Mário Centeno falava na abertura do “Grande Encontro Banco do Futuro”, uma iniciativa do “Jornal de Negócios”, sinalizando que “a médio-prazo, o sobre-endividamento pode levar à redução do investimento, enfraquecendo a competitividade e o crescimento económico”.
Como medidas de resposta, o Governador do BdP elencou alguns exemplos de medidas de recapitalização do tecido empresarial, de forma a “reduzir a alavancagem e aumentar a capacidade de serviço da dívida” das empresas.
Entre as medidas elencadas, Mário Centeno destacou os apoios diretos, isto é, transferências de capital para as empresas, a participação no capital social ou a emissão de dívida subordinada com capital púbico ou incentivos fiscais “de modo a favorecer injeções de capital privado nas empresas”.
E reforçou que, em todos estes casos, os instrumentos de capital devem ser “privilegiados” e adiantou que uma utilização de fundos públicos “eficiente” deve focar-se em empresas viáveis, uma vez que as que não o são, “não devem ser recetoras destes apoios”.
Por outro lado, o Governador salientou que uma retirada “precoce” dos apoios públicos que foram dados à economia durante a pandemia acarreta riscos, numa altura de “elevada” incerteza e “fraca” recuperação económica.
“Por um lado, uma retirada precoce dos apoios ao emprego e ao crédito terá um efeito desestabilizador nas condições de oferta e no ritmo de recuperação económica. Empresas com alta alavancagem, mesmo se viáveis, enfrentariam problemas de racionamento de crédito. Por outro lado, a extensão das medidas de apoio daria origem a uma indesejável manutenção do emprego e de afetação de crédito a empresas inviáveis, o que pesará nas perspetivas de crescimento futuras, sempre dependentes da realocação de recursos escassos”, afirmou Mário Centeno.
“Distanciamento social não é sinónimo de confinamento”
O Governador do BdP afirmou que há medidas de mitigação de risco de contágio de Covid-19 que são menos restritivas para a mobilidade e, consequentemente, têm menos impacto económicos, sem perderem a sua eficácia. Mário Centeno defendeu, assim, a manutenção da abertura da economia enquanto se combate a crise sanitária.
“Distanciamento social não é sinónimo de confinamento. A utilização de máscaras, a realização de testes e a identificação de surtos são substitutos muito eficazes. Devemos usá-los”, disse o líder do supervisor do banco central.
E lembrou que a recuperação em “V” da economia registada na segunda fase da crise e que levaram a uma revisão em alta do crescimento económico no terceiro trimestre dá “alento” para manter a economia a funcionar enquanto se mitiga o contágio do novo coronavírus.
“A resposta em V “quase perfeito” que a economia deu à redução parcial do confinamento deve ser lida como um alento para adaptarmos as medidas nesta fase, deixando a economia funcionar, sem perder de vista a nossa segurança”, realçou Mário Centeno.
Resposta à crise também deve ser europeia
O Governador realçou ainda o papel europeu na resposta à crise, que não deve passar unicamente por soluções nacionais.
Mário Centeno referiu que persistem questões “não resolvidas” na estrutura de gestão de crises na Europa e que, por isso, merecem “atenção urgente”.
“Estou a falar não só de concluir a União Bancária, mas, mais além, de aprofundar a União de Mercado de Capitais e todas as matérias que impedem o estabelecimento de uma forte integração financeira entre os países da Área do Euro”, vincou.
Entre outras medidas, Mário Centeno destacou a harmonização dos procedimentos de insolvência, a conclusão da criação de um apoio para o Fundo Único de Resolução e a conclusão da revisão do Tratado do Mecanismo Único Europeu e de um Sistema de Garantias de Depósitos Europeu.
“São passos são passos que aumentariam a confiança no sistema e favoreceriam todas as jurisdições. Sem exceções”, salientou.
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