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CGD: “Foi a pressão da opinião pública que levou à divulgação da auditoria”, diz Marques Mendes

Marques Mendes acredita que o banco público sai a ganhar com esta auditoria, que permitiu distinguir “o trigo do joio” e mostrar como a Caixa funciona hoje de forma diferente. Sobre a discussão de nacionalização ou não dos CTT, o comentador defendeu que essa não é a solução para os problemas da empresa. Por fim, anunciou a requisição civil iminente dos enfermeiros.
3 Fevereiro 2019, 20h47

O social-democrata Luís Marques Mendes considerou este domingo, no seu habitual comentário na SIC, que a auditoria à Caixa Geral de Depósitos (CGD) só foi divulgada devido à pressão da opinião pública. Marques Mendes acredita que o banco público sai a ganhar com esta auditoria, que permitiu distinguir “o trigo do joio” e mostrar como a Caixa funciona hoje de forma diferente.

“Foi a pressão da opinião pública que levou à divulgação da auditoria”, afirmou Marques Mendes, dizendo que ninguém parecia não quer uma verificação rigorosa às contas da Caixa, entre gestores e a classe política. “Só havendo uma comissão de inquérito é que é possível divulgar a auditoria de forma transparente”, acrescentou.

Marques Mendes diz ainda que esta auditoria foi “boa” para a CGD, tendo em conta que permitiu “separar o trigo do joio e perceber quais os gestores que prevaricaram e aqueles que exerceram devidamente as suas funções”. Além disso, o social-democrata considera que a “CGD já está a dar a volta com resultados e com uma supervisão totalmente diferente”, o que permite mostrar aos portugueses que “a Caixa de hoje é diferente”, devido à supervisão do Banco Central Europeu (BCE) e ao facto de ter hoje uma administração mais rigorosa à frente do banco.

Os resultados da auditoria da EY à CGD, aos anos compreendidos entre 2000 e 2015, foram conhecidos esta sexta-feira. O relatório final foi entregue no Parlamento pelo presidente do banco estatal, Paulo Macedo, revelando que, em 186 operações de crédito analisadas, foram registadas perdas de 1.647 milhões de euros.

Nas 186 operações, verificou “uma maior concentração no período 2000-2007 e 2008-2011, onde simultaneamente se verificam também maiores percentagens de perdas”. Segundo o relatório, entre 2000 e 2007 foram realizadas 127 operações, com perdas acumuladas de 1.120 milhões; 47 operações entre 2008 e 2010 (477 milhões de perdas); oito entre 2011 e 2013 (40 milhões de perdas); e, quatro entre 2014 e 2015 (10 milhões).

CTT devem ser nacionalizados?

O PCP e o Bloco de Esquerda agendaram para dia 20 de fevereiro a discussão de um projeto de lei para voltar a nacionalizar a empresa liderada por Francisco Lacerda.

Perante isto, Luís Marques Mendes defendeu que a nacionalização “não é a discussão correta”. Para o comentador, o problema dos CTT tem mais a ver com a digitalização e a redução do uso de cartas e do pagamento de pensões.

Marques Mendes revelou ainda a perda de receita nos negócios tradicionais. Em 2001, eram enviadas 1.355 milhões de cartas e, em 2017, o volume de cartas caiu para 737 milhões. Já o pagamento de pensões era feito através dos CTT 700 mil em 2005 e em 2018 já só são pagas através dos correios 343 mil pensões. Isto porque a maioria passou a fazer-se através de transferência bancária.

Em ambos os casos, houve uma redução de 50% da atividade e menos atividade gera menos receitas; logo, é preciso reduzir custos. “É preciso uma estratégia para compensar isto”, defendeu citando a aposta nas encomendas e no Banco Postal. “Em metade dos países da Europa já segue a mesma linha de orientação, dos correios terem bancos”, salientou.

Recorde-se que foi recentemente noticiado que a Espanhola Correos anunciou a entrada em Portugal com entrega nas encomendas em 24 horas.

O cerne da questão dos CTT não está na nacionalização ou privatização, está na mudança dos hábitos, reforçou o comentador. “Não é a nacionalização que resolve o problema. Como se vê no exemplo da CGD. A Caixa é pública e, mesmo assim, também reduz pessoal e balcões. Tudo igual ao que se passa nos CTT. Porque também a digitalização chegou à banca”, salientou.

Marques Mendes falou também da cobertura territorial. “Há hoje menos estações de correios, tal como há hoje menos balcões da CGD, que é um banco público. Mas os concelhos onde não há estações dos CTT (33 concelhos) todos têm um ou mais postos de correio (130 no total destes 33 concelhos). Nenhum concelho fica sem serviço postal. Mas se o Estado quiser garantir que há uma estação dos correios em cada ponto do país, pode sempre mudar o contrato de serviço público que tem com os CTT”, defendeu.

A questão da distribuição de dividendos dos CTT também foi levantada. No ano passado os CTT distribuíram 57 milhões de euros pelos acionistas, quando a empresa só teve um lucro de 27 milhões de euros. “Para isso existe a Anacom, e o contrato de serviço público”, respondeu o comentador.

Ministro do Ambiente e os carros a diesel? O ministro tem razão

“Do meu ponto de vista o ministro esteve bem e tem razão”, disse Marques Mendes a propósito das declarações do ministro do Ambiente. Em entrevista publicada na edição de segunda-feira do Jornal de Negócios, João Pedro Matos Fernandes afirmou ser “muito evidente que quem comprar um carro diesel muito provavelmente daqui a quatro ou cinco anos não vai ter grande valor na sua troca”.

O comentador realçou que o ministro fez um aviso. “O automóvel a diesel tem os dias contados. Podem faltar 5, 7, 10 ou 15 anos, mas é uma tendência inevitável. As próprias marcas já estão a preparar essa mudança. Já há mesmo municípios no estrangeiro que proíbem carros a diesel nos centros das cidades e essa moda não tardará a chegar a Portugal”, reforçou Marques Mendes.

“É um governante a fazer pedagogia para mudar hábitos e mentalidades porque temos que ter atenção às alterações climáticas”, disse ainda o comentador.

Requisição civil dos enfermeiros iminente

Sobre a greve dos enfermeiros, que o primeiro-ministro, António Costa, considerou “ilegal e selvagem”, Marques Mendes deu uma “notícia em primeira-mão”: “ao que apurei pode estar iminente a requisição civil dos enfermeiros”.

“O Governo pediu agora um segundo parecer ao Conselho Consultivo da PGR sobre a requisição civil. O primeiro não lhe era favorável, porque defendia que só seria possível se não fossem cumpridos os serviços mínimos. Segundo informações que tenho é que o Conselho Consultivo da Procuradoria pode vir a dar parecer favorável ao Governo. Face à natureza da greve e a sua duração.  Se o segundo vier a ser favorável, o Governo fará a requisição civil dos enfermeiros”, referiu Marques Mendes.

O que se passa com o enfermeiros é que antes os sindicatos pediam que fossem consideradas três categorias: enfermeiro, enfermeiro especialista e enfermeiro diretor — e o Governo aceitou. O problema é que os enfermeiros exigem agora que, para cada uma destas categorias, haja um ajuste da remuneração e das competências — e o Governo diz que já fez o que devia fazer, lembrando, por exemplo, que está em vigor desde 1 de janeiro de 2018 uma “diferenciação remuneratória para enfermeiros especialistas, através da previsão de um suplemento remuneratório, no montante de 150 euros mensais”.

Os sindicatos dos enfermeiros dizem nem os salários nem as competências foram ajustados como deveriam: “As três categorias são só de nome. As mudanças são de tal forma irrelevantes que não podíamos aceitar”.

(atualizada)

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