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Cavaco regressa com críticas ao Governo e a Marcelo

“Macron entende que a palavra presidencial deve ser escassa, por isso é que lhe chamam Presidente Júpiter, um Deus de palavra rara no seu Olimpo”, elogiou o ex-Presidente da República. Dirigiu ainda críticas à relação dos políticos com os jornalistas e às “fake news”. Pelo caminho disse que os ímpetos socialistas acabam sempre às portas da realidade.
  • Cavaco Silva
30 Agosto 2017, 13h01

Aníbal Cavaco Silva justificou, esta manhã, o regresso à intervenção pública na Universidade de Verão do PSD. Em Castelo de Vide, o antigo Presidente da República disse que aceitou abrir uma excepção ao período de recolhimento, com o objetivo de aproximar os jovens da política.

“Na política não há certezas. Ninguém deve esperar da política gratidão ou reconhecimento”, disse o ex-Presidente da República.

O histórico social-democrata na sua aula na Universidade de Verão do PSD defendeu a importância de um distanciamento entre políticos e jornalistas. Cavaco Silva criticou, na Universidade de Verão do PSD, a estratégia de comunicação da maioria dos chefes de Estado europeus e elogiou a postura do Presidente francês.

Cavaco Silva citou o presidente francês Macron para criticar a “verborreia frenética da maioria dos políticos europeus dos nossos dias, ainda que não digam nada de relevante” .

“Primeira orientação [de Macron] não há promiscuidade no relacionamento com jornalistas. Contrariamente a outros políticos não farei dos jornalistas os meus confessores”, citou ainda o histórico ex-presidente do PSD, ex-primeiro-ministro da segunda metade dos anos 80 e começo de 90 e ex-Presidente da República.

Numa subtil alusão ao estilo de Marcelo Rebelo de Sousa, Cavaco usa a postura de Macron para contrapor com o estilo do atual Presidente da República, sem nunca no entanto pronunciar o seu nome. “Macron entende que a palavra presidencial deve ser escassa, por isso é que lhe chamam Presidente Júpiter, um Deus de palavra rara no seu Olimpo”, foi a frase que soou a uma crítica ao seu sucessor em Belém. Sem nunca se referir a nomes, Cavaco está aparentemente a criticar o actual estilo do Presidente da República que comenta todos os assuntos quase em tempo real.

“A independência em relação aos jornalistas é um principio básico do exercício de funções públicas. A atitude que melhor serve o interesse do país e dos próprios políticos é o respeito pelos profissionais da comunicação social, mas mantendo distanciamento e nunca negociando aquilo que publicam ou deixam de publicar”, disse ainda Cavaco Silva na Universidade de Verão do PSD.

Criticou também as falsas notícias, “que não existem apenas na América do Senhor Trump. Existem também na generalidade dos países europeus e também em Portugal”.  E deu um exemplo: “na sequência do Conselho de Estado que teve lugar em julho de 2016, cujo tema foi situação política, económica e financeira internacional, e os seus reflexos em Portugal num quadro de curto, médio e longo prazo, um jornal diário escreveu o seguinte título: ‘Cavaco estraga a unanimidade do Conselho de Estado sobre sanções da União Europeia’ matéria sobre o qual eu não pronunciara uma única palavra no Conselho de Estado”.

Governos que querem revolução socialista acabam a perder o pio ou fingem que piam

Cavaco defendeu ainda que, na zona euro, a realidade tem uma força tal que acaba sempre por derrotar a ideologia. “A realidade ao tirar o tapete à ideologia projeta-o com uma tal força contra a retórica daqueles que no Governo querem realizar a revolução socialista que acabam por perder o pio ou fingem que piam, mas são pios sem qualquer credibilidade porque não são mais do que jogadas partidárias”.

Cavaco Silva diz que “é corrente apresentarem-se três casos de países da zona euro onde a realidade tirou o tapete à ideologia”, citando o caso de França e Grécia mas sem se referir explicitamente ao caso de Portugal.

“Os governos dos países da zona euro, ao chegarem ao poder, podem começar com alguns devaneios revolucionários mas acabam por perceber que a realidade tem uma tal força que, ou através do aumento de impostos indiretos que anestesiam os cidadãos, cortes nas despesas públicas de investimento, medidas pontuais extraordinárias e cativações das despesas correntes e consequente deterioração serviços públicos ou contabilidade criativa, acabam sempre por conformar-se com as regras europeias de disciplina orçamental”, disse o ex-líder do PSD.  O que encaixa perfeitamente numa crítica ao governo da geringonça.

Cavaco foi recebido na Universidade de Verão pelo presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, que se deslocou a Castelo de Vide de propósito para assistir à aula do ex-Presidente a República e antigo primeiro-ministro, avança a Lusa.

(atualizada)

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