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Chegaram os sistemas de depósito de plástico. Como funcionam na Noruega e na Lituânia?

Coca-Cola, Pepsi e Danone são as marcas que mais poluem o planeta. A Nestlé e a Evian já prometeram inserir embalagens recicladas no mercado. Na Lituânia, por exemplo, existem mais de 1.700 pontos de recolha e já foram atingidos e superados os objetivos previstos para 2025.
22 Fevereiro 2019, 17h05

O sistema de depósitos ainda é um termo que não é muito conhecido em Portugal. Noutros países, este sistema está tão avançado que o lixo proveniente de embalagens já é reciclado em cerca de 90%. Foi, aliás, o mote para um dos debates da conferência “Vive(r) sem plástico”.

Na mesa, a presença de Gintaras Varnas, diretor-geral da USAD, que gere o sistema de depósitos na Lituânia, Clarissa Morawski, da Reloop Plataform e Tor Guttulsrud, diretor da Infinitum, foram as mais marcantes por conseguirem desenvolver e sustentar os bons resultados obtidos através deste método.

O lituano afirma que “o sistema não é feito para ter lucros” e que é completamente liderado pela indústria, como deve ser sempre. Varnas afirmou que embora existam poucas empresas destas no país, 60% do material reciclado são embalagens, de plástico e de metal, de bebidas.

Desde 2016 que a reciclagem de embalagens PET (plástico), metal e vidro é obrigatória, desde que vão até aos três litros de capacidade. Desde que os recipientes sejam de cerveja, água ou sumos, podem ser devolvidos. De momento, são devolvidos 0,10 euros por estes depósitos de embalagens não reutilizáveis, ainda que Varnas assegure que as embalagens de leite não constam na lista.

Atualmente, existem mais de 1.700 pontos de recolha para estes materiais que dão dinheiro a troco de embalagens. Estas máquinas permitem à Lituânia poupar em mão de obra e faz com que atinjam os valores assinalados, sendo que no discurso, Gintaras Varnas assumiu que o país já atingiu e superou os objetivos previstos para 2025. Apenas nove pessoas gerem este sistema de depósito, que permitem um maior valor de reciclagem, uma vez que todos os materiais recolhidos são 100% reciclados.

Num inquérito realizado pela USAD da Lituânia, o diretor-geral declarou que 93% dos consumidores inquiridos consideraram que a introdução deste sistema fez com que tivessem mais cuidado com a separação dos resíduos.

Apesar de o depósito ter demorado um ano e meio a ser implementado, uma vez que a empresa foi criada em 2014 e o projeto só teve início a meio de 2016, ao longo dos anos a indústria conseguiu alcançar neste último ano 92% de embalagens recicladas. Varnas adianta que este sistema de depósito que funciona na Lituânia é muito mais eficiente que os ecopontos e fica, efetivamente, mais barato. O responsável sustenta a sua afirmação enquanto afirma que “o sistema de depósito está a aumentar e os ecopontos não. É isto, eficiência”.

A diretora-geral da Reloop Plataform, assume que assistiu a mais mudanças nas premissas e nas atitudes mundiais nos últimos oito meses do que em 25 anos de trabalho que já desenvolve. Para surpresa do público presente na conferência, apresentou uma lista das marcas mais poluentes, sendo que em primeiro lugar está a Coca-Cola, seguida pela Pepsi, Nestlé, Danone, P&G, Modelez e Unilever. A responsável por esta empresa garante que marcas como a Nestlé e a Evian já aceitaram aumentar o número de embalagens recicladas nos seus produtos.

Para a implementação deste sistema, Morawski aponta que é importante comparar as estatísticas de venda de materiais plásticos com os materiais recolhidos e prontos a reciclar, de forma a não existir fraude em relação aos níveis de reciclagem. “Para que os depósitos possam funcionar, o lixo tem de ser menos conveniente que a reciclagem”, aponta a canadiana da Reloop Plataform.

O norueguês da Infinitum, Tor Gulttulsrud, vê que “existe, na Europa, um grande empenho para a reciclagem e para o fim do plástico”. No entanto, coloca o seu país como exemplo, onde afirma que os materiais vão todos juntos e só depois é realizada a separação das embalagens nos depósitos finais. Assim, o diretor-geral da Infinitum garante que a reciclagem é mais eficiente e reduz o custo da mão de obra utilizada.

Apesar de apresentarem elevados valores de reciclagem, o responsável por esta marca garante que ‘a bola’ está do lado dos produtores, sendo que estes não pagam taxas se o país alcançar os 95% de reciclagem. Caso não alcancem os objetivos, podem pagar mais de 60 milhões de euros em taxas.

O mediador deste debate, Nuno Lacasta, afirma que com as novas diretivas “as metas são muito exigentes” e isso vai ser o teste para melhorar Portugal. “Temos estado focado em países com escalas semelhantes à nossa, e temos tido em conta questões monetárias e logísticas” afirma o presidente da Agência Portuguesa do Ambiente.

Aponta a sensibilização como “absolutamente crucial” e garante que “temos todos os elementos para fazer as coisas certas com os motivos certos”. “Esta nova medida é imprescindível” declara o presidente.

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