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Ciclones custam 50 milhões à Galp

Prejuízo de milhões – ainda em avaliação – e meses de obras deitados por terra atrasam o parque de tanques de combustível da Galp na Beira, que agora não estará operacional antes de janeiro de 2020.
19 Maio 2019, 09h00

Primeiro foi o ciclone Idai, que devastou uma parte de Moçambique entre 4 e 21 de março. Depois, foi a vez do ciclone Kenneth, que causou a devastação entre 21 e 29 de abril. O resultado destas tragédias deixou um cenário de destruição total. Foram literalmente arrancadas casas, armazéns, infraestruturas, supermercados, escolas e grande parte dos investimentos que estavam a ser feitos nas zonas de Moçambique afetadas pelos dois ciclones – na zona da Beira e ao norte do país, em Cabo Delgado.

Segundo referiu ao Jornal Económico (JE) a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (Aicep) é a Galp que neste momento desenvolve “o principal projeto de investimento português em Moçambique”.

O segundo maior projeto português em Moçambique é o da Navigator. “As empresas portuguesas que já criaram as suas estruturas em Moçambique continuam a investir e deste grupo podemos destacar quer a banca BIM e BCI, quer a Visabeira e a Mota-Engil”, esclareceu a Aicep.

Os valores investidos pelos portugueses em Moçambique não são reduzidos. Pelo contrário. Sobre a posição (stock) do Investimento Direto de Portugal no Exterior (IDPE) em Moçambique, a Aicep refere que se tem mantido relativamente constante, variando entre os 1.069 milhões de euros em dezembro de 2014 e os 956,4 milhões de euros em dezembro de 2018.

Na zona moçambicana da Beira, um dos investimentos em curso era o Parque de Tanques da Galp, que tinha em fase de conclusão cinco tanques de combustíveis e um tanque de água, que levaram mais de cinco meses a serem construídos, detalharam ao JE fontes de Moçambique, referindo que o investimento feito tinha sido da ordem dos 50 milhões de euros.

Mas estes tanques foram arrasados com o temporal. O JE sabe que esta infraestrutura deveria começar a ser operada em junho e que a construção dos tanques foi feita por soldadura de chapas metálicas. Os maiores tanques tinham mais de 40 metros de diâmetro por mais de 20 metros de altura.

O primeiro empreiteiro nesta obra veio da África do Sul, mas os problemas sucederam-se, e deixou o projeto. A metalúrgica portuguesa AMAL também esteve interessada nesta empreitada e afastou-se. Agora, a obra estava a ser seguida pela SIMI – Sociedade Internacional de Montagens Industriais, quando ocorreu a tragédia. As fontes do JE em Moçambique dizem que a reconstrução não terá condições para ser totalmente retomada antes de agosto e que o projeto deverá ter mais de cinco meses de obra, sendo imprevisível uma data de conclusão, que será sempre posterior a janeiro de 2020. O montante total das perdas e o valor do novo investimento ainda não estão apurados, estando em causa “dezenas de milhões de euros e uma indemnização a receber por parte das seguradoras que contratadas”. Contactada pelo JE, a Galp refere que se encontra “presente em todo o território moçambicano, fruto de uma história de mais de 60 anos de investimentos em projetos de norte a sul do país”. “No quadro do compromisso crescente com o desenvolvimento do país, a Galp decidiu reforçar as infraestruturas logísticas com a construção, atualmente em curso, de dois parques de armazenagem, um na Matola, perto de Maputo, outro na cidade da Beira”, adiantou a Galp.

“Dada a presença em todo o território, é inevitável que a Galp seja afetada por ocorrências da dimensão atingida pelo ciclone Idai, que danificou alguns dos nossos postos no terreno e provocou danos nos equipamentos em fase de instalação no âmbito da construção do terminal logístico de combustíveis em curso na Beira”, explica a petrolífera.

“Os danos no terminal logístico encontram-se neste momento em avaliação, para determinar a sua extensão e as soluções técnicas mais apropriadas para a sua reparação ou substituição”, refere ainda a Galp, esclarecendo que “só após essas perícias técnicas, atualmente em curso em conjunto com o empreiteiro e as entidades seguradoras, será possível estimar tanto o atraso como os prejuízos a considerar”.

Mas além da tragédia da Beira, o potencial risco das sucessivas intempéries e ciclones que devastam Moçambique ainda se torna mais relevante atendendo a que o plano de expansão da Galp em Moçambique não se confina na construção desta base logística para recepção, armazenagem e expedição de combustíveis na cidade da Beira.

A norte do país, na região de Cabo Delgado (afetada pelo ciclone Kenneth), a Galp participa nos projetos Coral Sul (onde a Galp detém uma participação de 10%), associada à italiana Eni e à sul-coreana Kogas, e onde se localiza o maior de todos os projetos de gás natural, o Mamba, a que o presidente executivo da Galp, Carlos Gomes da Silva, tem chamado a “jóia da coroa”, que terá capacidade para produzir 7,6 milhões de toneladas por ano (mtpa) de gás natural liquefeito.

Neste projeto, a Galp terá de decidir se quer manter-se como inicialmente equacionou, com os parceiros na Área 4 da Mozambique Rovuma Venture S.p.A. (detentora de uma participação de 70% na Área 4), onde figuram, designadamente, a ExxonMobil (operador do projeto Mamba onshore, através de uma participação indireta de 40%), a Eni (operador do projeto offshore Coral Sul FLNG) (através de uma participação indireta de 40%), a China National Petroleum Corporation – CNPC, (que detém uma participação indireta de 20%), a Kogas (com uma participação de 10%) e a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH) (que detém 10%). O projeto Coral Sul incluirá uma unidade de liquefação de gás natural flutuante (FLNG) com uma capacidade anual superior a 3,4 milhões de toneladas por ano (mtpa) de gás natural liquefeito (GNL). A Galp referiu ao JE que estes projetos ainda estão a ser avaliados.

Artigo publicado na edição nº 1987 de 3 de maio, do Jornal Económico

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