[weglot_switcher]

Carlos Costa insiste: “Não existe qualquer conflito de interesses” na decisão de passar férias em Vale do Lobo

O Governador do Banco de Portugal reagiu à notícia do Jornal Económico desta sexta-feira que revela que Carlos Costa arrendou casa em resort de luxo, em 2013 e 2014, quando empreendimento já estava a falhar crédito da CGD. Um financiamento de 194 milhões de euros que teve a sua ‘luz verde’ quando foi administrador da Caixa e que veio a revelar-se ruinoso com perdas para o banco público de 228 milhões de euros.
  • Cristina Bernardo
15 Fevereiro 2019, 13h36

Na sequência da notícia do Jornal Económico, desta sexta-feira, 15 de Fevereiro, o Governador do Banco de Portugal, volta a confirmar que passou férias no resort turístico de luxo Vale do Lobo, onde arrendou casa em 2013 e 2014, depois de ter votado favoravelmente enquanto administrador da Caixa Geral de Depósitos (CGD), em conselho de crédito, o empréstimo de 194 milhões ao projeto imobiliário, onde o banco público ficou ainda com uma participação de 25%. O arrendamento ocorreu numa altura em que sociedade gestora do resort já estava a falhar, há quatro anos, o pagamento de empréstimos ao banco do Estado.  Tal como já tinha avançado ao JE, Carlos Costa reitera não existe qualquer conflito de interesses nesta decisão

“Em 2013 e 2014, sete e oito anos respetivamente depois de ter cessado funções de administrador CGD, o Governador passou férias no empreendimento de Vale de Lobo (6 a 16 de agosto de 2013 e 9 a 16 de agosto de 2014), tendo pago pelos arrendamentos os valores praticados pela empresa em cada ano, não tendo beneficiado de qualquer desconto”, avança o Governador do Banco de Portugal em comunicado.

O financiamento a Vale do Lobo é apontado como um dos créditos ruinosos no relatório de auditoria da EY à gestão da Caixa entre 2000 e 2015, período em que este investimento gerou perdas de 228 milhões de euros. E ganha agora relevância na opção de férias de Carlos Costa naquele resort face a críticas de altos quadros do BdP que incidem em questões de natureza ”ética e de imagem”. O presidente da Transparência e Integridade – Associação Cívica (TIAC)  aponta também as baterias ao governador ao defender que “não teve zelo suficiente para ter o mínimo de distanciamento na relação com os atores que foram beneficiários dos erros cometidos por si próprio.

Tal como já tinha defendido ao JE, Carlos Costa reitera, num esclarecimento emitido nesta sexta-feira, 15 de Fevereiro: “o Governador entende que não existe qualquer conflito de interesses nesta decisão [de passar férias em Vale do Lobo], dado que, como resulta da auditoria da EY à CGD, o financiamento da CGD a Vale do Lobo teve a aprovação final numa reunião do Conselho Alargado de Crédito que não contou com a presença do Governador”.

Na edição de hoje o JE, o governador do Banco de Portugal tinha já confirmado que “arrendou casa de férias em 2013 e 2014, uma semana em cada ano”, tendo ainda assegurado que “pagou os valores praticados pela empresa em cada ano. Ou seja,  não beneficiou de descontos”.  Os valores pagos  não foram avançados, mas o arredamento de uma casa no resort de luxo no Algarve pode oscilar entre os 117 euros e os  500 euros por dia, consoante a tipologia.

O JE questionou também o antigo administrador da CGD sobre se considera que existiu conflito de interesses quando arrendou a casa,  dado que anos antes de passar férias em Vale do Lobo participou da reunião de conselho de crédito da CGD, a 27 de julho de 2006, que votou favoravelmente  o crédito para a compra do empreendimento turístico no Algarve,  segundo a revista Sábado. A resposta de Carlos Costa foi sucinta: “não”, esclarecendo ainda ao nosso jornal que “as marcações de férias não foram feitas com o senhor Diogo Gaspar Ferreira”.

A este respeito, o governador do BdP volta a garantir que “o arrendamento foi tratado com os serviços comerciais do empreendimento de Vale do Lobo” e volta a reiterar que “está totalmente disponível, como sempre esteve, para prestar todos os esclarecimentos que a Assembleia da República entender necessários, designadamente sobre os termos da sua participação nos órgãos colegiais que aprovaram as operações que são objeto da auditoria da EY à CGD”.

 

Escolha de empreendimento tóxico para férias é criticada

Um alto quadro do BdP critica, contudo, a atuação de Carlos Costa ao arrendar casa em Vale do Lobo, que teve empréstimo da CGD que  consta da lista dos mais ruinosos para o banco público e do processo “Operação Marquês”.

“É evidente que é um empreendimento tóxico. Teria sido mais prudente manter-se afastado até porque gerou perdas para a Caixa”, afirmou ao JE esse alto quadro. E recorda que a gestora de Vale do Lobo acumulou prejuízos ao longo dos últimos 12 anos, tem capital próprio negativo e dívidas vencidas à banca e ao Estado, tendo mesmo recorrido ao PERES (Programa de Extraordinário de Redução do Endividamento ao Estado).  A mesma fonte salienta que para continuar a operar, a empresa está completamente dependente do principal financiador, o banco do Estado, que também é accionista.

Também o Presidente da Transparência e Integridade – Associação Cívica (TIAC) lança duras criticas a escolha de Vale do Lobo para férias do governador.

“Por uma questão de ética teria de ter evitado uma má imagem. Não teve zelo suficiente para ter o mínimo de distanciamento na relação com os atores que foram beneficiários dos erros cometidos por si próprio como o crédito que aprovou”, avançou ao JE João Paulo Batalha .

É desta forma que o presidente da TIAC reage à opção do  governador do Banco de Portugal  em passar féria no resort de luxo de Vale do Lobo que beneficiou de um crédito da Caixa Geral de Depósitos, aprovado num conselho de crédito que contou com a participação de Carlos Costa, em 2016 quando era administrador do banco público, segundo a revista Sábado.

 

Carlos Costa reitera disponibilidade para ir ao Parlamento

A disponibilidade de prestar esclarecimentos no Parlamento, numa altura em que está em marcha uma nova comissão de inquérito à gestão danosa da CGD, tinha já sido manifestada pelo governador do BdP que pediu escusa de participar em quaisquer deliberações que o Banco de Portugal tome relacionadas com a auditoria da EY, aos atos de gestão na Caixa Geral de Depósitos entre 2000 e 2015.

Este primeiro esclarecimento do governador surgiu após notícia do Jornal Económico, na semana passada, que avançou que Carlos Costa ficou de fora da avaliação de idoneidade que o BdP está a realizar a menos de 10 ex-gestores da CGD que estão actualmente no ativo. Isto porque, o Banco de Portugal não supervisiona a sua própria casa, no âmbito dos poderes que a lei confere a esta entidade.

A reacção do Governador surgiu também após a revista Sábado ter dado conta na semana passada que que Carlos Costa participou pelo menos em quatro reuniões do conselho de crédito da CGD que aprovaram créditos ruinosos  a Joe Berardo e Manuel Fino, num total de 223 milhões de euros, que geraram perdas para o banco público de 161 milhões de euros, segundo o relatório final da auditoria da EY à gestão da Caixa entre 200 e 2015, que concluiu por perdas de 1.647 milhões de euros em 186 operações de crédito.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.