[weglot_switcher]

Comércio nas cidades está a ser uniformizado para não-residentes, acusam especialistas

“Relativamente ao comércio e à restauração, o que se está a verificar é, sobretudo, o aumento do número de estabelecimentos direcionados para estes novos ‘habitantes’, habitantes de curta duração. Isso faz com que se tenha aumentado o número de restaurantes, bares, cafés […]”, referiu José Alberto Rio Fernandes, especialista em urbanismo comercial.
  • Neil Hall/Reuters
29 Novembro 2019, 17h50

O comércio nas zonas históricas das cidades está a ficar uniformizado e tem como público-alvo os não-residentes, resumindo-se atualmente a restaurantes, bares e cafés, disseram à agência Lusa especialistas em urbanismo comercial.

Segundo explicaram dois especialistas, os centros das cidades estão a direcionar-se para os visitantes, como acontece na Baixa de Lisboa, considerando que “o comércio para os residentes está em vias de extinção”.

“Relativamente ao comércio e à restauração, o que se está a verificar é, sobretudo, o aumento do número de estabelecimentos direcionados para estes novos ‘habitantes’, habitantes de curta duração. Isso faz com que se tenha aumentado o número de restaurantes, bares, cafés […]”, referiu José Alberto Rio Fernandes, especialista em urbanismo comercial.

Dando o exemplo do Porto, o também professor universitário apontou para a tematização da baixa, que se está a tornar monofuncional, em que algumas ruas têm comércio estandardizado.

“Algumas ruas já não têm praticamente mais nada a não ser restaurantes, cafés e hotelaria”, vincou José Alberto Fernandes, acrescentando que as cidades “estão a especializar-se para os visitantes”.

Para o especialista, este fenómeno deve-se a um aumento da mobilidade das pessoas nas cidades com aeroporto.

“Estamos a aumentar o número de viagens. Faz com que as cidades próximas de um bom aeroporto estejam a ter cada vez mais um maior número de pessoas que não são residentes permanentes”, realçou José Alberto Fernandes, considerando que o “mercado imobiliário tem sido muito interessante”.

Sobre os fundos imobiliários, o professor universitário explicou que “o dinheiro vem de muitos sítios”, não sendo “possível identificar a sua origem”, reforçando que alguns estabelecimentos já teriam desaparecido se não fosse o projeto “Comércio com História”.

“Penso que o Governo esteve muito bem a tentar proteger [as lojas], em articulação com os municípios, com um programa nacional. [O programa] tem permitido proteger vários estabelecimentos. Alguns deles já teriam desaparecido se não fosse esta iniciativa [Comércio com História]”, referiu.

Por seu turno, o investigador e especialista em comércio tradicional, João Barreta, alertou que a venda de lojas e de quarteirões a fundos imobiliários “levanta algumas suspeitas”.

“A venda de um quarteirão a um fundo imobiliário urbano, para não ser muito radical, levanta algumas suspeitas porque todos ficamos na expectativa de saber qual vai ser o uso que vai ser dado a um espaço numa zona nobre da cidade”, salientou o especialista.

Segundo João Barreta, os projetos “Comércio com História”, em todo o país, e “Lojas com História”, em Lisboa, não vão ser a salvação do comércio tradicional, uma vez que “estão sujeitas à oferta e à procura”.

“As lojas estão sujeitas à oferta e à procura, seja no seu negócio diário, seja no negócio imobiliário”, atentou o investigador, garantindo que o comércio tradicional não está salvaguardado pelos projetos do Governo e da Câmara Municipal de Lisboa.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.