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Cinco bancos portugueses somam 339 milhões de prejuízos no semestre

Nos resultados do semestre a tendência clara é a melhoria da qualidade dos ativos, refletida na redução do peso das imparidades no total do crédito. Mas o crédito em risco ainda é um tema importante a estar atento nalguns dos bancos, sobretudo no Novo Banco e no Montepio.
  • Cristina Bernardo
31 Julho 2017, 07h47

Os cinco maiores bancos que já apresentaram resultados líquidos semestrais tiveram no conjunto 339 milhões de euros de prejuízos.

O Novo Banco lidera o ranking das perdas ao ter apresentado 290,3 milhões de euros de prejuízos. Ainda assim, o banco que está em processo de venda ao Lone Star teve uma melhoria dos seus resultados, ao reduzir os prejuízos em 19,9% face ao prejuízo apurado até junho de 2016 (-362,6 milhões de euros).

Em segundo lugar, na comparação dos números reportados surge o BPI com prejuízos de 101,7 milhões de euros.

Mas enquanto o Novo Banco tem prejuízos graças ao ainda elevado número de imparidades, fruto de uma problemática carteira de crédito e de ativos imobiliários, o BPI teve prejuízos contabilísticos não recorrentes, resultado de uma operação de desconsolidação do BFA em Angola. Aliás ao nível da qualidade da carteira de crédito o BPI bate aos pontos os seus pares. O banco agora do CaixaBank reduziu drasticamente as imparidades totais líquidas de 62 milhões no período homólogo do ano passado para 5 milhões de euros em junho deste ano.

O banco, liderado agora por Pablo Forero, apresentou um prejuízo de quase 102 milhões no primeiro semestre face a um lucro de 105,9 milhões no primeiro de 2016. Mas o resultado líquido recorrente ascendeu a 188 milhões de euros no semestre, o que compara com 106 milhões no semestre homólogo (+77%). Isto expurgando os impactos pontuais (one-off) relacionados com a contabilização da venda de 2% do BFA (-212 milhões de euros) e os 106 milhões de custos com o programa de redução de pessoal.

Os lucros do BFA passaram a ser contabilizados como resultados de atividades em descontinuação. Mas ainda assim o BPI deve 50% dos 188 milhões de euros de resultados recorrentes ao BFA. Verificou-se um aumento do contributo do BFA para o resultado consolidado do BPI; passando de 79 milhões no 1º semestre de 2016 para 96 milhões no 1º semestre de 2017 (+21.5%). Em base trimestral o BPI divulgou um lucro de 20,6 milhões.

Outro banco com prejuízos no semestre foi a Caixa Geral de Depósitos. O resultado líquido do semestre foi de quase -50 milhões de euros, impactado por custos não recorrentes de 366 milhões de euros. Mas a instituição liderada por Paulo Macedo teve um resultado de exploração core (ou seja, margem financeira e comissões subtraído dos custos recorrentes de estrutura) positivo de 303 milhões graças à subida da margem financeira, que foi uma constante em quase todos os bancos, excepto no BPI e no Novo Banco onde esta receita de juros caiu.

A CGD fez uma grande limpeza da sua carteira de crédito no fim do ano passado, altura em que constituiu imparidades de 3.016,9 milhões de euros, originando um prejuízo anual de  1.859 milhões de euros em 2016. Portanto as imparidades para crédito não foram um tema relevante para a CGD no semestre. O banco teve apenas 54,7 milhões de euros de imparidades para crédito. O valor foi mais alto nas imparidades para outros ativos, onde se inclui o imobiliário. Em termos líquidos estas imparidades foram de 343,7 milhões.

Quedas nas receitas core

O BCP e o BPI foram os bancos que registaram quedas no seu produto bancário, que é o produto da atividade core de um banco. Sendo que o BPI apresentou números com rubricas reclassificadas, com a estrutura adoptada no 1º semestre de 2017 de acordo com o formato do CaixaBank e ainda apresentou resultados excluindo os resultados não recorrentes (impacto da venda dos 2% do BFA e desconsolidação pelo método integral), pelo que a comparação anual perde-se no meio de tantos ajustamentos. Mas sem fatores não recorrentes o produto bancário teria subido 27%, em vez da queda de quase 21% como foi reportado.

Do lado dos lucros no semestre estiveram o BCP e o Montepio Geral. Sendo que num caso e noutro passam de prejuízos a lucros no prazo de um ano. O BCP apresentou lucros de 89,9 milhões e o Montepio de 13 milhões de euros.

No caso do maior banco privado português, o lucro foi de 89,9 milhões em termos semestrais, equivalente a um ROE (rentabilidade dos capitais próprios) de 3,3% o que compara com perdas de 197,3 milhões no 1º semestre de 2016. O contributo das operações internacionais foi de 87,1 milhões no 1º semestre de 2017 (o que compara com 99,4 milhões no período homólogo). Recorde-se que os resultados do 2º trimestre do BCP incorporaram um custo de 58 milhões de euros relacionado com contribuições obrigatórias do setor que o BCP regista no 2º  trimestre de cada exercício. Esse trimestre teve para todos os bancos o mesmo facto não recorrente: as contribuições para os Fundos de Resolução (nacional e europeu), para o Fundo de Garantia de Depósitos e a contribuição extraordinária para o setor bancário (imposto Sócrates).

Os pontos fortes dos números do BCP foram a dinâmica visível no crescimento das principais linhas de receitas (margens e comissões), na estabilização do custo do risco de crédito em 1,18% (pior do que os seus pares neste indicador, mas estabilizou) e na redução significativa do stock de ativos problemáticos (NPEs).

O Custo do Risco de Crédito, que traduz o peso das imparidades líquidas de recuperação em percentagem da carteira de crédito, no geral cai na banca. No BCP caiu 41,9% num ano.

O BPI é neste indicador o melhor, ao ter descido de 0,09% em 2016 para 0,07% em junho de 2017. Na Caixa Económica Montepio Geral o custo do risco desceu de 1,19% em 2016 para 0,86% no primeiro semestre. Na CGD a queda do custo do risco foi das mais significativas, passando de 0,86% em junho de 2016 para 0,16% em junho deste ano.

Mas o crédito em risco ainda é um tema importante a estar atento nalguns dos bancos, sobretudo no Novo Banco (25,9% do total da carteira) e no Montepio (pesa 15,1% da carteira). O BCP apresentou um rácio de crédito em risco de 10,9%, seguido da CGD onde o crédito em risco é 9,8% do total. O BPI é claramente o melhor neste campo ao ter um rácio de crédito em risco de 3,6%.

Ao nível das comissões também não há uma tendência clara uniforme. Temos o caso da CGD onde a evolução das receitas pelas comissões cobradas estabilizou e a subida foi inexpressiva e outros casos onde as receitas com comissões dispararam, como é o caso do Novo Banco onde as comissões subiram 10,5% e o caso do Montepio onde a receita com juros subiu 19,5% em junho contra junho de 2016.

O produto bancário caiu em três dos cinco bancos. Subiu na CGD (57,1%) e no Montepio (49,2%) e caiu no BPI (-20,92%), no Novo Banco (-2,2%) e no BCP (-1%).

Nos custos a CGD e o BPI contrariaram a tendência de queda do setor. O campeão da queda dos custos foi o Montepio (-25,3%); logo seguido pelo Novo Banco (-12,8%). No BPI os custos subiram para 338,7 milhões de euros no semestre o que compara com 256,8 milhões em junho de 2016 (valores proforma).

Na CGD os custos subiram 1,8% inflacionados pelos custos com pessoal referentes ao programa de pré-reformas de 2016 e 2017 e ao programa de revogação por mútuo acordo. O banco tem ainda por resolver os custos com indemnizações aos dois administradores que integraram a equipe de António Domingues e que não se demitiram nem foram reintegrados. O custo poderá ascender a um milhão de euros cada. Este valor estará já provisionado.

A queda das imparidades é uma tendência generalizada aos cinco bancos. CGD e BPI lideram a queda das imparidades para crédito, quedas anuais de 81,9% e 53,6%, respectivamente. Seguido do BCP que diminuiu as imparidades do crédito em 50,7%; depois o Montepio que baixou 25,6% e por fim o Novo Banco que conseguiu diminuir em 8,5% as imparidades para crédito.

Ao nível do Balanço, o crédito a clientes baixou no semestre em todos os bancos. Os Recursos de clientes, por sua vez, não apresentam uma tendência definida, havendo bancos que sobem, quem praticamente mantêm, como o Novo Banco, e bancos que reduzem (por exemplo o Montepio).

Em termos de rácio de capital, o pior é, como era previsível, o Novo Banco (com o rácio CET1, na versão calculada como se todas as regras de Basileia III já estivessem aprovadas, de 9,8%) e o melhor é, também sem surpresas dado o elevado aumento de capital, a CGD que tem um rácio de capital Common Equity Tier 1, na versão fully loaded, de 12,5%.

Após a concretização de boa parte do Plano de Recapitalização acordado com Bruxelas a CGD reforçou já o seu capital em 4,4 mil milhões de euros, faltando apenas a segunda tranche da emissão de dívida altamente subordinada (Aditional Tier 1).

Em termos de liquidez, todos os bancos superam o mínimo legal (LCR de 80%), sendo que a CGD lidera com um rácio LCR (Liquidity Coverage Ratio) de 222%. Curiosamente o Novo Banco é o mais fraco em rácio de liquidez e é quem precisa mais dela porque tem uma oferta no mercado para recompra de 36 séries de dívida sénior, o que pode custar ao banco liderado por António Ramalho 2,7 mil milhões de euros.

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