pippen, venceram o último título dos ’touros’ de Chicago na NBA. Em dez episódios, o documentário percorre toda a história dos Bulls até ao último título, começando pela chegada de Jordan àquela que é conhecida pela ‘cidade do vento’.

Carlos Barroca, vice-presidente de Operações da NBA Ásia, conta em entrevista ao “Jornal Económico” como acompanhou os dez episódios da aclamada série da ESPN e como viu o outro lado das conquistas que relatou quando ainda era comentador da NBA na RTP.

Com o documentário “The Last Dance”, foi possível perceber os segredos do negócio na NBA e da liderança. O que aprendemos com estes oito episódios?

O “The Last Dance” não é um documentário sobre os Chicago Bulls, é sobretudo sobre o Michael Jordan e sobre a história deste jogador. Eu “babei-me” a ver todos os episódios. Aquele documentário faz parte do nosso imaginário, e particularmente do meu porque comentei todos aqueles jogos, hoje em dia sou amigo de muitos daqueles protagonistas que surgiram naqueles episódios. Este documentário veio preencher uma lacuna emotiva porque vivemos tempos em que tivemos tempo para ler e ver séries. Eu passei as semanas todas à espera do domingo para que pudesse ver mais dois episódios da série porque cada um que foi emitido era melhor que o anterior e trazia à memória todas aquelas coisas boas da nossa vida, dos jogos das incidências e com outra vertente que é a visão do Michael Jordan.

E ele é o grande protagonista naquela série.

Que me desculpem os outros mas isto era sobre o Michael Jordan: pode-se gostar ou não gostar dele mas este documentário foi a visão dele sobre aqueles anos dos Chicago Bulls e sobre aquelas épocas da NBA. Este foi o microfone que lhe deram para que ele, pela primeira vez, de uma forma tão visível e tão descarada, assumir que era competitivo, que bebia cerveja antes de ir para o treino, que fumava charutos sempre que lhe apetecia, que depois de um jogo correr mal pegava no pai e ia para os casinos para Nova Jérsia ou Atlantic City curtir a noite.

E aquela é uma realidade muito diferente do que estamos habituados.

Eles vivem numa realidade que não tem nada a ver com a nossa em que cada um recebe o seu dinheiro, cada um trata de si, não existem horas de recolher nem jantares de equipa, ou seja, cada um trata de si. O Dennis Rodman foi brincar aos wrestlers com o Hulk Hogan? Que fixe! A gestão do Phil Jackson é, na minha opinião, algo extraordinário. Quem me dera ter aquela capacidade de ter aqueles ‘monstros’ todos e conseguir tirar deles tudo o que pôde. E provou-o mais do que uma vez porque também treinou os Los Angeles Lakers com o sucesso que se conhece e também com personalidades fortíssimas. A habilidade dele de mexer naquelas cabecinhas e pô-los todos a jogar para o mesmo lado, tenho que me render porque é de facto extraordinário. E algumas das tiradas do Michael Jordan, fosse no balneário, nos jogos ou nos autocarros, leva-me a pensar: o que seria do mundo se fossemos todos iguais? Se há algo que o Jordan tem e nenhum de nós possui é uma capacidade de ganhar quase ímpar e que o coloca no topo do mundo numa altura em que não existiam redes sociais. Quando o Michael Jordan ganhou o primeiro título, em 1991/92, a NBA estava em 80 países e hoje está em 215; nessa altura, a Liga era muito americana e hoje é cada vez mais global, em qualquer local do mundo, o logotipo da NBA é imediatamente identificado. Se calhar, o Michael Jordan é responsável por eu trabalhar hoje na NBA porque existem 14 escritórios em todo o mundo. Sem haver ‘social media’, ele fez a ‘media’ e a ‘social’ e transformou-se no maior ícone do mundo.

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