Desde 1 de novembro, quem quiser carregar o seu veículo elétrico num carregador rápido da rede Mobi.E tem de pagar. Mas o que é que isso representa para operadores e consumidores e para os objetivos, de forma pioneira e ambiciosa, traçados por Portugal em 2009 de incentivar a utilização do veículo elétrico e de criar uma infraestrutura de carregamento, de âmbito nacional, acessível a qualquer utilizador?

Volvidos nove anos sobre o nascimento do Programa da Mobilidade Elétrica, a utilização em massa do veículo elétrico ainda está longe de ser uma realidade (estaremos a falar de um parque automóvel de cerca de 10 mil carros), embora, nos últimos dois anos, tenha crescido significativamente.

Por outro lado, só recentemente, com o relançamento da rede piloto, terão sido instalados todos os pontos de carregamento (que foram, também, alvo de melhorias e relocalização) que se previa instalar até final de 2012. E as duas coisas – adesão ao veículo elétrico e desenvolvimento e melhoria da infraestrutura – são, necessariamente, indissociáveis.

O início da fase de mercado, ainda que limitada aos carregamentos rápidos, é, sem dúvida, um marco importante, representando um forte incentivo ao investimento privado na qualidade e expansão dessa rede. Há agora que avançar para a fase de mercado dos pontos de carregamento normal, que, segundo o Governo, terá lugar no início de 2019, deixando de ser o Estado a suportar o custo associado.

Se a melhoria e expansão da rede Mobi.E, impulsionadas pelo investimento público e privado, trazem novo fôlego ao ecossistema da mobilidade elétrica, há, também, que equacionar a flexibilização do atual modelo mono-rede, a promoção de uma maior concorrência e liberdade nas atividades da mobilidade elétrica e a simplificação dos pagamentos, de modo a dinamizar o mercado, encorajar o investimento privado (incluindo estrangeiro) na infraestrutura e tornar a utilização do veículo elétrico mais atrativa. Para tanto, poderia permitir-se que os operadores dos pontos de carregamento estabeleçam relações comerciais diretas com os utilizadores dos veículos elétricos e admitir o pagamento ad hoc dos carregamentos.

Com efeito, o modelo atual impede o relacionamento direto entre utilizadores e operadores dos postos, que veem assim limitadas as possibilidades de fidelizar clientes, e impõe ao utilizador, para aceder à rede de carregamento, a contratualização com um comercializador de eletricidade, não podendo o utilizador pagar o carregamento no posto nem saber nesse momento, de forma simples, qual o total a pagar pelo carregamento.

Poderia, também, prever-se a possibilidade de instalar pontos e redes de acesso privativo, atualmente pensados para espaços privados residenciais e empresariais, em locais privados acessíveis ao público (hotéis, restaurantes, parques de estacionamento, centros comerciais), incentivando-se modelos de negócios assentes na oferta complementar de serviços de mobilidade elétrica a clientes.

Por último, poderia transformar-se em faculdade a atual obrigação de os pontos de carregamento de acesso público localizados em espaços privados estarem ligados à Rede Mobi.E, posto que os custos de investimento e de operação inerentes são fatores dissuasores da iniciativa privada.

A rede de carregamento de veículos elétricos vai e pode mudar para melhor.