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CIP diz no Parlamento que o Brexit trará fortes inconvenientes às trocas bilaterais

António Saraiva foi esta terça-feira ouvido na Comissão de Assuntos Europeus, numa audição pedida pelo Grupo Parlamentar do CDS-PP.
  • Cristina Bernardo
4 Dezembro 2018, 19h17

A médio-longo prazo, a alteração do quadro de relacionamento entre o Reino Unido e a União Europeia “encerra um risco forte para as exportações de bens e serviços portuguesas, que pode resultar em reduções potenciais das exportações para o Reino Unido entre 15% e 26%, dependendo do tipo de relacionamento comercial futuro que vier a ser estabelecido”.

Esta visão muito negra do relacionamento entre os dois países a partir de março do próximo ano foi repetida pelo presidente da CIP, António Saraiva, esta tarde na Comissão de Assuntos Europeus, numa audição pedida pelo Grupo Parlamentar do CDS-PP.

Aquele valor resulta de um estudo aprofundado que a CIP mandou fazer – mas que choca com a enorme margem de desconhecimento que ainda existe em relação àquilo que vai passar-se depois do Brexit. De facto, a envolvente económica entre o Reino Unido e qualquer dos países que permanecem na União Europeia será necessariamente muito diferente se o Brexit for feito de forma suave (com acordo) ou sem acordo.

O estudo adianta ainda que deverá haver reduções de fluxos de investimento direto estrangeiro dirigidos a Portugal entre 0.5% e 1,9% e reduções de remessas de emigrantes entre 0,8% a 3,2%.

Mas nem tudo são más notícias, segundo António Saraiva pôde confirmar aos deputados da Comissão. “Confrontando a análise dos riscos com as oportunidades é interessante verificar que, para dois dos setores que enfrentam níveis de risco alto ou médio alto existem, no entanto, oportunidades que podem permitir compensar os referidos níveis de risco. Estão nesta situação os veículos automóveis e os produtos farmacêuticos”. Não no mercado britânico, claro, mas nos mercados da União Europeia, onde a concorrência do Reino Unido deixará de ser tão severa.

Para outros produtos classificados como de risco elevado ou médio alto é “também importante destacar que os mesmos gozam de uma proteção decorrente da presença histórica no mercado britânico, proteção essa que pode mitigar as perdas. Poderão, com esta vantagem competitiva, substituir, no mercado britânico fluxos atualmente provenientes de mercados europeus nossos concorrentes”.

De qualquer modo, António Saraiva não quis deixar de afirmar que “o quadro de impactos do Brexit na economia portuguesa tem um caráter transversal: nos bens e nos serviços, no comércio e no investimento internacional, nos fluxos migratórios e nas remessas de emigrantes, no turismo e no imobiliário”.

O estudo apresenta recomendações relativas à reconfiguração das estratégias e práticas empresariais e à reorientação das políticas públicas, que António Saraiva se preocupou em deixar explícitas à Comissão.

Os resultados alcançados justificam quatro linhas de recomendações, conjugando a mitigação dos riscos com a potenciação de oportunidades. Em primeiro lugar, o presidente da CIP pediu “um esforço pró-ativo de valorização do Reino Unido como parceiro económico de Portugal”, que “permitirá tornar mais resilientes as trocas comerciais bilaterais”.

Nesse quadro, “a adoção de práticas, empresariais e regulatórias, que propiciem uma maior confiança na iniciativa empresarial, facilitarão o relacionamento com o mercado britânico e tornarão Portugal num destino mais atrativo para o investimento” é outra das recomendações deixadas.

António Saraiva teve ainda oportunidade de se afirmar contra o mais que previsível adiamento ou extensão da saída final do Reino Unido, uma vez que “do ponto de vista das empresas, este adiamento corresponderia a prolongar a incerteza que continua a pesar sobre elas, sendo essencial que fosse, à partida, limitado no tempo”.

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