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Cavaco Silva diz ter servido de “intermediário” entre Sócrates e Passos Coelho em 2011

No prefácio do livro autobiográfico de Eduardo Catroga, afirma que este recusou ser ministro de Nobre da Costa e Santana Lopes, e só à segunda aceitou o seu convite para as Finanças.
  • Cavaco Silva
9 Outubro 2018, 17h46

O ex-Presidente da República Aníbal Cavaco Silva afirma ter aceitado desempenhar o “papel de intermediário” entre José Sócrates e Pedro Passos Coelho, aquando da negociação com a troika, em 2011, para “evitar uma crise política”.

O ex-chefe de Estado não poupa elogios ao seu antigo ministro das Finanças num texto em que revela que Catroga o manteve “regularmente informado” das negociações entre o Governo de José Sócrates, uma delegação do PSD e a troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) com vista a fechar o Programa de Assistência Económica e Financeira nos meses de Abril e Maio de 2011.

“As negociações prolongaram-se por uma semana e passaram por fases de impasse e de ruptura. Eduardo Catroga, apoiado por Carlos Moedas, apresentou-se muito bem preparado, dominando ao pormenor as questões orçamentais, e revelou-se um negociador político hábil, mantendo-me regularmente informado do curso das negociações”, escreve. Cavaco refere que Catroga lhe enviou “cópias das quatro cartas que escreveu ao ministro responsável pelos contactos com os partidos, Pedro Silva Pereira, e delas deu conhecimento à troika.

“As desconfianças por ele manifestadas sobre a verdadeira situação das finanças públicas vieram a confirmar-se”, comenta logo a seguir. Outra das revelações no prefácio de Gestão, Política e Economia – Vivências e Reflexões, foi que Catroga rejeitou integrar o Governo de Nobre da Costa, em 1978, (de iniciativa presidencial de Ramalho Eanes). “O mesmo terá acontecido com Pedro Santana Lopes, na sua tentativa para que Catroga integrasse o Governo a que presidiu na sequência da nomeação de José Manuel Durão Barroso para presidente da Comissão Europeia, e com Pedro Passos Coelho, para que ocupasse a pasta da Economia do Governo de coligação PSD-CDS”, sublinha.

“Eu próprio, como primeiro-ministro, falhei na tentativa de o trazer em 1990 para o Governo, mas tive sucesso mais tarde, em finais de 1993”, assinala. Nessa data, acabou por conseguir após uma “ampla remodelação” do executivo. “Registo com satisfação o facto de ter sido o único primeiro-ministro a convencer aquele que era visto como um dos melhores gestores portugueses a aceitar integrar um Governo. Presumo que foram decisivas três razões: o peso na consciência por já ter rejeitado vários convites para servir o País como membro do Governo; ter acumulado uma folga financeira mais do que suficiente para acomodar os prejuízos que um cargo ministerial no seu caso implicava; e ter-lhe oferecido uma pasta ministerial bastante aliciante, as Finanças, a mesma com que Sá Carneiro, em Dezembro de 1979, vencera a minha resistência a integrar o Governo da Aliança Democrática”, frisa.

Cavaco Silva salienta que a nomeação de Catroga para ministro das Finanças “apanhou o mundo político e mediático de surpresa”. “Não era conhecido como especialista de macroeconomia e, apesar da sua reputação como gestor, era um desconhecido nos meios político-partidários”, indica. Atendendo à crise económica de 1992 e início de 1993, Catroga era “a pessoa certa à frente do Ministério das Finanças para promover a criação de condições para a recuperação sustentada da economia portuguesa e marcar um novo ciclo de crescimento e progresso, como aliás, se veio a confirmar”.

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