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Catalunha: desistência de Puigdemont abre as portas a Quim Torra

Exilado e impossibilitado de entrar em Espanha sem ser preso, Puigdemont decidiu finalmente deixar o caminho livre à eleição de um presidente para a Catalunha. Mas teve de ser ‘empurrado’ pela esquerda republicana.
12 Maio 2018, 12h00

Como previam todos os analistas, a chave para resolver o impasse que foi criado na Catalunha desde as eleições de dezembro do ano passado era a ‘demissão’ de Carles Puigdemont da candidatura à presidência da Generalitat.

O último sinal aconteceu ao longo desta semana: no fim-de-semana passado, Puigdemont reuniu um grupo do seu partido em Berlim e no final do encontro, quando se esperava que o líder do PDeCat abrisse caminho a uma nova candidatura, o ex-presidente disse que se mantinha como o primeiro candidato à investidura.

Durante a semana, a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) veio afirmar que, desta vez, não podia manter o apoio a Puigdemont, sob pena de nada se resolver – dado que os pressupostos que impediram a seu eleição mantinham-se todos – e de, uma vez chegado o dia 22 de maio (cinco meses após as eleições), Madrid tinha as portas abertas para a marcação de novo escrutínio.

A ERC afirmava que isso seria perder uma oportunidade para os independentistas – que têm uma maioria no Parlamento catalão, mas mais curta que a tinham conseguido nas eleições de 2015 e, pior ainda, difícil de manter, segundo as sondagens, perante nova votação. E não estavam disponíveis para tal.

Nesse quadro, Puigdemont teve mesmo que abrir as portas a uma nova candidatura. Mas, em vez de optar por Elsa Artadi, como previam os analistas, a sua escolha incidiu sobre Quim Torra, um recém-chegado à política (é deputado pela primeira vez).

Dificilmente o nome podia ser menos consensual. Torra pertence à ala mais radical do movimento independentista de direita, e desperta, segundo a imprensa espanhola, todo o tipo de dúvidas, mesmo dentro do movimento separatistas. Tanto o PDeCAT como a ERC receberam friamente a nomeação de Torra, apesar de ninguém colocar a hipótese de ele não ser eleito – já hoje, se houver maioria absoluta, ou na segunda volta, na segunda-feira, altura em que a maioria simples é suficiente.

Mas há sempre que contar a CUP – o partido independentista mais à esquerda – que inviabilizou a eleição de Jordi Turull – e que pode vir a fazer o mesmo com Quim Torra.

Entretanto, Quim Torra, avançou esta sexta-feira quais serão suas as prioridades se for finalmente investido. Em entrevista à TV3, Torra disse que entre as medidas prioritárias estará o impulso para um “um processo constituinte” de um caminho republicano e independente.

Isto será feito depois de Torra fazer uma avaliação do impacto que tiveram sobre as estruturas da Generalitat, nos últimos seis meses, a intervenção de Madrid através do artigo 155 da Constituição. “Estamos a falar de uma crise humanitária, temos pessoas na prisão e no exílio”.

O possível futuro presidente da Generalitat afirmou que é sua intenção deixar claro que a Catalunha vive uma situação de excecionalidade e que não se coibirá de “internacionalizar” essa situação política. Sobre se manterá a rota de colisão com Madrid, Torra disse que “só contemplo a possibilidade de obedecer ao Parlamento da Catalunha”.

Torra respondeu também a uma questão sensível: há seis anos atrás, publicou no Twitter algumas frases de contornos claramente xenófobos (sobre os espanhóis, bem entendido). Questionado sobre isso, o candidato à presidências disse “pedir desculpas se alguém as entendeu como uma ofensa. Lamento muito que toda uma carreira pública e profissional esteja a ser vigiada por seis tweets publicados há seis anos”.

Nascido em 1962, Quim Torra é advogado, editor e escritor. Trabalhou entre 1987 e 2007na seguradora Winterthur (os dois últimos anos na Suíça), antes de se dedicar a tempo inteiro à edição e criação literária através de sua editora, a Contra Vent Editors. Foi a partir daí que começou a desenvolver uma intensa atividade de recuperação da tradição literária e jornalística catalã, especialmente a partir da época da Segunda República Espanhola (1931-1939) e do exílio.

Considerando-se a si próprio um “independente emocional”, Torra esteve alguns anos na órbita da esquerda independentistas – nomeadamente o grupo Reagrupament, uma cisão da ERC liderada por Joan Carretero – antes de empreender a viagem para a direita, até ao partido de Puigdemont.

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