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Chefe do governo espanhol visita Cuba 32 anos depois

Apesar da proximidade histórica, as duas nações tiveram sempre relações muito tensas. Por outro lado, Pedro Sánchez está interessado em ‘internacionalizar’ a sua prestação à frente de Espanha.
26 Setembro 2018, 07h15

Numa altura em que as relações entre Cuba e os Estados Unidos voltam a descer ao nível a que estiveram nas últimas seis décadas – depois de Donald Trump ter cortado os vazos comunicantes lançados pelo seu antecessor, Barack Obama – Pedro Sánchez será o primeiro chefe do governo espanhol a fazer uma visita oficial à ilha nos últimos 32 anos.

Num gesto que os analistas vêm como uma natural entre dois países com uma longa história comum, mas também como um gesto de aproximação da parte da União Europeia, os dois países acordaram a visita à margem da reunião realizada na sede da Assembleia Geral da ONU em Nova Iorque, num encontro entre Sánchez e o novo presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, sucessor dos irmãos Castro.

A história recente dos dois países não tem sido pacífica: até por razões linguísticas, Espanha foi sempre o destino preferido dos que queriam fugir ao regime castrista e optavam pelo exílio – o que acabou, já no tempo da democracia espanhola, por impedir a natural reaproximação entre os dois regimes depois da morte de Franco. Isto, claro, para além do pouco apreço que Espanha tinha pela deriva pró-soviética do regime cubano. No período franquista – e apesar de a família dos irmãos Castro ser originária da Galiza, tal como a de Franco – por maioria de razão não havia qualquer hipótese de diálogo entre Havana e Madrid. A substituição de Raul Castro por Díaz-Canel acabou por desanuviar a atmosfera entre as duas capitais.

Mas a viagem – que deverá ser ‘encaixada’ na visita de Sánchez a outros estados da Ibero-América (como Espanha também trata a América Latina) – serve também propósitos de política interna do chefe do governo espanhol. É que, dizem os analistas, uma das formas que o chefe do governo socialista quis assumir para se distanciar do seu antecessor, o popular Mariano Rajoy, foi precisamente a de insistir na ‘internacionalização’ da sua ação.

Rajoy esteve sempre razoavelmente desconfortável perante a necessidade de organizar visitas de Estado e foi o mais parco possível nessa área. Aliás, uma das críticas mais transversais à atuação de Rajoy (quer à direita quer à esquerda) foi precisamente a de nunca ter sabido impor a Espanha na agenda internacional – o que resultou na quase inexistência de espanhóis em lugares de destaque mundial.

Ainda há bem pouco tempo, um comentador do jornal ‘El Pais’ admirava-se (num sentido crítico) de, nesse particular, um pequeno país como Portugal ter um destaque tão imensamente maior que Espanha.

Sánchez quer mudar tudo isso – e a primeira evidência dessa vontade política foi ter ‘atirado para a frente’ a Espanha quando estalou a crise entre os barcos de refugiados que navegam o Mediterrâneo e as autoridades italianas. Perante a oportunidade, o chefe do governo espanhol não hesitou, e de uma penada, fez regressar a Espanha ao topo da agenda. Pelo menos da agenda da União Europeia.

O problema é que as pretensões ‘internacionalistas’ de Sánchez esbarram com uma postura em tudo idêntica do seu vizinho de leste, o presidente francês Emmanuel Macron – que tem sabido lidar como ninguém com os avatares da política internacional nas mais diversas geografias. Resta por isso a Sánchez não sair, pelo menos para já, da ‘zona de conforto’ de Espanha: a Ibero-América.

O chefe do governo espanhol estará na cimeira Ibero-Americana de novembro, na Guatemala, e na Cimeira do G-20 em Buenos Aires, no final do mês.

Nenhum chefe de governo espanhol esteve em Cuba em uma viagem oficial desde 1986, quando Felipe González lá esteve.

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