[weglot_switcher]

Cientista da Universidade de Coimbra quer suavizar o inverno da vida

Bárbara Gomes tem cinco anos e 1,8 milhões de euros para captar a diversidade de trajetórias de fim de vida, de forma a possibilitar escolhas. O projeto terá início em janeiro e vai ser desenvolvido em quatro países com realidades contrastantes: Portugal, Holanda, Uganda e Estados Unidos.
5 Dezembro 2020, 16h00

“EOLinPLACE – Choice of where we die” (escolher o lugar onde morremos), poderá mudar a forma como olhamos para o fim da vida. A morte é um tema de que raramente se fala nas sociedades ocidentais contemporâneas, mas a cientista da Universidade de Coimbra Bárbara Gomes trabalha há mais de década e meia para romper o tabu. Uma bolsa “Starting Grant” do European Research Council, no valor de 1,8 milhões de euros, permite-lhe agora concretizar aquilo que define como “uma ideia arriscada, mas maturada”.

O tema acaba de ser validado pelo Conselho Europeu de Investigação e tem, segundo a cientista, grande potencial para fazer a diferença para muita gente. “Na verdade todos nós, porque todos nós vamos morrer, mais de 60% por doença crónica”, justifica.

A partir do seu gabinete na Universidade de Coimbra, Bárbara Gomes explica-nos: “Este projeto de investigação ambiciona transformar a forma como classificamos e entendemos os locais onde as pessoas são cuidadas no final da sua vida e onde acabam por morrer”. No concreto, a cientista vai refinar as classificações atuais, que são incompletas e inconsistentes entre países, como, por exemplo, o lugar da morte utilizado nas certidões de óbito.

“Vamos também deslocar o foco da nossa atenção do derradeiro local da morte para a trajetória individual de fim de vida que o antecede, o que acreditamos ajudará a perceber melhor o que leva as pessoas a morrer onde morrem”, fundamenta.

O projeto comporta a realização de estudos qualitativos e quantitativos em quatro países contrastantes: Portugal, Holanda, Uganda e Estados Unidos. Para o realizar, a investigadora da Universidade de Coimbra vai constituir uma equipa interdisciplinar, com especialistas em medicina, enfermagem, estatística e psicometria, sociologia, antropologia, economia e investigação em serviços de saúde, integrando investigadores experientes, doutorandos e assistentes de investigação dos quatro países. Aí trabalharão, lado a lado, com representantes de doentes e famílias, seguindo pessoas com doenças potencialmente fatais ao longo do tempo, com vista a criar “uma base científica sólida” para uma classificação internacional contemporânea e pioneira.

Qual é a meta? “Mapear os locais onde as pessoas preferem ser cuidadas e onde são realmente cuidadas – adianta Bárbara Gomes – assim, conseguiremos capturar a diversidade de trajetórias individuais de fim de vida e possibilitar escolhas”.

Com conhecimento novo sobre trajetórias individuais de fim de vida e uma classificação internacional que poderá ser utilizada para planear os cuidados e monitorizar resultados em saúde, a sociedade estará mais preparada para ajudar as pessoas a serem cuidadas e morrerem onde preferem.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.