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Centeno defende que recuperação europeia até ao terceiro trimestre foi “a mais impressionante a seguir a uma crise”

O governador do Banco de Portugal destacou as diferenças entre a resposta à crise pandémica e à crise financeira de 2008, argumentando que agora o bloco europeu se encontra muito mais preparado para situações de stress, em parte porque o sistema financeiro se encontra mais resiliente, mas também pela adequada postura das instituições europeias.
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    José Sena Goulão/Lusa
5 Novembro 2020, 13h36

O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, defendeu esta quinta-feira as medidas elencadas no Orçamento do Estado para 2021 (OE2o21), argumentando que uma crise temporária deve ser combatida com medidas temporárias e que o país, bem como a Europa, está melhor preparado para fazer face a uma crise como a atual do que estava há 10 anos, no meio da crise financeira.

Para o responsável pelo regulador bancário, que falava esta quinta-feira, no âmbito da Conferência Anual da Ordem dos Economistas, os dados da atividade económica no terceiro trimestre do ano comprovam a resistência e, até certo ponto, força da economia nacional e europeias, que recuperam da abrupta e profunda quebra fruto da Covid-19.

“O que observamos no terceiro trimestre foi a mais impressionante recuperação económica depois de uma crise e uma demonstração de vitalidade das economias europeias”, afirmou Centeno.

Para o antigo ministro das Finanças, tal foi possível devido à “trajetória de convergência” que Portugal viveu nos últimos anos, que lhe permitiu atingir uma estabilidade orçamental inédita, e pelo aumento da resiliência do sistema financeiro, uma resposta mais robusta à crise.

“Termos um sistema financeiro resiliente foi determinante para a rapidez e intensidade das medidas aprovadas”, argumentou o governador. “Só foi possível aos bancos enfrentarem a crise pandémica com posições de capital e liquidez mais sólidas do que na crise financeira global, o que facilitou também a adoção de medidas pelas autoridades europeias bancárias e de supervisão”, acrescentou, viçando que “os bancos fizeram parte da solução, não foram parte do problema”.

Também a resposta do Governo, que tem sido criticada por se focar demasiado nas famílias em detrimento do apoio ao tecido empresarial, mereceu apoio por parte do anterior ministro. “Devemos evitar, mesmo a todo o custo, afastar trabalhadores de empresas; isso significaria destruir a sua capacidade produtiva”, argumentou, remetendo para uma fase final da recuperação a passagem “da manutenção do emprego ao apoio à criação de novo emprego”.

Centeno avisou ainda que os fundos europeus terão de ser tratados com precaução, realçando que “desviar a nossa atenção da resposta à crise provocada pela pandemia, tratando-a como se ela fosse estrutural, vai atrasar a recuperação e criar dificuldades desnecessárias”. Assim, os fundos de Bruxelas deverão servir “para consolidar uma trajetória que vinha sendo seguida, com um reforço da aposta na digitalização e na modernização da nossa economia” e aplicados de forma racional, que não deixe “heranças para pagar no futuro”.

“Os fundos europeus alteram os preços relativos das nossas decisões. Mas não nos podemos iludir com os baixos custos de investimento, quando alguns desses projetos ocultam elevados custos de operação e manutenção no futuro. A situação económica do país no final de 2019 não clamava por um mundo novo, mas tão só por projetos estruturantes e produtivos”, alerta.

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